Por Elissandro dos Santos Santana, Denys Henrique Rodrigues Câmara, Heron Duarte de Almeida e Rosana dos Santos Santana.
Em tempos de efervescência midiática nas redes sociais, os seres “humanos” da (in)comunicação e da indiferença vivem sob a égide do exibicionismo da sociedade da decepção em eras do vazio. Em meio à parafernália da cultura do ter para ser, o homo sapiens sapiens “evoluiu” para demens ao ingressar nos domínios da promoção da imagem ao fazer da selfie merchandising imagética da felicidade, do poder, do rosto que se revela sorridente/realizado/empoderado, do auto marketing, do indivíduo/espécie a ser admirado ou aceito.
Não se pode generalizar, para não se cair na vertente das análises simplistas e reducionistas, mas a cultura da selfie, de forma insustentável, se disseminou por várias partes do Planeta, alcançando todas as classes, estratos sociais e intelectuais. É oportuno pontuar que a insustentabilidade não está na selfie de per si, mas, em âmbito amplo, ela resulta da busca por likes, exibicionismo e desejo desenfreado por ampliar os laços de amizades virtuais, provocando a bestialidade do (não)pensar que interfere na dinâmica da teia da vida.
São muitas as notícias em torno da insustentabilidade mental no que tange às selfies não ecológicas pelo mundo. Em vários jornais e revistas desse mês, por exemplo, há relatos/notícias acerca dessas práticas insustentáveis. O Metrópoles, na matéria “Tartaruga fica ferida após ser capturada para tirar selfies”, informou que, segundo oThe Mirror, uma tartaruga marinha ficou machucada após ser retirada do mar para selfies com turistas. Conforme relata o jornal, o caso ocorreu em 14 de junho, na praia de Havana, em Rmeileh, no Líbano. O animal foi resgatado e está sob os cuidados veterinários. O El País Brasil, na matéria “Morte de animais em tempo de “selfies”, trouxe a seguinte discussão: o turismo massivo e a crescente obsessão por parte de turistas do mundo inteiro por tirar selfies com espécies selvagens está se tornando um problema cada vez maior, tanto para o bem-estar dos animais quanto para a sua preservação.” O referido jornal continua o texto mencionando que Giovanni Constantini, da Fundação para Assessoria e Ação em Defesa dos animais (FAADA), resume o impacto causado sobre a fauna pela moda de tirar autorretratos e transmitir na hora pelas redes sociais as experiências turísticas realizadas. Segundo o periódico, estudo científico recente sobre os ursos pardos nos Estados Unidos e outro de três anos atrás sobre as arraias nas Ilhas Cayman mostram como o homem, no afã de observar e até de tocar em animais, acaba por interferir negativamente no comportamento deles.
Os fatos e relatos noticiados nos fazem lembrar Bateson (1980), quando afirmou que existe uma ecologia das ideias danosas, assim como existe uma ecologia das ervas daninhas. Ao retomar o autor mencionado, pode-se pensar o que está por trás de atitudes como a de pessoas que são incapazes do respeito ao espaço dos outros seres, ficando evidente que em torno dessas atitudes orbita um design mental insustentável.
Para prosseguir a discussão em baila, faz-se imprescindível externar que na hodiernidade fala-se muito em sustentabilidade, mas o conceito social em torno desse vocábulo é superficial ou em linhas cognitivas conceituais clássicas. No geral, as concepções que imperam nos imaginários sociais são aquelas tangentes ao marketing empresarial sustentável com vistas à fidelização dos Stakeholders, difundido, muitas vezes, de forma primária, pela mídia a serviço do capital. No máximo, alguns conseguem se libertar desse conceito-propaganda e chegam à noção de sustentabilidade como algo exterior, com relação direta com a preservação da biodiversidade vegetal e animal, sem aprofundamento em torno de como se daria essa tal sustentabilidade ambiental.
O fato é que práticas não ecológicas como as que estão sendo operadas a partir das selfies em vários países precisam ser repensadas, pois elas contribuem para a perda da biodiversidade, quando ocorrem na vertente dos exemplos apresentados. Para mitigar ações insustentáveis em torno dessa prática narcisista em voga na pós-modernidade, faz-se imprescindível o nascimento da Ecologia Mental para uma ecologia da mente.
Somente por meio da Ecologia Mental será possível uma higiene mental em torno da prática das selfies. Acerca da higiene da mente, pode-se recorrer ao que afirma Torán (2014 apud Santana 2016) quando pontua que um ser com higiene mental e, consequentemente, com uma mente ecológica, aceita o desafio de ser consciente das diferentes formações mentais (pensamentos, emoções, imagens e sons mentais, e sensações físicas associadas, que normalmente se cruzam e atuam sem serem reconhecidas, e sem que seja capaz de separá-las em seus diversos componentes). Permanece alerta ante os pensamentos e emoções tóxicas que possam danificar às outras pessoas e a si mesmos. Adquire consciência de que o ego se esconde atrás de todos os conteúdos tóxicos que a própria mente é capaz de gerar e trabalha arduamente para ser consciente disso e não se deixar levar pelas armadilhas. Aceita a oportunidade de responder em vez de reacionar. Ante um estímulo, não se permite responder automaticamente, como se fosse um robô. Torna-se cônscio de que reacionar pode gerar vários danos. Torna-se responsável por responder de uma forma mental e emocionalmente ecológica, com a consciência de que as próprias ações beneficiarão a todos e não somente aos próprios interesses. Assegura-se de que as próprias ações não causarão danos nem a si mesmo nem a ninguém, no presente e no futuro. Aceita a tarefa de trabalhar para o crescimento pessoal, eliminar hábitos negativos e adquirir qualidades que possam beneficiar a todos. Por fim, toma a responsabilidade de dirigir a própria vida, dando-lhe sentido, rumo e valores, criando caminhos que permitam chegar aos objetivos.
A guisa de considerações finais e de reiteração, é possível afirmar que essas práticas narcisistas em torno das selfies são frutos de arquiteturas mentais não sustentáveis. Desta forma, infere-se que a sustentabilidade no planeta só será possível quando houver a sustentabilidade da mente e que na ausência de uma mente sustentável, a sustentabilidade tão sonhada não passará de divagação discursiva. Por último, pode-se colocar que a banalização da vida animal na era das selfies resulta não somente da ausência de políticas educacionais libertárias, mas, também, da banalização do próprio mal, haja vista que na sociedade dos títulos acadêmicos não há a garantia de que todos os seres humanos serão éticos e respeitarão a vida.
Referências bibliográficas
http://brasil.elpais.com/brasil/2016/06/21/ciencia/1466523146_786924.html
BATESON, Gregory. Vers l’êcohgie de l’esprit. Tomo II. Paris, Seuil, 1980.
TORÁN, Félix. Ecologia Mental para Dummies. Barcelona: Grupo Planeta, 2014.
SANTANA, Elissandro dos Santos. Ecologia Mental: uma arma sustentável contra a homofobia e contra a intolerância. Revista Ecodebate, Rio de Janeiro, ISSN 2446-9394,nº 2.547, 14/06/2016.
1 Especialista em sustentabilidade, desenvolvimento e gestão de projetos sociais, especialista em gestão educacional, especialista em linguística e ensino de línguas, especialista em metodologia de ensino de língua espanhola, licenciado em letras, habilitado em línguas estrangeiras modernas, espanhol e membro editorial da Revista Letrando, ISSN 2317-0735.
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2 Especialista em educação de jovens e adultos; especialista em língua portuguesa; licenciado em letras, língua materna e língua inglesa pela Universidade Federal da Bahia. Professor de inglês da Secretaria Estadual de Educação do Estado da Bahia.
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3 Licenciado em história e especialista em história do Brasil
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4 Graduanda do Bacharelado Interdisciplinar em Artes da Universidade Federal do Sul da Bahia.
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Fonte: EcoDebate.
Foto: Modificada a partir do site http://www.metropoles.com/mundo/meio-ambiente-mundo/tartaruga-fica-ferida-apos-ser-capturada-para-tirar-selfies