Repsol pretendia vender petrolífera argentina aos chineses

Esquerda.net.- Segundo o Financial Times, a Repsol estava em negociações para a venda da petrolífera argentina à companhia chinesa Sinopec, e todas as conversações foram feitas pelas costas do governo argentino, que teria uma palavra final sobre a operação. A nacionalização anunciada por Cristina Kirchner abortou o negócio que podia render 7,7 mil milhões de euros.

O presidente da Repsol deu uma coletiva de imprensa em Madrid onde estimou o valor da empresa YPF em torno dos 14 bilhões de euros e confirmou contatos com potenciais compradores. A Repsol agora diz que vai exigir a Buenos Aires cerca de 8 bilhões de euros, depois de ver expropriada a quase totalidade das suas ações na empresa YPF, correspondentes a 51% do capital. A imprensa espanhola, como a edição online do Publico.es, diz que o interesse chinês na YPF não é novo e que empresas como a Petrochina e a CNOOC já tinham tentado adquiri-la em 2009.

Quanto ao pedido de indenização, a resposta surgiu pronta por parte do Governo de Buenos Aires, com o vice-ministro da Economia, Alex Kicillof, ao dizer que “iremos determinar ao certo quanto vale a YPF, mas não vamos pagar o que nos estão a pedir”. Kicillof sublinhou ainda que a Repsol arrecadou “lucros extraordinariamente grandes” e que “ninguém pode dizer que estamos tirando algo que lhes pertence”. Já o ministro que vai ficar responsável pela intervenção na empresa nacionalizada faz outras contas e diz que os governadores das províncias onde a YPF atua “também têm muitas reclamações a fazer”.

Segundo o diáro espanhol El País, Julio de Vido mostrou aos jornalistas algumas fotografias enviadas pelo governador de Mendoza de atentados ambientais cometidos pela empresa. “Terá de pagar por isto, porque o meio ambiente e o território dos argentinos não se rifa, tem um preço, tal como o preço que Brufau [presidente da Repsol] calcula que tem a sua empresa”, ameaçou o ministro. “Vamos ser absolutamente inflexíveis. Vamos liquidar província a província cada um dos danos ambientais causados pelas fugas nos oleodutos e tanques”, para além de calcular a dívida total da YPF à volta de 6,8 bilhões de euros.

Para o Governo argentino, houve uma “quebra permanente da eficácia na produção” e Julio de Vido diz mesmo que “estão-nos a tirar a produção que hoje importamos. São dólares que saem do país e que não se podem investir em hospitais, casas ou redes elétricas”.

Tal como as condenações vindas de Madrid, Bruxelas e Londres, também chegou a Buenos Aires a solidariedade com a decisão da presidente Kirchner. José Mujica, presidente do Uruguai, disse que a expropriação da Repsol é um ato soberano e que não lhe agrada “a prepotência da Europa rica”.

Os vizinhos brasileiros estão preocupados com os investimentos da Petrobras na Argentina, mas o ministro da Energia Edison Lobão já disse aos senadores que a nacionalização foi “um ato de soberania”. Segundo o diário argentino Clarin, o ministro Julio de Vido irá esta quinta-feira ao Rio de Janeiro para tranquilizar a presidente da Petrobras e acertar novos investimentos. Em cima da mesa estará também o cancelamento da concessão de gás natural pelo governador de Neuquén, que argumentou que a Petrobras não fez o investimento planeado para aumentar a produção.

Para um analista consultado pelo Financial Times, a Repsol não deverá ter grande sorte no processo que dará entrada nos tribunais. “Neste momento, a Argentina já tem mais litígios pendentes no Centro Internacional do Banco Mundial para Arbitragem de Disputas sobre Investimentos do que qualquer outro país”, afirmou Peter Hutton, da RBC Capital Markets, recordando os casos ainda à espera de decisão final desde 2001, quando o país cancelou boa parte da sua dívida.

Desde que foi anunciada a expropriação, as ações da Repsol registaram perdas na bolsa de Madrid: na segunda-feira quase alcançaram os 18 euros por ação e ao meio-dia desta quinta-feira eram transacionadas por 16 euros.

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