Por Flavio Carvalho, sociólogo e escritor, para Desacato.Info.
Barcelona, 24 de outubro de 2022.
Substitua o conflito pela empatia.
Não diga: “Você está errado”.
Fale, sim: “Eu te conheço e até entendo coisas que você me diz”.
Agora, use o “Mas…”. Pode ser mágico. Vira o voto. Comigo tem dado relativo êxito.
(O “Mas” pode ser usado pro bem e pro mal, como tudo na vida. Os racistas, por exemplo, adoram encher a boca pra dizer, “eu não sou racista, Mas…”.
Substitua (o que a pessoa acha que é) tua arrogância e superioridade moral.
Cuidado! Podes usar, com tuas próprias palavras – claro: “Tu achas que eu quero ser melhor do que tu? Esqueceu que a gente é amigo (ou parente)? Estamos e sempre estivemos na mesma situação; lembras disso?”. Ou até aquela frase de sempre: “Virou milionário, foi?”.
Fale, sim: “Tu me conheces e a gente tá junto, sempre, na mesma, de boas, na paz”.
Agora…! “Mas, pra isso, e até pra continuar amigo, tem coisa na vida que a gente tem de escolher”.
Pressiona a pessoa, porque falta pouco… E não copie essas frases. São só pra tentar te inspirar.
“É mais importante o presidente lá, em Brasília do que eu, aqui?”.
(Se a pessoa prefere Bolsonaro a ti, ainda agradecerás por essa sinceridade, um alívio, um adeus; mas se a pessoa parar pra pensar: já ganhou, você, parabéns!).
Chegou a hora: “É eu ou Ele! Sim. Papo reto. Direto. Sem vacilo. Olho no olho”. Amizade é muito na vida. Mas tem que cuidar. Tem que valorizar. Tem que regar, senão morre mesmo.
Não fique somente no individual. É hora de falar de solidariedade, compaixão, amor ao próximo, sentido de coletividade, fazer o bem sem olhar a quem…
Fale, sim: “Não é nem culpa da gente; mas, domingo, ficar sem votar pode ser um peso na consciência que teríamos que arrastar pelo resto da vida”.
“Imagina uma mãe, nessa hora, e uma criança chorando com fome, sem nem saber quem é Lula ou Bolsonaro. Podia ser Picanha, lembra? Mas é fome, mesmo. Já sentiu fome? Sabe como é aquela vontade ruim na barriga – e não ter nada pra comer? Agora imagina uma criança que nem entende isso, ao ver a outra comer, bem ao seu lado…”.
“Pensa em quem perdeu pai ou mãe com Covid, e na próxima terça-feira de finados, feriado, vai lembrar o que disse o Presidente da República, na Televisão, pra todo mundo ver”.
“Quem comprou imóvel, na crise? Quem perdeu emprego ou vive com um salário mínimo congelado, com os preços todos subindo? Deixou de comprar algo no supermercado, porque teu dinheiro não dava? Teve que devolver do carrinho do supermercado pra prateleira, na hora de pagar? Pois tá todo mundo dizendo que pode ficar ainda pior. E não é na Ucrânia. Ou Venezuela. É Aqui. No bairro, mesmo. Não precisa ir muito longe, não”.
E, por último: ninguém gosta de ter medo. Ajude. Apoie.
“Tu acha que eu também não tenho medo?”. “Eu morro de medo de Bolsonaro, por mais quatro ou muitos anos mais”. Mas o medo nunca pode vencer a esperança.
“Porque tu achas que tanta gente que não gosta de Lula vai votar nele, agora?”. “Tu achas que esse povo também não tem medo, como a gente?”. “Sabe quem é Alckmin, Tebet, FHC?”.
Faça como Lula. Nem precisa gostar dele. Mas, me responde agora: qual outro candidato hoje, no Brasil, teria condições de concorrer (e de Ganhar!) de Bolsonaro? Pois, chegou a hora.
Se segues fazendo o mesmo, como esperas que algo mude? Sai da Bolha. Já!
Não é hora de falar com os mesmos. Escolher alguém entre “os outros”, é algo difícil. Mas é uma tarefa, pra você, que só você mesmo pode fazer. O futuro do nosso país agradece.
Venceremos. Mas, só depende de você. E de mim. Ou melhor: de todos nós.