Protocolo de Pesquisa para identificação da Bactéria pró-mortis sp

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Por Clair Castilhos.

Gravitam em nossa sociedade alguns tipos extravagantes autonomeados de grupos “pró-vida”. Se dizem fiscais “da moral e dos bons costumes”, mas, na realidade, são seres infectados com espécies endêmicas da Bactéria pró-mortis sp. Eles se manifestam quando pressentem a existência de outros seres vivos diferentes deles. Muitas vezes esses “diferentes” são apenas pessoas não convencionais, indóceis à ordem patriarcal e heteronormativa.

A Bactéria pró-mortis sp é difícil de identificar. Elas se transmutam a cada momento. São tóxicas e dissimuladas. A bibliografia consultada informa que existem cistos delas localizadas no Congresso Nacional, no poder judiciário e principalmente em locais de espetáculos religiosos. Mas, o problema é que no dia a dia, quando estão fora dos receptáculos específicos esses microrganismos são custosos de reconhecer. Assim sendo é necessário estabelecer métodos de prevenção para evitar o contato com estes predadores. Já é comprovado que eles parasitam a vida privada dos seres comuns que habitam nosso planeta.

Estudos epidemiológicos conseguiram descrever a história natural e os meios para identificar tão nocivo agente etiológico. O principal intento é romper a cadeia de transmissão. Na etapa descritiva do método já é possível evidenciar várias características. Com base nestas foi elaborado pelos (as) pesquisadores (as) o presente protocolo, ainda em fase experimental. O mesmo deve ser testado para futuramente compor a norma técnica específica. São seres mutantes. Até agora foram descritos três tipos materializados em nove sinais básicos:

1)      Aparência (mutante 1) – a maioria são homens brancos, adultos, usando ternos escuros, portando bíblias maceradas nas mãos, caspas sobre os ombros, olhar esgazeado, faces de “caso urgente”. Em geral ficam histéricos quando visualizam ateus, feministas, negros, gays, transexuais, lésbicas, comunistas ou similares.

2)      Aparência (mutante 2) – também aparecem na forma de homens brancos, adultos que usam longos vestidos pretos, mantos cor púrpura e sapatos vermelhos da marca Prada. As reações são semelhantes ao do mutante 1.

3)      Aparência (mutante 3) – esta variável não tem estrutura morfológica, aparece na forma de ectoplasmas uivantes que se localizam no interior de copos emborcados sobre mesas cercadas de novos hospedeiros que os fazem girar.

4)      Comunicação – a cada segundo costumam gritar o “santo nome em vão”, vociferar ameaças de fogo eterno, maledicências e pragas contra as mulheres, frases decoradas da bíblia que são utilizadas em qualquer situação (aplicável ou não) e de cada três palavras pronunciadas uma é “aleluia”. Também se comunicam com indulgências e excomunhões e a expressão “amém”.

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5)      Sustentabilidade – para cada serviço prestado (ensino de “gospel-sertanejo”, promessa de melhoria de vida aos pobres, garantias de trazer cônjuges de volta para casa, curso de moda fashion para a mulher virtuosa, ungida ou beata etc.) cobram dízimos que posteriormente mandam para Miami através de bispas eleitas especificamente para tal missão.

6)      Sexualidade – é muito incipiente, mas quando exercitada em geral o é em cerimônias de pedofilia; chutes em imagens de santas, estupros de beatas e crentes; sedução de freiras; crises orgásticas em sessões de descarrego; masturbação intensiva quando vislumbram fogos infernais com imagens de mulheres seminuas, gays e travestis.

7)      Missão terrena – enriquecer, enriquecer e enriquecer. Perseguir, invadir e poluir a vida privada das pessoas. Fortalecer a “Opus Dei”, disseminar a palavra “abortista” em todos os cantos do planeta. Transformar os cidadãos e cidadãs em pessoas herméticas, com a mente cristalizada de crendices e preconceitos. Alastrar o ódio, fantasiado de “purgação dos pecados”, transformar cada amigo (a), cada vizinho (a), cada munícipe, em delator (a) daqueles que contrariam as pseudo normas santas.

8)      Missão Institucional – Impedir que os serviços públicos de saúde prestem assistência à saúde da mulher.

9)      Pensamento abstrato – Em toda discussão, sobre qualquer assunto, mesmo que não seja sobre direitos sexuais e/ou reprodutivos, invariavelmente reduzem-na a “coisas de feministas abortistas”.

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Como este é apenas um protocolo de pesquisa, ainda experimental, estamos colhendo as diferentes cognições sobre os elementos de identificação da Bactéria pró-mortis sp. Coloque a(s) sua(s) contribuição(ões) na linha pontilhada. Não é necessário identificar-se.

Muito Obrigada!!

 * Feminista, farmacêutica-bioquímica, sanitarista, e professora aposentada da Universidade Federal de Santa Catarina e secretaria da Rede Feminista de Saúde.

 

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