13, 17 (171) ou Mais de 600 Mil? Sobre a 3ª Via e A Tua Própria Culpa nessa merda toda.

Imagem: Captura de tela Folha de SP.

Por Flávio Carvalho, para Desacato.info.

Seu mal é comentar o passado. Ninguém precisa saber o que houve entre nós Dois. O peixe é pro fundo das Redes. Segredo é pra quatro paredes. Não deixe que males pequeninos venham transtornar os nossos destinos. Primeiro é preciso julgar pra depois condenar. Quando o infortúnio nos bate à porta e o amor nos foge pela janela, a felicidade para nós está morta e não se pode viver sem ela. Para o nosso mal não há remédio, coração. Ninguém tem culpa da nossa desunião.” (Herivelto Martins).

Os Governadores de São Paulo e do Rio Grande do Sul, ex-apoiadores de Bolsonaro admitiram ontem o maior erro político que cometeram nas suas desgraçadas vidas.

  1. Já vão tarde. Jamais serão perdoados. Não adianta dizer que não sabiam quem era Bolsonaro. E o saber quem ele era já dizia muito sobre o que ele seria capaz de fazer. Isso serve para eles e para milhões de brasileiros que se dizem arrependidos. Qual a conta que serão capaz de pagar para reparar todo o desastre humano que aconteceu em consequência da importância do seu voto – e de ainda fazer campanha para um fascista?
  2. Sempre há tempo para pedir perdão. Parar os pés do genocida nazista é mais importante do que tudo. Não dá para esperar as próximas eleições. Abandonem os seus cargos como melhor forma de assumir sua irresponsabilidade política de devastadora dimensão (mais de 600 mil mortos, por exemplo).

  3. Devemos contar com eles para compor a famosa terceira via (nem Lula nem Bolsonaro), pois o mais importante é eliminar a pessoa, Bolsonaro, e não todo o seu governo, que fez alguma coisa boa pelo país: manteve a estabilidade institucional necessária, no meio da Pandemia, que garantiu que algumas grandes empresas seguissem lucrando, mesmo no meio da Sindemia. O problema é Bolsonaro e não o capitalismo nojento, aliado ao pior de todos os perfis de brasileiros que saíram do armário do fascismo: machistas, racistas, homófobos, etc.

  1. Todas as alternativas são válidas. É hora de mudar algumas coisas pra que tudo continue como está.

Eu só aceito a número 1. A primeira opção, entre as quatro que acabei de escrever. Não me venham com conversa mole. Não fazer justiça (e não confundir justiça com mera vingança) é uma desonra contra a memória da mãe-de-família que pode estar entubada neste momento, com dores terríveis, em qualquer cidade do Brasil, provocadas por uma doença que (sim!) poderia ter sido evitada.

– A história mundial já demonstrou: passar pano para os nazistas, perdoar o fascismo, só vai fazer com que a venenosa cobra cresça, o famoso Ovo da Serpente (nazista) dentro da tua própria casa. Que pelo menos a honra de todos os mortos e as infinitas dores dos seus familiares nos sirvam para “aproveitar” a oportunidade de assumir que o Brasil (em geral, como projeto de nação) é um país hipócrita, que nunca teve coragem de assumir a própria carga cultural de nazi-fascismo, e que – agora que Bolsonaro já o permitiu que isso acontecesse – admitir que uma desgraça existe é somente o primeiro passo para acabar com ela, definitivamente. Mentira é mentira. Hipocrisia é a mentira que a gente conta pra gente mesmo.

– O conceito de perdão, associado ao conceito de culpa (judaico-cristão) somente remete à remissão de pecados, no Reino dos Céus. As pessoas merecem não apenas sobreviver na Terra, mas viver plenamente, com dignidade e respeito – e mesmo para milhões de seguidores do Cristianismo que sempre souberam que Bolsonaro nunca os representou. Cada vida importa. Portanto, é perfeitamente compatível não permitir mais nenhum dia de genocídio no nosso país, e Ao Mesmo Tempo construir um futuro de estabilidade política que passa pelas eleições daqui a um ano. Mas, sempre lembrando que eleições não são A Meta. Eleições são somente Um Meio (não esqueçamos que com defeito de fábrica, já absolutamente corrompido, pela desigualdade social da própria lei eleitoral brasileira: que não permite que pobre se eleja sem ajuda de rico interessado em aumentar sua própria riqueza com o dinheiro dos pobres que votam no candidato do rico). É possível, enfim, não abandonar a disputa eleitoral e ao mesmo tempo denunciar que o problema não é a corrupção deste ou daquele político – que deve SEMPRE ser condenada – mas que o principal, desvendou corretamente o sociólogo Jessé Souza, é a corrupção inerente, ontológica, inexorável, inseparável, orgânica, estrutural, que faz parte do DNA do próprio sistema político brasileiro. O dono do jornal que se corrompe – mas que por não ser um crime, não importa que seja uma imoralidade – adora denunciar a ladrona que roubou uma lata de leite para o seu filho faminto, desviando a atenção do problema principal: a corrupção endêmica, sistêmica, perfeitamente legalizada por quem dela se beneficia, e ainda condena o crime famélico.

– Não existe antifascismo (a oposição direta ao fascismo cada vez mais assumido nas ruas do nosso país) que não passe, pelo menos, por estes temas que não são derivados, mas que devem, obrigatoriamente, estar absolutamente incluídos na mesma luta: todo e qualquer antifascista o deve condenar abertamente, Ao Mesmo Tempo que está na hora de revisar o quanto de machista, racista, homófobo e etc. tem dentro de si próprio. Não existe aquilo de “primeiro uma coisa e depois a outra”. Acabou-se isso! E foi justamente por ter passado por cima desse problema (que é um só, um pacote, o mesmo problema, e não vários, mas todos juntos, ao mesmo tempo), que fez com que as esquerdas brasileiras cometessem o equívoco único de pensar que o vírus deste mal também não estava dentro de nossas próprias filas. Pois tão importante quanto identificar em Bolsonaro, o X da questão, é saber o quanto há de Bolsonaro no Governador de São Paulo, na socialdemocracia brasileira, na história da pior desigualdade social do mundo, e na raiz das piores injustiças do nosso gigante país. O X da questão não é o quanto há de fascismo no capitalismo brasileiro. É como eles sempre estiveram de mãos dadas, namorando ou contraindo matrimônio (e divórcios, e novos matrimônios de conveniência). MBL, FHC, PMDB… Não é questão de siglas partidárias! O buraco é mais embaixo.

– Não admitirei entrar naquele jogo sujo e desmemoriado de comparar banana com chiclete. Ler livros foi o mínimo que eu pude fazer na vida pra não comparar nazista com comunista. Será por isso que eles preferem deixar queimar biblioteca e trocar livros por armas? Por isso escrevo o nome de Lula e o de Bolsonaro com inúmeros espaços de distanciamento. Não se comparam, cada qual com suas idiossincrasias. Pois foi achar que tão pouco separava o 13 do 17 que fez com que chegássemos a 600 mil.

E tu? Quanto de culpa você tem nisso tudo?

Não me importa, pois não é de culpa que estou falando.

O nome disso é responsabilidade. E ela é toda tua. Ontem, hoje e sempre.

Viva Jessé.

Aquele abraço.

 

 

 

Flávio Carvalho é sociólogo, escritor e participante da FIBRA e do Coletivo Brasil Catalunya.

@1flaviocarvalho, @quixotemacunaima. Sociólogo e Escritor. 

A opinião do/a autor/a não necessariamente representa a opinião de Desacato.info e é de responsabilidade dele/a.

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