“Que o Desacato nos desacate.” Por Julia Vendramini

 

Imagem: captura de tela

Por Julia Vendramini, para Desacato.info

Demorou para eu compreender como estão conectados o jornalismo e a pedagogia. Afinal, a maior parte da informação jornalística que chega à classe trabalhadora se constitui em deseducação, visto que promove o falseamento da realidade. É evidente que a Grande Mídia forma opiniões, mas o faz encoberta pelo viés de imparcialidade. Opiniões que vem de cima para baixo, com uma ideologia opressora que me recuso a chamar de educação. Como disse Michel Croz na nossa primeira Mesa Redonda comemorativa dos 13 anos do Portal, sobre o papel educativo da comunicação independente, a qual me inspirou a escrever este texto, “nem toda educação é educativa, nem toda comunicação comunica e nem toda independência é libertadora”.

Na introdução de Rosangela Bion de Assis, outra frase me chamou a atenção: “aos dominantes só interessa a manipulação, aos comunicadores e jornalistas da comunicação independente, só interessa a verdade”. Somos muitos os jornalistas, comunicadores sociais, poetas, cozinheiros, professores, artistas, sindicalistas, trabalhadores e estudantes que compõem a rede de solidariedade que se tornou o Desacato. Como nos disse Evania Reich, “toda comunicação tem um lugar”, e eu adiciono que toda comunicação é dirigida a alguém. Nosso lugar e o que nos une é a nossa classe, os que foram desautorizados a falar pela mídia do poder, e o nosso jornalismo é feito para ela, com compromisso com a verdade e a aprendizagem.

Na Mesa de sexta-feira (28) juntaram-se oito colunistas e colaboradores do Desacato, muitos que sequer se conheciam, e ficou evidente a dedicação com o trabalho educativo e a pluralidade entre eles. A maioria acadêmicos, alguns que ansiavam ter um lugar, como disse Evania Reich, para “colocar no âmbito público o discurso acadêmico”. No Desacato, eles realizam quadros como Saúde Coletiva do Douglas Kovaleski, com uma visão diferente e ampla do campo da saúde; Crimes Neoliberais com o José Álvaro que a cada semana nos dá mais motivos para lutar contra este governo; Luiza Damboriarena que nos mostra as curiosidades fronteiriças entre o Brasil e o Uruguai, afinal jornalismo também é cultura e a política está em cada história e tema escolhido no Relatos de Fronteira; Panelas Solidárias com Verônica Loss, onde a alimentação é política, pedagógica e histórica; Desacatando Livros com o dramaturgo e escritor Michel Croz; os debates sociólogos do Instigantes com Rita Coitinho; a reflexão política do Jean Carlesso e da Elenira Vilela; e a reflexão filosófica de Evania Reich. Nós do Desacato aprendemos diariamente com cada um dos colunistas e colaboradores e eles com a gente, com os leitores, e até com o próprio ato de realizar os seus programas, desafiando-se a cada semana.

Para que serve um conhecimento se não é compartilhado com a sociedade? Se não sai do seu espaço elitizado? Citando a Rita Coitinho que nos trouxe os pensamentos de Gramsci, “a educação não está apenas nas escolas e universidades”. Esta é integral, permeia o trabalho e toda a vida do trabalhador. Trabalhador que também é filósofo, que deve ter acesso às ideias, informações, debates e reflexões de sua classe. Obviamente, o Desacato não vai atingir a todas as pessoas, nem sozinho promoverá a consciência de classe, mas pode espalhar as vozes oprimidas e provocar questionamentos e debates acerca da realidade.

Cada um se aproximou da nossa cooperativa de forma orgânica, única, e encontrou um espaço para expor o seu trabalho. A maioria está aqui muito antes de mim. A relação jornalista/fonte, jornalista/colunista e jornalista/leitor que aqui temos está longe do que se conhece massivamente nas Grandes Mídias. Construímos um espaço de respeito, aprendizado e amizade.

Estamos conseguindo educar, ser libertadores e comunicar? Contra as mídias de massa e oligopólios, promovemos filosofia, cultura, saúde e até receitas, pois, como disse Verônica Loss, tudo é político. Assim, aprendemos e ensinamos, considerando a importância das fronteiras, das periferias e das questões do cotidiano. Também entendendo que pouco sabemos e que por vezes erramos. Não há uma fórmula única nem verdades absolutas, mas penso que ao escutar o outro e dar espaço aos trabalhadores, estamos no caminho certo. Que Desacato, como também disse Michel Croz, “nos desacate, nos faça pensar no que não foi pensado”, e que nós desacatemos a ideologia burguesa que nos é imposta e eduquemos juntos a nós mesmos e à sociedade.

#Desacato13Anos                                       #AOutraInformação

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