Por Henrique Rodrigues.
Pelo quarto ano consecutivo, o Ministério da Defesa divulgou uma nota enaltecendo o Golpe Militar de 1964, desfechado em 31 de março daquele ano, e que instaurou a mais brutal ditadura da História do Brasil. O texto, chamado de “Ordem do Dia” no jargão militar, vem na véspera da trágica data que legou ao país 21 anos de escuridão sob um regime de exceção violento que deixou milhares de mortos, desaparecidos e torturados.
Como é praxe desde que Jair Bolsonaro chegou ao poder e trouxe de volta o orgulho desavergonhado dos militares pelos atos pretéritos horrorosos e sinistros levados a cabo por um governo que comprovadamente praticou um sem número de violações aos direitos humanos, novamente a caserna se levanta contra a civilidade e brinda o dia em que a democracia foi triturada e atropelada pelos tanques.
Uma decisão em primeira instância da Justiça Federal, de abril de 2021, havia proibido que qualquer servidor ou membro do governo federal comemorasse a dantesca data, mas um recurso impetrado pela Advocacia-Geral da União (AGU) foi acatado pelo colegiado do TRF-5 um mês depois, pondo fim ao veto. A partir daí, militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica ficaram livres, assim como o séquito bolsonarista civil, para celebrar uma das páginas mais obscuras do Brasil.
“O Movimento de 31 de março de 1964 é um marco histórico da evolução política brasileira, pois refletiu os anseios e as aspirações da população da época. Analisar e compreender um fato ocorrido há mais de meio século, com isenção e honestidade de propósito, requer o aprofundamento sobre o que a sociedade vivenciava naquele momento. A história não pode ser reescrita, em mero ato de revisionismo, sem a devida contextualização. Neste ano, em que celebramos o Bicentenário da Independência, com o lema “Soberania é liberdade!”, somos convidados a recordar feitos e eventos importantes do processo de formação e de emancipação política do Brasil, que levou à afirmação da nossa soberania e à conformação das nossas fronteiras, assim como à posterior adoção do modelo republicano, que consolidou a nacionalidade brasileira”, diz os três primeiros parágrafos da “Ordem do Dia”, num malabarismo constrangedor que tenta dar ares de historicidade para um texto confuso e desonesto intelectualmente.
Reação ao cinismo
O grupo Tortura Nunca Mais, entidade da sociedade civil que defende os direitos humanos e luta contra a impunidade dos agentes do Estado que cometeram e cometem violações contra os cidadãos brasileiros, inclusive aqueles que foram vítimas da Ditadura Militar (1964-1985), divulgou uma mensagem em seu perfil oficial no Twitter reagindo à “Ordem do Dia” do Ministério da Defesa.
“Ministério da Defesa soltou agora noite nota (ordem do dia) relativa ao dia de amanhã que eles equivocadamente consideram como efeméride do Golpe de 1964. Trata-se apenas de mais um comunicado absurdo com a intenção de gerar engajamento e desviar as atenções. O Golpe de 64 ocorreu em 1° de abril, dia da mentira”, diz a postagem da organização.
A íntegra com o texto da comemoração pode ser acessada clicando aqui.
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