
Por Sebastião Costa.
Durante toda a metade do século passado assistimos embevecidos o cigarro passeando com desenvoltura nos lábios de atrizes e atores de Hollywood.
O charme e o glamour daquela prática nociva invadiu a mente da sociedade mundial numa proporção com jeito de unanimidade. O hábito de fumar tornou-se obrigação para quem quisesse se manter na vanguarda. E foi assim que ele, o cigarro reinou absoluto em meio de jovens e adultos sem a mais remota noção de que estavam inalando 7 mil substâncias, parcela importante com enorme potencial de produzir doenças e transferir muitos dependentes às UTIs, aos necrotérios.
Mas eis que de repente nos anos 50, o mundo científico começou a desconfiar daquele mocinho e os estudos subsequentes ratificaram o que já se previa: O mocinho era na verdade o bandido mais mortífero da história da humanidade.
Um impacto sem precedentes no retrospecto impecável da indústria do tabaco.
Mas ela, a indústria, pragmática começou a se reinventar. Introduziu a novidade do filtro, mas descobriu-se que aquela fumaça glamourosa mesmo que filtrada continuava na sua sina de produzir doenças e mortes. Não perdeu a pose e logo em seguida quis enganar o mundo inventando a história do cigarro com baixo teor de nicotina.
Ocorre que um tabagista que inala todo dia a fumaça de 20 de cigarros (mais ou menos 20 mg de nicotina), o próprio organismo dependente vai naturalmente exigir mais cigarros, no objetivo de atingir o nível suficiente para atender suas necessidades nicotínicas. Um engodo sem grandes consequências para as reservas monetárias da indústria do tabaco.
Mas eis que, não muito de repente, no fatídico ano de 2003 o chinês Hon Link inventa de inventar o Cigarro Eletrônico. Muita festa e foguetões no arraial dos ‘produtores de doenças e mortes’.
Foi ali naquele dispositivo que a indústria tabageira enxergou a tábua de salvação para recuperar lucros perdidos com a conscientização da sociedade.
E enxergou também a fragilidade dos jovens para serem atraídos pelo vapor nocivo dos dispositivos eletrônicos para fumar(DEFs). De quebra, investiu bilhões de dólares para jogar na cabeça do mundo a inofensividade e a capacidade do dependente se desvencilhar do cigarro convencional. Pura balela!
DIA MUNDIAL SEM TABACO – ” Desmascarando a indústria do tabaco: expondo as táticas das empresas para tornar os produtos de tabaco e nicotina mais atrativos”.
É o tema que a Organização Mundial de Saúde idealizou para denunciar as perversidades da indústria do tabaco para seguir no seu objetivo macabro de retirar todo ano de nosso convívio 8 milhões de cidadãos ao redor do mundo dependentes da nicotina, uma substância que troca figurinhas com a cocaína no mesmo grupo das drogas psicotrópicas.
Não custa nada lembrar que estudo recente com 51.872 usuários do Cigarro eletrônico/convencional ( Monitoring the Tuture) concluiu que a nicotina joga muitas vezes os jovens nos braços da cannabis e todo o nicotínico dependente tende a consumir o álcool acima dos padrões sociais.
Fica um apelo aos pais de jovens que andam curtindo o CE em suas festinhas de embalo, que é dentro de casa onde deve-se iniciar o trabalho de conscientização dessa galera, que anda enxergando esse hábito como um modismo, sem a mais remota preocupação com as muitas nocividades produzida por aquele vapor cheio de sabores, fragrâncias e belo designer.
Sebastião Costa é pneumologista e Membro da Comissão de Tabagismo da AMB. Apresenta o programa Ar Puro no Portal Desacato e escreve no mesmo portal.
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