Trocas de ramas, conhecimentos e causos marca o 5º Encontro da Rede Catarinense de Engenhos de Farinha

O Encontro contou com apoio da Prefeitura de Angelina e também do mandato do vereador Marquito (PSOL) para viabilizar o transporte dos/as participantes

Realizado durante a já tradicional Feira da Mandioca de Imbituba, o 5º Encontro da Rede Catarinense de Engenhos de Farinha aconteceu no último domingo, 22 de julho, reunindo famílias engenheiras de Florianópolis, Angelina, Palhoça, Garopaba no engenho da ACORDI (Associação Comunitária Rural de Imbituba), cuja comunidade também participou do evento. Além de desfrutar das belas paisagens, conhecer o histórico de luta da Comunidade Tradicional dos Areais da Ribanceira e saborear o almoço da roça, as/os participantes trocaram sementes, mudas, ramas de mandioca e aipim e claro, muitos causos, experiências e saberes.

Durante o Encontro, o pessoal da Rede também viu uma prévia do vídeo da campanha #EngenhoÉPatrimônio, que reúne história e memórias de quem viveu, trabalhou e brincou nos engenhos de farinha de Santa Catarina. O filme é uma das ferramentas de mobilização de comunidades para o reconhecimento dos engenhos de farinha como Patrimônio Cultural, assim como o documentário Cultura de Engenho, apresentado na noite anterior ao Encontro.

Seu Neim, forneiro oficinal da ACORDI, confere as variedades de mandioca, aipim e macaxeira trazidas pra troca

Mas o ponto alto do Encontro foi a troca de ramas, com 11 variedades de aipim, mandioca e macaxeira de várias localidades – até mesmo da Amazônia – circulando entre dezenas de famílias, além de sementes crioulas de milho. “A troca de ramas acho que é algo tão interessante quanto a troca de ideias. Porque diversifica, enriquece”, avalia a agricultora Catarina Gelsleuchter, que veio de Angelina a Imbituba com outras 14 pessoas para participar do Encontro. Algumas variedades, como a Mandioca Broto Roxo e a Macula, já tinham desaparecido dos Areais da Ribanceira e foram resgatadas com outras famílias agricultoras pela agrônoma-agricultora Marlene  Borges, associada da ACORDI. “A perda do território também foi responsável por uma erosão genética”, explica Marlene, referindo-se ao despejo de famílias da comunidade por empresas privadas, que com a conivência do governo do Estado, “compraram” as terras tradicionalmente ocupadas há 200 anos pelas famílias. Entre 2010 e 2016, de acordo com Marlene, as variedades de mandioca e aipim no território tradicional dos Areais caiu de 45 para 5. “Essa troca então foi muito legal, minha coleção vai aumentar. E o importante é distribuir as ramas  pra outras pessoas, pra não se perder”, afirma.

Marlene Borges, da ACORDI, fala sobre o histórico de luta e resistência dos Areais da Ribanceira

A participação das famílias engenheiras de outros municípios no maior evento da ACORDI, a Feira da Mandioca, fortalece a luta da comunidade. “Foi um encontro muito bonito, foi além das minhas expectativas. Não pensei que tantas pessoas prestigiassem a Feira da Mandioca, vi muitas pessoas interessadas”, conta Catarina ao participar pela primeira vez da Feira, que neste ano chegou a reunir cerca de 3 mil pessoas nos três dias de programação. No mês passado, a Feira da Mandioca recebeu o Prêmio Boas Práticas em Sistemas Agrícolas Tradicionais, concedido pelo  Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em parceria com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a Embrapa e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO/ONU). A premiação financeira, no valor de R$ 70 mil reais, será usada para terminar a construção do Engenho da ACORDI, que desde 2010 simboliza a luta e a resistência desta comunidade tradicional na defesa de seu território. “Mas esse valor é pequeno perto do que foi o reconhecimento nacional e inclusive do potencial que temos para fazer o registro mundial deste sistema, conforme nos disseram”, conta Marlene. “Estar no mesmo patamar de pessoas como as quebradeiras de coco, com todo seu histórico de luta, foi louvável”, completa. A ACORDI ficou em 4º lugar na premiação do BNDES/IPHAN/FAO, que também laureou outros 2 sistemas agrícolas tradicionais de Santa Catarina: a Roça de Toco (Biguaçu) e a Cadeia Produtiva do Pinhão (Planalto Serrano). Todas estas iniciativas pretendem se encontrar em agosto deste ano para planejar uma articulação das comunidades tradicionais catarinenses.

A agricultora Rosa Nascimento, de Palhoça, levou 2 variedades de aipim e 1 de mandioca para plantar na sua comunidade, as Três Barras

Pelo lado dos Engenhos, as atividades da Rede seguem no próximo sábado, 28 de julho, com a oficina MAPEANDO ENGENHOS DE FARINHA, no Salão Comunitário do Sertão do Peri, mais uma ação contemplada no Prêmio Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura.

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