Tradução para Desacato.info de Elissandro dos Santos Santana.
AFP. Precisamente, direto da maior reserva marinha do mundo, Papahanaumokuakea, no Havaí, difundiu-se o mais recente diagnóstico dos oceanos acerca das mudanças climáticas. As águas do planeta absorveram 93% do calor adicional, resultante do aquecimento global desde a década de 70, limitando as temperaturas que são sentidas na Terra, porém, modificando, radicalmente, o ritmo da vida nos oceanos, informou Dan Laffoley, um dos autores da pesquisa Explicações sobre o aquecimento oceânico.
Os resultados deste estudo foram apresentados no Congresso Mundial da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), que se realizou de primeiro a 10 de setembro no arquipélago estadunidense.
Nesta pesquisa da UICN, participaram 80 cientistas de 12 países. Na publicação, informa-se que a mudança climática está fazendo com que o oceano seja mais afetado do que nunca, incidindo na propagação de doenças entre os animais, os seres humanos e ameaçando a segurança alimentícia global.
O estudo, que leva em consideração todos os ecossistemas marinhos mais importantes, desde os micro-organismos até as baleias brancas, colocou em evidência que diante de fatores como o aquecimento e a acidificação das espécies de medusas, tartarugas, peixes, aves marinhas e plâncton se deslocam até as áreas polares em busca de hábitats mais frios.
Estas migrações por causa clima são “de 1,5 a cinco vezes mais rápidas que qualquer coisa que tenhamos visto sobre a terra”, estimou Laffoley. Porém, nem todas as espécies são capazes de fazê-lo. Isto se evidencia na condição dos corais, que nos últimos 30 anos triplicaram a frequência de seu branqueamento como consequência do aumento da temperatura global. Por sua vez, este ritmo recorde causa uma redução do número de espécies de peixes, privados de seu hábitat natural.
“Quando se tem uma imagem completa, enxerga uma série de consequências globais e inquietantes”, afirmou o especialista. Referia-se, por exemplo, aos impactos que sentem as populações que dependem do oceano para subsistir.
De acordo com a UICN, a pesca, o turismo, a aquicultura, a gestão de riscos costeiros e a segurança alimentícia sofrerão os efeitos do aquecimento oceânico, somado à sobrepesca e ao crescimento demográfico. “Os efeitos sobre a segurança alimentícia serão, provavelmente, piores nos países tropicais e subtropicais”, afirma o relatório.
O relatório de 460 páginas inclui estudos que mostram que o aquecimento global afeta aos sistemas meteorológicos. Por exemplo, de acordo com o estudo, a cada grau que aumenta, sobe a temperatura média do oceano e o número de furacões aumenta em até 30%.
Também inclui evidência de que o aquecimento dos oceanos “provoca um aumento de doenças nas populações vegetais e animais”. Os agentes patógenos como a bactéria da cólera ou a proliferação de algas tóxicas podem causar doenças neurológicas como a ciguatera, uma intoxicação pelo consumo de peixes em áreas tropicais e cujo desenvolvimento é favorecido pelo aquecimento marinho. Trata-se de patologias perigosas para os humanos.
“Devemos diminuir drasticamente os gases de efeito invernador”, estimou Carl Gustaf Lundin, diretor dos programas marinho e polar da UICN: “Não há nenhuma dúvida do fato de que somos a causa de tudo isso. E sabemos quais são as soluções”, afirmou.
A conservação do oceano foi um dos principais temas do Congresso da UICN, onde se havia previsto tomar decisões sobre a necessidade de aumentar a cobertura de áreas marinhas protegidas para a conservação exitosa da biodiversidade marinha e sobre o melhoramento da conservação e o uso sustentável da diversidade biológica em áreas marinhas fora das jurisdições nacionais ou em alto mar.
Tommy Remengesau, presidente de Palau, propôs uma moção ante a Assembleia da UICN para adotar a meta de estabelecer reservas marinhas para proteger totalmente, ao menos 30% dos mares. Isto, após lamentar que, hoje em dia, somente 2% de sua extensão estão protegidas quando os cientistas advertem que deveriam ser pelo menos 30%.
Texto na íntegra em espanhol em El Universo.