Em nota pública, a ANJ reafirmou que a iniciativa conjunta, em diferentes locais do Paraná, tem o claro objetivo de intimidar, retaliar e constranger o livre exercício do jornalismo. Também considerou como lastimável “que juízes se utilizem de forma abusiva da Justiça, não com o intuito de reparar danos, mas de limitar o direito dos cidadãos a serem livremente informados”. No comunicado, a entidade disse esperar que o próprio Poder Judiciário corrija essa distorção e assegure ao jornal, aos seus repórteres e aos seus leitores o pleno direito à informação, garantido pela Constituição.
O caso assemelha-se à enxurrada de ações contra a Folha de S.Paulo, em 2008, quando a então repórter especial Elvira Lobato foi processada por dezenas de fiéis da Igreja Universal por uma reportagem sobre o patrimônio da organização. Na época, lembrou o diretor executivo da ANJ, foi usada uma expressão que caracterizava bem a intenção dos demandantes daqueles processos e que pode ser aplicada no caso que, agora, envolve o jornal A Gazeta do Povo: litigância de má-fé. Os processos contra o diário A Gazeta do Povo e seus jornalistas foram abertos em diferentes cidades paranaenses no Juizado Especial, que aceita causas de pequeno valor (até 40 salários-mínimos) e obriga os profissionais a comparecerem a todos as audiências de conciliação para não serem condenados à revelia. A reportagem que motivou as ações mostrou que o rendimento médio de juízes e integrantes do Ministério Público no Paraná, em 2015, superou o teto constitucional (de R$ 30.471,10) em mais de 20%.
Como reação, os juízes já ingressaram com 36 ações e os promotores, com duas, contra o jornal e os profissionais. Numa mensagem enviada para o grupo de WhatsApp da Associação dos Magistrados do Paraná (Amapar), o presidente da entidade, Frederico Mendes Junior, diz, logo após a publicação da reportagem, que está “providenciando um modelo de ação individual” para os associados irem à Justiça se considerarem “conveniente”. Segundo o diretor de redação de A Gazeta do Povo, Leonardo Mendes Júnior, as ações são “idênticas”. “Na prática, eles (os profissionais) já estão condenados com a pena de não conseguir exercer a profissão”, disse o diretor do jornal. Os jornalistas ficam até quatro dias da semana sem trabalhar para irem às audiências. “Já percorremos mais de 6 mil quilômetros pelo estado, às vezes saindo correndo de uma cidade para dar tempo de dormir no meio do caminho e chegar na outra audiência no dia seguinte a tempo de não sermos julgados à revelia”, contou Rogério Galindo, um dos alvos das ações.
O jornal ingressou no Supremo Tribunal Federal com pedido para que o caso seja julgado na Corte, já que as ações são apreciadas por juízes citados na reportagem, o que configuraria conflito de interesse. A ministra Rosa Weber negou o pedido. Em nota, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) também repudiou a retaliação.
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Fonte: ANJ.