Reflexões sobre as eleições de 2020. Por Jean Carlos Carlesso.

Jean Carlesso

Hoje estou voltando a escrever esta coluna após ter me afastado para concorrer a uma vaga na Câmara Municipal de São Miguel do Oeste-SC.

Essa eleição foi um teste para o sistema eleitoral brasileiro e nos demonstrou que a nossa democracia ainda funciona, pois mesmo após alguns pequenos problemas nos sistemas informatizados do Tribunal Superior Eleitoral e um atraso de algumas horas, tivemos o resultado final divulgado em todos os municípios do Brasil sem maiores suspeitas de fraude no sistema de votação, demonstrando, para o mundo, que o Brasil está muito a frente de países como os Estados Unidos da América na eficiência do sistema eleitoral.

Já politicamente falando, essa eleição confirmou três verdades que antes do dia 15 de novembro se mostravam como as mais plausíveis.

A primeira, e a mais importante, é de que o povo brasileiro está acordando do pesadelo bolsonarista. As consequências econômicas, sociais e ambientais do governo de Jair Bolsonaro foram percebidas pela maioria do povo brasileiro, que viu que foi enganado por promessas vazias de resolução da crise econômica, que ainda assola o pais, e de moralização da política institucional.

Após quase 2 anos no palácio do planalto, Bolsonaro gasta mais tempo tentando proteger seus filhos, das investigações promovidas pela Polícia Federal e o Ministério Público Federal, do que em resolver os verdadeiros problemas do povo brasileiro. Também não perde tempo em “passar a boiada” e desmantelar a coisa pública e de deixar a terra arrasada com a política de desmatamento encabeçada por Ricardo Salles.

Por este motivo vejo que o maior defeito da democracia também é a sua maior virtude! Qualquer um pode exercer o poder, mas também ninguém permanece nele para sempre!

As eleições municipais desse ano marcaram a primeira grande derrota eleitoral do bolsonarismo. Dos 78 candidatos do Brasil que estampavam o nome Bolsonaro, somente 1 se elegeu, o seu filho Carlos Bolsonaro, que fez 1/3 a menos de votos do que a eleição de 2016. Dos 13 candidatos que fez campanha (ilicitamente, diga-se de passagem, pois o fez no exercício do cargo de presidente da república), somente 2 se elegeram, 2 vão para o segundo turno e 9 foram derrotados, fazendo-se destaque para o candidato à prefeito da maior cidade do Brasil – São Paulo – Celso Russumano, que Despencou da 1ª posição nas pesquisas eleitoras para se contentar com apenas o 4º lugar, abrindo espaço para a grande esperança da esquerda Guilherme Boulos do PSOL.

A segunda verdade que se confirmou é que essas eleições foram o marco da grande virada na democracia.

2020 marcou o ano com mais candidatas mulheres, sendo que em todas as capitais tiveram mulheres eleitas, com maior destaque para Porto Alegre que teve uma candidata do PSOL como a vereadora mais votada, e uma bancada de quase 1/3 de mulheres. Ainda, não podemos esquecer que Manuela D’Ávila irá disputar o segundo turno na capital gaúcha.

Outro marco, também, foi o aumento de representatividade entre os negros e LGBTQIA+. Esse marco é representado pela eleição de Erika Hilton (PSOL), primeira vereadora negra e Trans da capital Paulista, sendo a 6ª mais votada com mais de 50 mil votos.

Por fim, a terceira verdade foi que os dois partidos que dividiram os antagonismos políticos em 2016 sofreram as maiores derrotas eleitorais, o Partido dos Trabalhadores e o Partido da Social Democracia Brasileira.

Essa derrota do PT representou a oxigenação de uma nova esquerda, que está sendo capitaneada pelo PDT, PSB e o PSOL. Dessa crise se espera surgir uma nova esquerda que honre os ideais próprios desse movimento.

Porém, o mais preocupante é ver o fortalecimento de partidos de direita como o DEM, PP, PSD e Republicanos, que juntos conquistaram quase seiscentas prefeituras a mais que 2016, representando o controle atual de mais de mil e novecentos municípios do país.

Mas essa notícia não é tão triste, pois quem não aprende com a teoria aprende com a prática! As consequências do governo de extrema-direita de Bolsonaro fizeram com que o povo deslocasse o pêndulo do poder um pouco para a esquerda. Ainda está na direita, mas não tenho dúvida que a continuação da prática de políticas neoliberais promovidas pelos partidos antes mencionados levará o povo brasileiro ao limite da resistência, e isso resultará numa inevitável vitória da esquerda em 2022 e 2024. Se você não acredita, bom, espere e veja!

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Jean Carlos Carlesso é Advogado, de São Miguel do Oeste/SC. Formado em direito pela Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC – e especialista em direito penal e processo penal pela Faculdade de Direito Damásio de Jesus.

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