Próximo da eleição, massacre contra sem-teto em SP pode mobilizar eleitor conservador

Santa Ifigenia

Policial prende sem-teto na região da Santa Ifigênia, centro de São Paulo: defesa do patrimônio privado. Foto: Folhapress

São Paulo – A ação violenta da Polícia Militar de São Paulo contra a ocupação de um hotel abandonado na avenida São João, região central da capital paulista, na manhã de hoje (16), não é novidade: a orientação do governo de Geraldo Alckmin, em consonância com seus antecessores José Serra e Mario Covas (todos do PSDB), é pelo cumprimento “legalista e firme” de ordens judiciais, independentemente do impacto humano ou dos interesses econômicos envolvidos.

Foi no segundo ano da gestão atual de Alckmin, em 2012, que ocorreu um dos casos mais simbólicos da relação violenta entre forças de segurança pública e movimentos de moradia, em São José dos Campos, no interior paulista. O desmonte da comunidade do Pinheirinho, onde viviam até 9 mil famílias, rendeu 600 processos de abusos contra a PM, entre acusações de confisco ilegal de pertences de ativistas, espancamentos e até estupro. Na capital, houve desocupações pacíficas, como a do Portal do Povo, no Morumbi, em março deste ano, mas, mesmo nesses casos, a intimidação ainda é a tática central contra militantes.

O momento atual, porém, tem algo de diferente: a 19 dias do primeiro turno das eleições estaduais, o episódio violento no centro da capital, que remonta aos piores momentos da repressão policial contra protestos de rua desde junho de 2013, pode ser decisivo para confirmar, ou não, a reeleição do governador Alckmin. “Tudo depende de como será a repercussão, nas redes sociais e na mídia tradicional, do conflito no centro”, aponta a cientista política Maria do Socorro Souza Braga, da Universidade Federal de São Carlos. “As redes sociais tendem a politizar e aprofundar mais o debate sobre esse tipo de ação da polícia. Mas o alcance é menor. Teremos de ver como a mídia tradicional, que ainda atinge um público maior, tratará o assunto”, ponderou.

Alckmin foi convidado de hoje do SPTV, jornal do horário do almoço da Rede Globo, como candidato à reeleição, mas não foi questionado sobre o assunto. O Jornal Hoje, que começou na sequência, destacou “cenário de guerra e terror” no centro de São Paulo, e classificou como “baderneiros e vândalos” os sem-teto que protestaram contra a polícia. “O eleitorado paulistano é mais conservador, ele, de forma geral, gosta desse tipo de política pública para a segurança, porque é uma política agressiva de proteção da propriedade”, aponta Maria do Socorro. “Então, se a imagem que aparece na TV é apenas de gente tentando abrir lojas, depredando prédios, as pessoas tendem a apoiar a polícia”, reflete.

O perfil conservador do eleitorado paulista se reflete nas candidaturas a governador: Alckmin e o PSDB lançaram site específico apenas para falar de segurança pública, onde destacam a campanha do governador pelo “endurecimento das leis” e a favor da redução da maioridade penal. Na TV, o tucano já apresentou projetos para cobrir todo o estado com um sistema público-privado de câmeras de segurança, e apresentou os “batalhões antiterrorismo” criados para atender a 101 municípios como “a Rota do interior”, em menção às Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, criadas pelo ex-governador Paulo Maluf (PP) e notórias pela abordagem sempre violenta e pelas denúncias de extermínio contra a juventude negra e pobre na periferia paulistana.

Paulo Skaf (PMDB), segundo colocado nas pesquisas de intenção de voto, não fica por menos: tem como coordenadores de seu programa de governo para a área da segurança pública o ex-governador Luiz Antônio Fleury, que autorizou o massacre de 111 detentos no presídio do Carandiru, no início da década de 1990, e Antônio Ferreira Pinto, que foi secretário de Administração Penitenciária e de Segurança Pública no próprio governo Alckmin. Pinto é conhecido pela resistência que encontra junto aos trabalhadores da Polícia Civil, já que, como secretário, sempre privilegiou a Polícia Militar e o policiamento repressivo como política de segurança pública.

Mesmo Alexandre Padilha (PT), distante ideologicamente de Skaf e Alckmin, assumiu argumentos mais conservadores para dialogar com o público paulista, e prometeu ações de impacto para “acabar com o PCC”, embora tenha denunciado, em debates diretos contra os adversários, o “genocídio” cometido por policiais nas periferias.

Fonte: RBA

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