Liniker teve seu nome inspirado em um jogador inglês, sugestão de um tio. Aos 20 anos, o cantor andrógino ganhou as manchetes ao lançar o clipe Zero, em que aparece de turbante, saia, batom, grandes brincos e salto. Há dois anos ele assumiu o jeito que se sente confortável de se vestir, decidiu levar isso ao seu trabalho. E revela que não sabe se é homem ou mulher: “Sou bicha, sou preta, mas não sei se sou homem ou sou mulher. Eu estou em processo. Estou sendo o que sou. Fazer o quê? Eu sou assim, não tem como fugir de quem eu sou”, declarou ele em entrevista para a Trip TV”.
Homem ou mulher, uma personalidade forte, uma voz potente, uma revelação bem-vinda na MPB. O trabalho lançado no Youtube de forma independente surpreendeu. Ele conta que esperavam 20 mil visualizações e uma divulgação boa para conseguir alguns shows. Mas o vídeo atraiu a atenção de mais de 2 milhões de pessoas e até da mídia internacional. Seu primeiro EP, com três musicas, chamado Cru, do cantor e compositor de Araraquara fez tanto sucesso que ele já tem turnês nacionais e internacionais sendo programadas.
Em casa ele tem tios sambistas e cresceu sob influencia da black music, que é a sua maior influência. Começou a escrever cartas de amor para outros homens quando adolescente mas não tinha coragem de entregar. A música veio em sua vida depois de um trabalho com teatro em que precisou cantar, então descobriu o óbvio para quem escuta seu timbre: sua voz incrível.
Apesar da mãe super para frente, ele contou em entrevista ao El País que a mãe o defendeu na primeira vez que chegou em casa vestido de mulher e um dos tios deu “roupas de homem” para ele vestir. “Por que colocar uma calça jeans e uma camiseta e mostrar meu trabalho só com a voz? Meu corpo é um corpo político”, declarou o artista. Em outra ocasião, ele conta que encontrou um rímel em sua bolsa, deixado em segredo por sua mãe. “Se minha mãe, que tinha me criado, estava tranquila, tudo estava bem”.
A homofobia já se manifestou diversas vezes para ele, mas nunca fisicamente. “Nunca me bateram, graças a Deus. Mas fui muito agredido verbalmente. No metrô, você está tranquila e tem um cara com um celular, tentando disfarçar o fato de que está te fotografando. É muito escroto. Está invadindo o meu espaço. Não faz sentido. Um motoqueiro na rua uma vez falou: “Vou te comer, vem cá!”. Acho que é preciso ser corajoso. Não posso deixar que isso me reprima. Não sou essa pessoa”.
“As pessoas precisam saber que eu sou negro, pobre e gay e posso ter uma potência também. Sou um artista que se expressa assim. Então, se você está aí, se sente reprimido e tem vontade de colocar seus demônios para fora, mostrar quem você realmente é, coloque-se. Esse é um dos meus maiores desejos como artista desta geração”, contou ele para o El País.
Confira o trabalho do artista:
Fonte: Geledes e Revista Ladoa.