Nos meses de outubro e novembro, não faltam materiais que homenageiam um pouco mais de um século do triunfo da Revolução Soviética. Comemorada, principalmente entre os dias 25 de outubro e 11 de novembro, a revolução socialista inspirou filmes, livros, séries, cartazes e outras formas de arte que rememoram a luta de um povo por uma sociedade mais justa e igualitária.
Consequência do acirramento dos conflitos sociais, a Revolução Russa de 1917 explicitava a incapacidade do Governo em distribuir terras aos camponeses e em acabar com a fome, que assolava a população russa. Para o MST, é importante relembrar o movimento principalmente nos campos, quando camponeses passaram a ocupar as terras dos latifundiários. Realizavam assim uma reforma agrária na prática, em que camponeses pretendiam que todas as terras pertencentes à nobreza fossem distribuídas, ampliando esse processo.
O triunfo da Revolução Russa se deu aos sovietes, com conselhos formados por trabalhadores que haviam aparecido pela primeira vez em 1905 e representavam uma forma de democracia direta, exercida pelos trabalhadores. Eles assumiam funções executivas e legislativas excluindo proprietários dos meios de produção. Através desses conselhos, os trabalhadores passaram a gerir e a controlar a produção reivindicando a instituição do controle operário, com o objetivo de transferir o poder econômico para ‘as mãos’ dos trabalhadores.
A divergência entre as datas também é alvo de confusão entre as pessoas sobre a comemoração do triunfo da Revolução Soviética. Isso ocorre porque, na época dos acontecimentos, a Rússia ainda adotava o calendário Juliano, em que o triunfo era marcado no dia 25 de outubro. Já no calendário Gregoriano o dia do triunfo da Revolução é marcado no 7 de novembro.
Mas independente da data exata, é importante ressaltar neste período as muitas homenagens a este processo que foi tão importante na construção de um exemplo de luta e processo revolucionário histórico desenvolvido pela classe trabalhadora russa, além de saberes populares e conceitos que até hoje reverberam na sociedade e, principalmente, no imaginário dos trabalhadores e trabalhadoras no mundo.
Confira abaixo uma lista com filmes e livros que contextualizam alguns fatos que levaram ao fim do czarismo e à tomada do poder pelos comunistas, e que mostram uma nova realidade de luta à classe trabalhadora.
Filmes
1. Outubro
De Sergei Eisenstein (1928)
Sergei Eisenstein é um dos nomes mais importantes do cinema no mundo e, em especial, sobre a Revolução Russa. Um dos títulos mais importantes sobre as revoltas e, provavelmente o maior responsável pela confusão entre as comemorações da data exata, Outubro é um dos filmes que melhor retrata os acontecimentos de outubro de 1917.
2.Vassa
De Gleb Panfilov (1983)
O longa é baseado na peça “Vassa Zheleznova”, que o autor Maksim Gorki escreveu em 1910 e reescreveu em 1936. Dirigido por Gleb Panfilov, o filme “Vassa” (1983) conquistou o prêmio de Melhor Direção no Festival Internacional de Cinema de Moscou. O cineasta dirigiu grandes produções do cinema russo.
3. As Aventuras Extraordinárias de Mr. West no País dos Bolcheviques
De Lev Kuleshov (1924)
Querendo viajar à União Soviética, Mr. West, presidente da ACM, é aconselhado por seus amigos sobre os terríveis perigos do bárbaro país e os “selvagens e loucos russos”. Essa comédia burlesca de Lev Kuleshov fala sobre a visão dos americanos sobre os russos, e é tão atual como em 1924. Baseando-se em filmes americanos, Kuleshov cria sequências maravilhosas com muitas gags delirantes, dignas das melhores comédias americanas desse tipo.
4. Lenin em Outubro
De Mikhail Romm (1937)
Neste clássico de Mikhail Romm, estamos em 1917. A Frota do Báltico e unidades do Exército estão sublevadas contra o governo Kerenski, unindo as vozes às dos operários/as e camponeses/as que exigem paz: a saída da Rússia da guerra mundial. Lenin chega a Petrogrado num trem vindo da Finlândia e na reunião do Comitê Central, de 10 de outubro, derrota as resistências de Zinoviev, Kamenev e Trotsky para deflagrar a insurreição. Paralelamente, as forças contrarrevolucionárias organizam uma caçada para matar o líder dos bolcheviques. Os acontecimentos se precipitam em ritmo veloz até o momento final: sob as bandeiras de “Pão, Paz e Terra!” e “Todo Poder aos Sovietes!”, a Revolução de Outubro triunfa.
5. Cossacos de Kuban
De Ivan Pyryev (1949)
Ambientado nas estepes do rio Kuban, nos primeiros anos do pós-guerra, o filme conta a história de dois Colcozes (cooperativas agrícolas) que competem para ver quem consegue colher mais trigo. Realizado em cores, “Cossacos de Kuban” foi o maior produção musical do cinema soviético da época.
6. Encouraçado Potemkin
De Sergei Eisenstein (1925)
Outro clássico de Eisenstein, excelente e inovador na montagem e estudado até hoje. Considerado um dos mais importantes filmes da história do cinema mudo, assim como, possivelmente, a maior obra de Eisenstein, Encouraçado Potemkin conta a história do navio russo Prince Potemkin durante a revolta de 1905. O filme traz as teorias de arte cinematográficas do cineasta ao mundo numa atmosfera poderosa; sua ênfase na edição/montagem, seu estresse de contato intelectual e, seu tratamento de massa como protagonista, no lugar do individual.
Livros
O livro “A revolução Russa”, de Maurício Tragtenberg, publicado pela primeira vez em 1988, poucos meses antes do desmoronamento da União Soviética (URSS), tem um sentido premonitório – dotado de alta força crítica, percorre os caminhos e descaminhos daquela sociedade, desde a gênese do czarismo, anterior à Revolução de 1917, passando pelos longos, difíceis e tortuosos períodos que configuraram a processualidade russa, até chegar às vésperas de seu definhamento. Escrito em linguagem límpida, mas sem perder a complexidade dos problemas, dada a enorme erudição, da qual Maurício Tragtenberg era uma das nossas mais vivas expressões.
8. As tarefas revolucionárias da juventude
Ao longo da história de luta dos trabalhadores/as por sua emancipação, a questão dos valores que forjarão a nova sociedade é uma das principais preocupações dos dirigentes empenhados na destruição do capitalismo e construção de uma sociedade comunista – isto é, sem classes sociais – que requer o período de transição socialista.
Lenin, revolucionário russo à frente do Partido Bolchevique e da Revolução Russa de 1917, tinha plena clareza de que uma nova sociedade só pode ser construída se estabelecidos novos padrões de relações de produção e de relações sociais. Esse tema se mostrou central para ele sobretudo depois da tomada do poder de Estado em outubro de 1917. O texto proferido por Lenin na primeira sessão do Terceiro Congresso das Juventudes Comunistas, em 1920, é exemplar nesse sentido.
O livro é um documento histórico importante sobre os esforços dos pioneiros da Revolução Russa de 1917 ante a colossal tarefa de recriar o seu sistema educacional. Ele fornece uma série de pistas sobre o papel da escola na formação das crianças e jovens e mostra como ela muda sua forma e seu conteúdo quando orientada pelos interesses e objetivos da classe trabalhadora: ou seja, reorganiza sua atuação para formar lutadores e construtores de uma nova sociedade.
Pistrak foi um dos grandes líderes desta empreitada histórica e nos relata, neste livro, os esforços de um grupo de educadores comprometidos com a recriação da nova escola soviética.
10. Lenin e a Revolução de Outubro – textos no calor da hora (1917-1923)
O estudo crítico deste livro pode ser fundamental para todos aqueles que, também no Brasil, apostam e militam para que se construa um mundo mais justo e emancipado, um mundo diferente daquele que vivemos. A apresentação do livro ficou a cargo de José Paulo Netto.
11. 1917 – o ano que abalou o mundo
No livro, organizado por Ivana Jinkings e Kim Doria, autores como Anita Prestes, Michael Löwy, Domenico Losurdo, Wendy Goldman, Adilson Mendes, Tariq Ali e Arlete Cavaliere analisam em profundidade tópicos como a influência e a herança do movimento no Brasil, as relações entre pensamento filosófico e revolução, a participação das mulheres revolucionárias, o legado da Revolução, o cinema soviético e o teatro russo. Todos os textos são seguidos por fotografias e cartazes de época, que discutem e retratam o legado e o processo da Revolução.
12. A Sombra de outubro – a Revolução Russa e o espectro dos sovietes
Muito se tem debatido acerca da Revolução de 1917, da ascensão e queda do socialismo soviético, do triunfo dos mercados e da adesão dos governos comunistas à lógica capitalista. Porém, o problema de fundo da esquerda em todo o mundo continua a ser o mito bolchevique, a ideia de que a verdadeira Revolução é aquela de outubro, com sua práxis autoritária, e tudo que isso implica ao se fazer dela a medida pela qual todas as ações políticas de mudança têm de ser mensuradas. No livro, Christian Laval e Pierre Dardot debatem sobre qual o significado, hoje, de Outubro?
13. Escritos de Outubro – os intelectuais e a Revolução Russa (1917-1924)
Esta coletânea, organizada por Bruno Barretto Gomide, traz um conjunto significativo dessas vertentes na área da cultura, um mosaico de dissonâncias, composto não apenas dos embates implícitos e explícitos entre os diversos autores, mas das tensões e dificuldades internas enfrentadas por cada um daqueles que vivenciaram e fizeram a Revolução Russa. São textos breves, de uma a doze páginas, produzidos no “calor da hora” ou o mais próximo possível do primeiro momento revolucionário (entre 1917 e 1924).