Projecto Tumbuctu – Biblioteca Pública da Plataforma Gueto

novo-logo-plataformaguetoAo contrario do que nos tenta passar o discurso eurocêntrico e mono-histórico, que retrata África como um lugar sem escrita e como tal sem historia, nós temos um longa e linda historia. Alem das maravilhosas tradições orais que só devemos preservar e divulgar, temos também um história escrita que não foram os europeus que puseram no papel. Desde há cinco séculos que Europa tenta reescrever a história de África a partir do seu espelho e da sua noção de desenvolvimento, tudo isto para justificar a sua exploração. Nos últimos dois séculos então multiplicaram-se os escritos racistas que mascarados de ciência.

Cabe-nos “exumar” a nossa história e escurecer irmãos e irmãs sobre o grande contributo dos povos africanos e das nossas civilizações para o mundo.

Tombuctu, do império de Songhay no Mali, foi um dos maiores centros de conhecimento do mundo e ainda hoje se continuam a descobrir livros de lá que revelam o grande saber astrológico, matemático, geográfico, teológico, literário de África antes do colonialismo e que foi inclusive amplamente aprendido e usado na Europa.

Assim o projecto Tombuctu quer emprestar todos os livros pessoais dos membros da Plataforma Gueto a pessoas da nossa comunidade que queiram usufruir desses livros para aprenderem e para que discutamos, cada vez mais amplamente, a nossa historia e actualidade e lutemos por um futuro de auto-determinação onde falemos em voz própria.

A grande maioria dos livros difundidos nas escolas e universidades e outras instituições tornam invisível o nosso contributo, mas existem vários livros de políticos, historiadores, poetas, romancistas, guerreiros, africanos e africanas que te podem devolver um orgulho no teu passado e um sentido para o teu futuro.

“Até que os leões possam contar a sua história a caça glorificará sempre o caçador” – Provérbio africano.

No Sec XVI, Tombuctu, contava com uma população de 25.000 habitantes, com ricos comerciantes e numerosos artesãos.

O geógrafo árabe Leão, O Africano, escreve que se vendiam aí numerosos manuscritos árabes vindos de África do Norte, e que o comercio dos livros era muito prospero. Contavam com 150 a 180 escolas do Corão.

A mesquita de Sancoré recebia os mais celebres e constituía uma verdadeira universidade. Aqui se ensinava a teologia, o direito corânico, a literatura árabe, a história, a geografia, as matemáticas e a astronomia.

Foi aqui que foram escritos, nos séculos XVI e XVII, os dois primeiros grandes livros históricos redigidos por Sudaneses, que transcreveram em árabe as tradições relativas aos estados negros (Ghana, Mali, etc.): O Tarikh-el-Fettach e o Tarikh-es-Sudão.

História da Guiné e Ilhas de Cabo Verde, PAIGC 1974

De todas as cidades de Songhai, Tombuctu foi a mais importante sob o domínio de Aksia, o Grande, e dos seus sucessores…Tombuctu transformou-se no seu centro comercial e intelectual. As suas escolas de teologia, leis, história, ou outros estudos tornaram-se conhecidas em todo o mundo muçulmano (onde se inclui Andaluz – O sul de Portugal e Espanha). Eruditos de terras distantes chegavam para ensinar e para aprender. Nos finais do século XV estas escolas formavam um grupo de “faculdades” como as universidades de Oxford e Paris nos primeiros tempos.

Muitos dos escritores e professores renomeados da África Ocidental, cujos nomes ainda são lembrados e cujos livros ainda são estudados, viveram e ensinaram em Tombuctu.

À Descoberta do Passado de África, Basil Davidson, 1978

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