Por Flávio Carvalho, para Desacato.info.
“Se te agarro com outro te mato, te mando algumas flores e depois escapo” (Sidney Magal).
“Every breath you take” (Sting, The Police).
“Hoy voy a asesinarte, nena. Te quiero, pero no aguanto más. No me volverás a engañar” (Siniestro Total, grupo de rock espanhol).
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Fuja de Protagonismos. Sai da frente (delas). Eu poderia acrescentar essa frase: “pelo menos no 8 de março”. Mas não é verdade. Assim como o Dia da Mulher não deveria somente um dia, o nosso exercício de desprendimento de privilégios também faz parte de uma longa caminhada. Porém, toda longa caminhada só começa com… Um primeiro passo. Aproveite este dia. E todos os outros.
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Não se escore, não se esconda, não se autodefenda com aquela história de que a culpa não é sua e sim do sistema patriarcal, herdado dos seus antepassados. Não se trata de culpa e sim de responsabilidade. E esta sim é tua, inalienável. No dia que você não precisar botar a culpa no teu bisavô, o teu neto (se um dia você tiver) será melhor pessoa que você – começando por ti.
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Resista. Até no 8 de Março, você que tanto já falou e até acostumou-se a ser bem escutado, precisa lembrar da imensa quantidade de mulheres que nunca desfrutou desse privilégio. Pode ser que você nem tenha percebido que o tinha, como a maioria dos privilégios, mas tem sim. Eu te garanto. Porque eu também fui educado como “homem”. E eu já percebi sim que o tenho.
E em todo esse texto, quando eu falo de ti, na terceira pessoa do singular, eu estou me olhando no espelho. Eu estou (também) escreVIVendo pra mim.
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Uma coisa é perceber as coisas erradas e a outra é fazer algo para mudar, mudando-se. A acomodação te beneficia. Se todo o mundo ficasse parado e não fizesse absolutamente nada, você sairia adiante, sendo beneficiado. A inércia é amiga do teu privilégio. E o teu privilégio só existe porque foi criado para prejudicar (a elas). Pra cada ganho teu, há pelo menos uma mulher perdendo algo. O nome disso é injustiça.
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Vai doer, eu sei. Aliás, se não houver essa “dorzinha” (no teu ego), comparada com a dor das milhares de bruxas queimadas na fogueira da História, não haverá cura efetiva. Ninguém aqui está falando de masoquismo. Mas de que remédio que cura mesmo, é aquele que amarga. Porque senão você vai continuar tomando xarope docinho que (é Placebo) que não serve pra nada. Somente pra te auto enganar. O mundo está cheio de docinho de auto enganação. E esse docinho vicia. Cuidado.
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Chama-se Hipocrisia, a danada da palavra. A que a gente é perfeitamente capaz de ficar mentindo aquela mesma mentira, durante anos, pra gente mesmo. É tão sutil que se esconde nas tuas maiores intimidades. Ninguém mais que você mesmo para saber onde elas se escondem, dentro, sim, de ti. E extirpar.
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Sabe Homem-Feminista? Dá mais prestígio social ainda. Cai bem. E até dá pra seduzir, paquerar, chamar atenção no Instagram. Mas deixa eu te contar uma coisa: não existe. O verdadeiro Homem-Feminista é aquele que jamais se define assim. Porque o que acha que já conseguiu é o que tem exatamente a maior capacidade de enganar a si mesmo. Tenha certeza que a melhor coisa é desconfiar-se de si mesmo. É o que ajuda a querer ser melhor. Porque ser melhor é o que você quer. Né? A não ser que você esteja querendo mentir pra mim. Ou pior. Pra ti mesmo.
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Tá me vendo aqui escrevendo sobre o 8 de março? Estou usando do meu privilégio pra falar contigo (porque a luta contra os machismos não deveria ser uma luta somente das mulheres, e sim, principalmente dos machistas, assumidos ou não) num dia que eu mesmo deveria estar calado. E por isso mesmo, eu calo.
(Mas se você escutou tá escutado! Já não dá pra negar)
Aquele abraço.
@1flaviocarvalho. @quixotemacunaima. Sociólogo e Escritor. Ex-dirigente sindical da CUT e ex Formador da Escola de Formação da CUT no Nordeste. Barcelona, 4 de fevereiro de 2022.
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Valente. E estou muito de acordo. Segue assim, Flávio.