Chaplin, um gênio em preto e branco

(Português/Español).

Por Daniela Saidman.*

Sentam-se em uma sala aclimatada, na qual costuma fazer mais frio do que o normal. Numa bandeja de plástico, geralmente vermelha, descansa um enorme copo de refresco e um sacos com tantas pipocas que parecem para toda uma família. Acomodam-se nas poltronas.

Enquanto olham os avanços da próxima estréia, flexionam os joelhos para deixar passar a alguém que peça permissão e finalmente se senta na mesma fila. Quando por fim se apagam as luzes, estouram ante os olhos imagens que quase podem toca-los. O mau e o bom, o beijo de dois apaixonados, uma nave espacial ou uma garota de formas impossíveis estão tão perto como se fossem reais. É o tempo do tridimensional.

Mas a maioria das salas de cinema projetam filmes feitas pelo mercado para vender idéias como quem oferece espelhinhos ou carroças. É a indústria do cinema dizendo-lhes e dizendo-nos o que comer, como nos vestir, como amar, pensar, sentir, como viver afinal de contas. Claro, é possível que mais de um prefira telas menores e menos refresco e salas onde não pode ser ingerida comida, para voar com outros filmes, esses que sabem contar histórias que podem nos fazer pensar.

E ali segue estando ele. O bigodinho pequeno dança-lhe no rosto. Tem uma bengala numa mão e um sombreirinho negro que sempre parece a ponto de cair. Estranho personagem que apesar dos anos corridos sabe nos arrancar o riso, mas não esse que salta da histeria que surge quando alguém se cai na rua, senão o que nasce quando somos capazes de constatar que somos humanos, diminutos ante a história, insignificantes se nos pensamos sozinhos e transcendentes, quando advertimos que somos parte de muitos.

Chaplin, o infinito humorista, presenteou-nos e presenteia-nos, o tempo necessário para pensar-nos mais livres e mais unidos. O que fez possível Tempos modernos, O circo, O grande ditador e Luzes da Ribalta, entre tantos filmes que seguem sendo um espaço propício para o encontro.

Hoje, em pleno século XXI, Charles Chaplin, apesar do silêncio e do branco e preto, ou talvez precisamente por isso, é uma referência do bom cinema. É definitivamente o que nos falta ver, para não comprar espelhinhos de tela grande, senão a utopia realizável de um mundo mais justo.

Provavelmente tudo o que possa ser dito, alguém já o disse. Sobre Chaplin não há muito que contribuir, e, no entanto, é um convite aberto a nos encontrar, a nos contar, a nos sonhar diferentes e sobretudo, a lutar por nossas esperanças.

Nasceu em Londres, a 16 de abril de 1889. Jovem subiu às tabelas teatrais e os “music hall”, mas o salto às salas de cinema deu-se em setembro de 1913. O cômico estava de giro nos Estados Unidos com a companhia teatral de Fred Karno. Foi precisamente nesses anos que nasceu Carlitos, o sem teto vestido de dandy, que nos tem ficado a todos na memória, tanto que às vezes não é possível diferenciar Chaplin de Carlitos. Ambos são libertários e ternos, divertidos e comoventes, são arte e parte de um tempo e de uma história.

Durante sua vida Chaplin foi acusado pelo governo dos Estados Unidos de comunista, que naqueles anos era -e segue sendo- um estigma.

Foi um dos co-fundadores da United Artists em 1919, na qual também participaram Mary Pickford, Douglas Fairbanks e David Griffith. E a partir de 1923 produziu, dirigiu e escreveu com ela oito filmes e atuou em todos menos no primeiro. A partir de Luzes da cidade, também compôs as partituras de seus filmes. Destes anos são Uma mulher de Paris, Em busca do ouro, O circo, Luzes da cidade, Tempos modernos, O grande ditador, Monsieur Verdoux e Luzes da Ribalta. Enquanto na Inglaterra, uma vez negado a permissão de voltar aos Estados Unidos, produziu Um rei em Nova York e A condessa de Hong Kong.

A carreira artística de Chaplin estendeu-se durante sete décadas, e sua vida dedicada a contar desde o humor às misérias humanas e os anseios dos povos, levaram-no a ser nomeado em 1948 ao Nobel da Paz.

Exilado na Suíça desde 1953 devido à perseguição do governo estadunidense, por considerar que sua vida e obra atentavam contra os interesses desse país, Chaplin denunciou em mais de uma oportunidade as guerras e a indústria armamentista, sempre pelo humor, desde a militante ternura que nos chama a ser mais humanos e mais justos.

Faleceu a 25 de dezembro de 1977, aos 88 anos. Mas está ao vivo em Carlitos, nesse vagabundo que em silêncio e em branco e preto, nos convoca a reescrever a história, a amar o mais fundo e o mais livre da humanidade. Chaplin vive e viverá sempre que alguém se atreva a navegar nos claro-escuros em que a palavra emerge da vista, e nas quais nasce a certeza de tudo o que está por dizer.

“Vista de perto, a vida parece uma tragédia; vista de longe, parece uma comédia. Nunca te esqueças de sorrir, porque no dia em que não sorrires será um dia perdido. A vida é uma obra de teatro que não permite ensaios. Por isso, canta, ri, dança, chora e viva cada momento, antes que baixe a tela e a obra termine sem aplausos. Há que ter fé em si mesmo.

“A vida é maravilhosa… se não se lhe tem medo. Sem ter conhecido a miséria, é impossível valorizar o luxo. Mais que maquinaria precisamos de humanidade, e mais que inteligência, amabilidade e cortesia. Fui perseguido e desterrado, mas meu único credo político sempre foi a liberdade”, afirma Chaplin em um das personagens do grande ditador, e assim é.

“Agora mesmo minha voz chega a milhões de seres em todo mundo, a milhões de homens desesperados, mulheres e crianças. Vítimas de um sistema que faz torturar aos homens e encarcerar pessoas inocentes, sentença no discurso que fecha o filme.

“Aos que possam me ouvir, lhes digo: não desespereis. O infortúnio que padecemos não é mais que a passageira cobiça e a amargura de homens que temem seguir o caminho do progresso humano. O ódio dos homens passará. E cairão os ditadores. E o poder que lhe tiraram ao povo, se lhe reintegrará ao povo. E assim, enquanto o homem existir, a liberdade não perecerá”.

ag/ds/cc

*Escritora e jornalista venezuelana. Colaboradora da Prensa Latina

Chaplin, un genio en blanco y negro

Por Daniela Saidman.*

Caracas(PL).-Se sientan en una sala aclimatada, en la que suele hacer más frío de la cuenta. En una bandeja de plástico generalmente roja, descansa un enorme vaso de refresco y un cartón con tantas palomitas de maíz que parecen para toda una familia. Se acomodan en las butacas.

Mientras miran los avances del próximo estreno, flexionan las rodillas para dejar pasar a alguien que pide permiso, y finalmente se sienta en la misma fila. Cuando por fin se apagan las luces, estallan ante los ojos imágenes que casi pueden tocarlos. El malo y el bueno, el beso de dos enamorados, una nave espacial o una chica de formas imposibles están tan cerca como si fueran reales. Es el tiempo de lo tridimensional.

Pero la mayoría de las salas de cine proyectan películas hechas por el mercado para vender ideas como quien ofrece espejitos o carros. Es la industria del cine diciéndoles y diciéndonos qué comer, cómo vestirnos, cómo amar, pensar, sentir, cómo vivir al fin y al cabo. Claro, es posible que más de uno prefiera pantallas más chicas y menos refresco y salas donde no se puede ingerir comida, para volar con otros filmes, esos que saben contar historias que pueden hacernos pensar.

Y allí sigue estando él. El bigotito pequeño le baila en el rostro. Tiene un bastón en una mano y un sombrerito negro que siempre parece a punto de caer. Extraño personaje que a pesar de los años transcurridos sabe arrancarnos la risa, pero no esa que salta de la histeria que surge cuando alguien se cae en la calle, sino la que nace cuando somos capaces de constatar que somos humanos, diminutos ante la historia, insignificantes si nos pensamos solos y trascendentes, cuando advertimos que somos parte de muchos.

Chaplin, el infinito humorista, nos regaló y nos regala, el tiempo necesario para pensarnos más libres y más juntos. El que hizo posible Tiempos modernos, El chicuelo, El gran dictador y Candilejas, entre tantas películas que siguen siendo un espacio propicio para el encuentro.

Hoy, en pleno siglo XXI, Charles Chaplin, a pesar del silencio y del blanco y negro, o tal vez precisamente por eso, es una referencia del buen cine. Es definitivamente lo que nos falta ver, para no comprar espejitos de pantalla grande, sino la utopía realizable de un mundo más justo.

Probablemente todo lo que se pueda decir, alguien lo ha dicho ya. Sobre Chaplin no hay mucho que aportar, y sin embargo es una invitación abierta a encontrarnos, a contarnos, a soñarnos distintos y sobre todo, a luchar por nuestras esperanzas.

Nació en Londres, el 16 de abril de 1889. Joven subió a las tablas teatrales y los “music hall”, pero el salto a las salas de cine lo dio en septiembre de 1913. El cómico estaba de gira en Estados Unidos con la compañía teatral de Fred Karno. Fue precisamente en esos años que nació Charlot, el sin techo vestido de dandy, se nos ha quedado a todos en la memoria, tanto que a veces no es posible diferenciar a Chaplin de Charlot. Ambos son libertarios y tiernos, divertidos y conmovedores, son arte y parte de un tiempo y de una historia.

Durante su vida Chaplin fue acusado por el gobierno de Estados Unidos de comunista, que en aquellos años era -y sigue siendo- un estigma.

Fue uno de los cofundadores de la United Artists en 1919, en la que también participaron Mary Pickford, Douglas Fairbanks y David Griffith. Y a partir de 1923 produjo, dirigió y escribió con ella, ocho películas y actuó en todas menos en la primera. A partir de Luces de la ciudad también compuso las partituras de sus filmes. De estos años son Una mujer de París, La quimera de oro, El circo, Luces de la ciudad, Tiempos modernos, El gran dictador, Monsieur Verdoux y Candilejas. Mientras que en Inglaterra, una vez negado el permiso de volver a Estados Unidos, produjo Un rey en Nueva York y La condesa de Hong Kong.

La carrera artística de Chaplin se extendió durante siete décadas, y su vida dedicada a contar desde el humor las miserias humanas y los anhelos de los pueblos, lo llevaron a serr nominado en 1948 al Nobel de la Paz.

Exiliado en Suiza desde 1953 debido a la persecución del gobierno estadounidense, por considerar que su vida y obra atentaban contra los intereses de ese país, Chaplin denunció en más de una oportunidad las guerras y la industria armamentista, siempre desde el humor, desde la militante ternura que nos llama a ser más humanos y más justos.

Falleció el 25 de diciembre de 1977, a los 88 años. Pero está en vivo en Charlot, en ese vagabundo que en silencio y en blanco y negro, nos convoca a reescribir la historia, a amar lo más hondo y lo más libre de la humanidad. Chaplin vive y vivirá siempre que alguien se atreva a navegar en los claroscuros en que la palabra emerge de la mirada, y en las que nace en la certeza de todo lo que está por decir.

“Mirada de cerca, la vida parece una tragedia; vista de lejos, parece una comedia. Nunca te olvides de sonreír, porque el día en que no sonrías será un día perdido. La vida es una obra de teatro que no permite ensayos. Por eso, canta, ríe, baila, llora y vive cada momento, antes de que baje el telón y la obra termine sin aplausos. Hay que tener fe en uno mismo.

“La vida es maravillosa… si no se le tiene miedo. Sin haber conocido la miseria, es imposible valorar el lujo. Más que maquinaria necesitamos humanidad, y más que in inteligencia, amabilidad y cortesía. Fui perseguido y desterrado, pero mi único credo político siempre fue la libertad”, afirma Chaplin en uno de los personajes de El gran dictador, y así es.

“Ahora mismo mi voz llega a millones de seres en todo el mundo, a millones de hombres desesperados, mujeres y niños. Víctimas de un sistema que hace torturar a los hombres y encarcelar a gentes inocentes, sentencia en el discurso que cierra el filme.

“A los que puedan oírme, les digo: no desesperéis. La desdicha que padecemos no es más que la pasajera codicia y la amargura de hombres que temen seguir el camino del progreso humano. El odio de los hombres pasará. Y caerán los dictadores. Y el poder que le quitaron al pueblo, se le reintegrará al pueblo. Y así, mientras el hombre exista, la libertad no perecerá”.

ag/ds

*Escritora y periodista venezolana. Colaboradora de Prensa Latina

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