Foto: Antonio Cruz/ Agência Brasil
Por Vinícius Duarte.
O único assunto importante pra mim é o desastre de Mariana-MG. Então vou falar dele até cansar.
Pra você, que acredita na preocupação sincera e na disposição da Vale em reparar os danos causados ao meio ambiente e à população, sugiro que guarde este post-premonição e coteje com o que vai ocorrer daqui em diante pra ver se eu erro muito:
1 – advogados e comunicadores estão agora juntos, naqueles comitês de gerenciamento de crises (que eu chamo de “tapa-merda”). Os primeiros, preocupados com o patrimônio material da empresa; os segundos, com a imagem pública dela.
2 – os comunicadores da Vale/Samarco plantarão releases por todo o canto mostrando ações beneméritas da empresa (mesmo que inócuas). O importante é mostrar que estão trabalhando. Fomentarão iniciativas de solidariedade da população para com as vítimas, procurando desviar o foco para aquilo que Nelson Rodrigues chamou de “solidariedade só no câncer” do brasileiro. Foquem na dor das vítimas, esqueçam os algozes. Histórias de superação e resgates emocionantes serão bem vindas.
3 – Os advogados, junto com técnicos e especialistas especialmente contratados para este fim, procurarão qualquer tipo de “força maior” capaz de elidir ou minimizar a responsabilidade da empresa. Se não acharem nada, montarão as defesas com base nas licenças concedidas pelo poder público, alegando terem feito tudo o que lhes foi exigido e a tragédia só pode ter sido enviada pelo demônio.
4 – As vítimas serão convocadas pelos advogados para negociar o ressarcimento dos danos. Serão chamadas individualmente, e toda iniciativa de organização coletiva das vítimas para a luta pelos seus direitos será dificultada. Advogados espertalhões surgirão, do nada, para “defender” as vítimas.
5 – A Vale estipulará internamente um teto para os gastos totais com indenizações (com bônus aos advogados por economia, claro). Para não ultrapassá-lo, os negociadores vão barganhar, pechinchar, humilhar, pressionar, ameaçar. Serão frios e sujos como a lama da barragem.
6 – Enquanto rola essa “negociação”, a galera da comunicação trabalha pra fazer o caso sumir do noticiário. Vítimas contarão histórias, mas nenhum veículo se interessará em publicá-las, por mais escabrosas que sejam.
7- O MP vai tentando fazer o que pode pra condenar a empresa a uma multa astronômica e obrigações de fazer, mas esbarra no Executivo chorando que “assim vc vai quebrar a Vale, milhões ficarão desempregados, o dano social será maior ainda etc etc.”
8 – A lerdeza do Judiciário vai ajudando a esfriar a coisa. Quando o caso chegar ao final, a Vale, com sua atividade frenética de exploração sem ser obstaculizada, já terá acumulado dinheiro suficiente para pagar 300 vezes o valor a que for condenada. Executivos serão condenados (talvez alguns barnabés da Secretaria do Meio Ambiente). Mas não cumprirão pena, pois a pretensão punitiva estará prescrita.
9 – E não me espantarei se a área onde ficava a ex-comunidade de Bento Rodrigues virar mais uma mina, ou mais uma barragem da Vale.
Fonte: https://www.facebook.com/vinicius.duarte.399/posts/1077044785639755?fref=nf