Medicalizando a diversidade

Por Lívia Monte.

Quem nunca assistiu ao clipe Another Brick in the Wall do Pink Floyd?

É óbvio que o mesmo faz uma bela crítica à padronização que o sistema escolar impõe aos alunos. No clipe aparecem crianças uniformizadas ora sentadas em carteiras iguais, ora em fila esperando para serem  moídas por um moedor de carne, enfim, várias padronizações para que elas finalmente se tornem mais um tijolo na parede (another brick in the wall).

Eu e você sabemos que o clipe não é muito diferente da realidade das escolas brasileiras. Podemos começar pelo uniforme, passando pelas carteiras  que são verdadeiros  “Leitos de Procusto”.

Para quem não conhece a antiga história grega, Procusto era um criminoso que oferecia  pousada aos viajantes. Suas vítimas deitavam  em um leito de tamanho único, caso a pessoa fosse alta, Procusto cortava seus pés até que se encaixasse perfeitamente no leito, caso a  pessoa fosse baixa, era usado um  mecanismo para estirar o corpo até que esta ficasse do tamanho perfeito da cama. Acredite qualquer semelhança entre a lenda e as carteiras da sua escola não são mera coincidência!

Voltando ao clipe, os professores mantinham o controle dos alunos mediante humilhações e violência física. Já as escolas brasileiras  utilizam a tecnologia, como a famosa Ritalina conhecida por alguns como a “droga da obediência”. A Ritalina é ministrada em alunos que apresentam  distúrbios de comportamento e dificuldades de aprendizado  e hoje o  Brasil é o segundo maior consumidor mundial do remédio, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.

O que seria a causa de tanto uso de Ritalina?

Para mim diante  de tanta dificuldade de aprendizado, me pergunto se antes do remédio não seria interessante perguntar “Por que a criança não está aprendendo?”, ou melhor, “Que escola estamos oferecendo?”.

Já para a professora do departamento de pediatria da Unicamp, Maria Aparecida Moysés, em entrevista para o Globo News, existe uma grave banalização dos diagnósticos, pois, alguns médicos estão transformando a diversidade das pessoas e da vida em doença. E uma vez transformada em doença,  a criança é colocada como a única culpada pelo fracasso escolar.

Não existem pesquisas que  avaliem o efeito da Ritalina  em crianças e desafio qualquer leitor a me provar o contrário, porém  entre as reações adversas, mais graves,  apontadas pela professora, estão  a psicose, a alucinação, o suicídio e o aumento do risco de drogadição na  fase adulta.

Enfim não quero, com  este artigo,  afirmar que não existem crianças com  problemas de comportamento e dificuldades de aprendizado, no entanto, sem uma avaliação do modelo escolar oferecido, da sociedade na qual estamos inseridos e do respeito que estamos dando ao que é subjetivo de cada um. Vamos continuar a transformar simples diferenças pessoais em doença.

Para terminar esse artigo gostaria de fazer novamente uma alusão a professora Maria Moysés:

—“Eu  jamais daria Ritalina para o meu filho,  talvez Rita Lee!”

 

Imagem: http://www.hybridlava.com/artwork/photography/41-very-meaningful-conceptional-creative-photography/

 

 

 

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