Por Fábio Garcia*, para Desacato. info
O ano mal começou e as atividades culturais de matriz africana já dominam o cotidiano dos moradores do Uruguai. No último dia 6 de janeiro, uma verdadeira multidão tomou conta da Rua Isla de las Flores, no tradicional bairro Palermo, centro de Montevidéu para assistir ao desfile das Llamadas de Candombe ou traduzindo em português “Chamadas de Candombe”.
As Llamadas de Candombe são uma prática cultural de matriz afro que mistura dança, percussão e a coroação de reis tão característicos do universo africano e, do contato deste com a liturgia Cristã. Perseguido ao longo dos séculos XVIII e XIX, o Candombe foi aos poucos cativando outros grupos étnicos, sendo, hoje, tocado e dançado por pessoas de todas as cores e classes sociais.
Segundo Dona Helena, integrante da ala Mamá Vieja, do grupo Las Panteras de Bengala, as Llamadas acontecem nesta data em homenagem ao Rei Baltazar. Rei negro que ao lado de Belchior e Gaspar seguiram a Estrela-Guia até o local do nascimento do pequeno Jesus Cristo. Para Dona Helena: “A Llamada que ocorre no dia 6 é uma forma de manifestação mais livre e autêntica da cultura negra do Uruguai. Diferente dos desfiles que ocorrem no período do Carnaval, onde o aparato da mídia acaba padronizando os grupos”.
O evento reuniu mais de quarenta grupos de Candombe, em seis horas de apresentação, animando o povo que se amontoava nas calçadas apreciando não só o show como também os deliciosos Choripanes (pães com linguiça assada na hora), ao lado das “cervejas frias”, vendidas em garrafas de litro e bebidas por todos como long neck.
As Mamás Viejas, as lindas passistas e os percussionistas retornam às ruas nas noites de Carnaval. Se você estiver de viagem marcada para o Uruguai não deixe de conferir esse importante patrimônio da cultura imaterial do Uruguai!
*Fábio Garcia é historiador e conselheiro do Fórum Setorial de Cultura Negra de Florianópolis.