Carros elétricos já não são mais coisa do futuro. A disrupção está próxima

Por José Orenstein.

A produção de veículos elétricos é cada vez maior em todo o mundo. E indica o caminho de uma revolução: o mercado acelera rumo a uma disrupção, segundo relatório da consultoria financeira Morgan Stanley divulgado em 2016. A partir da observação dos movimentos de grandes empresas automobilísticas, o relatório estima que em 2025 carros elétricos já representem 15% do mercado mundial — três vezes mais do que previsões de crescimento anteriores. Hoje eles são apenas 0,86%. Em janeiro de 2017, 37% dos novos veículos em circulação na Noruega eram movidos a eletricidade. Lá, a frota de carros elétricos, que não emitem gases tóxicos, já soma 100 mil unidades. A expectativa é que, em 2020, eles já sejam 400 mil.

Com uma população de apenas 5 milhões de pessoas, a Noruega é vista como um microcosmo do que pode acontecer no resto do mundo: em 2012, os veículos elétricos representavam apenas 1% da frota do país; hoje, apenas cinco anos depois, já são 5%. Em países como a China, quando se olha os número de vendas, fica evidente também o aumento da produção de veículos elétricos. Em termos relativos, o mercado lá ainda é pequeno. Em termos absolutos, é o maior do mundo: 351 mil carros movidos a energia elétrica foram vendidos no país asiático em 2016. 85% é o aumento de vendas de carros elétricos na China em 2016, em relação ao ano anterior A China também é o principal mercado do mundo para ônibus elétricos: 98% de todas as vendas nessa categoria são feitas no país. Por que o mercado cresce Uma das principais explicações para o incremento da produção e venda de veículos elétricos pelo mundo é o incentivo dado por governos.

Na Noruega, o ministro de Transportes chegou a afirmar, segundo a revista “The Economist”, que é realista pensar no fim completo da venda de carros movidos a combustível fóssil em 2025. Isso porque o país escandinavo põe em prática medidas que beneficiam automóveis elétricos, como a redução ou mesmo isenção de impostos de circulação de mercadorias, além de liberação de pagamento de pedágio, estacionamento sem custo nas cidades e viagens gratuitas nos ferry-boats que atravessam os fiordes noruegueses. Ironicamente, a Noruega é um dos principais produtores de petróleo do mundo e extrai sua riqueza dos combustíveis fósseis. A Alemanha segue rota parecida.

O país aprovou, no fim de 2016, resolução que estipula que até 2030 vai banir a produção e venda de veículos automotores movidos a gasolina e diesel. A forma de alcançar isso é, assim como na Noruega, a redução de impostos e entraves burocráticos para as empresas que produzem os carros elétricos. A medida se alinha com diretivas da União Europeia, que sugerem, sem força de lei, que até 2030 nas estradas do bloco somente veículos elétricos possam circular. Também na União Europeia, segundo o jornal “The Guardian”, até 2019, todas as novas casas construídas precisarão ter um ponto de recarga elétrica. A Índia vai na mesma linha: em 2016, o ministro de Energia do país anunciou que pretende ter uma frota 100% elétrica até 2030. O governo prepara um pacote de incentivos e medidas para chegar ao objetivo. Primeiro o Estado, depois age o mercado Com a concessão de ajudas governamentais, a produção de veículos elétricos acelera pelo mundo. E então o mercado opera: a oferta aumenta e o preço cai, o que torna o produto mais acessível. Empresas aproveitam a oportunidade para desenvolver indústrias mais eficientes e o principal impeditivo da popularização dos automóveis elétricos, o alto custo de produção das baterias, vai sendo contornado. Em uma palestra promovida pela agência de notícias Bloomberg em 2016 sobre energias alternativas, foi apresentado relatório que indica a redução do custo em 80%, entre 2010 e 2018.

A previsão é que, em 2024, o preço de um veículo elétrico seja competitivo com o de um veículo movido a combustível fóssil. Nos Estados Unidos, uma das mais emblemáticas companhias que exploram esse mercado é a Tesla, do midiático empresário Elon Musk. Ele promove lançamentos de produtos cercados de expectativa, como a Apple na época em que o cofundador Steve Jobs estava vivo. FOTO: STEPHEN LAM/REUTERS A VERSÃO MAIS BARATA DE UM CARRO ELÉTRICO DA EMPRESA AMERICANA TESLA CUSTA US$ 60 MIL A empresa já oferece carros, em sua versão mais barata a US$ 60 mil.

Um preço alto, mas não inconcebível para os padrões americanos. A marca oferece como atrativos atributos como a emissão zero de poluentes, o maior rendimento do carro se comparado aos movidos a gasolina, ou menor custo e frequência de abastecimento. Com objetivos ambiciosos e comunicação arrojada — Elon Musk, seu presidente, diz que vai mudar o mundo —, a Tesla apela também ao desejo dos consumidores e já tem seguidores e fãs apaixonados. Brasil em marcha lenta O mercado brasileiro de veículos elétricos ainda é incipiente. No fim do ano passado uma empresa anunciou que vai vender o Tesla por aqui, por R$ 720 mil. Os incentivos do governo ainda são tímidos: São Paulo isenta os veículos elétricos de metade do IPVA. Isso faz com que esses carros não sejam competitivos, tanto para serem fabricados por aqui como para serem importados.

O “carro verde” que mais vende no Brasil é o Prius, da Toyota. É um híbrido, com um motor parcialmente elétrico, mas ainda movido a gasolina. O automóvel custa cerca de R$ 126 mil. Até meados 2016, haviam sido vendidas 783 unidades no país desde seu lançamento, em 2013. Comparado com números internacionais é um desempenho irrisório: representa 0,01% das vendas do Prius no mundo.

Fonte: NEXO.

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