O humanismo de Fidel a partir do pensamento de Ortiz Amaró

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Por Elissandro dos Santos Santana, Porto Seguro, para Desacato.info.

No Brasil, a grande mídia, tradicional e conservadora, comprometida com os valores imperialistas estadunidenses, de forma irresponsável e maldosa, há anos pinta um quadro semiótico deturpado acerca de Fidel e de Cuba. Esta semiologia imagético-discursiva precisa ser desconstruída, com urgência, pois o Brasil necessita descortinar o verdadeiro Fidel, o revolucionário, o humanista, aquele que mesmo isolado pelas potências geopolíticas capitalistas, ao longo de anos, conseguiu desenvolver políticas públicas de educação e de saúde para toda a nação cubana, além de outras questões sociais humanitárias.

Diante da necessidade de desconstruir as pinceladas discursivas do jornalismo opinativo brasileiro que desumanizou e demonizou Fidel em nosso país, faz-se imprescindível recorrer à “Outra informação”, uma que não esteja vinculada aos interesses do capital, para a percepção de que nosso jornalismo tradicional mente/desinforma, talvez, por medo de que a verdadeira Cuba se mostre como alternativa para outro mundo, justo socialmente para todos e não somente para os donos do poder capital.

Na parafernália midiática tradicional da (des)informação, a mass media do Brasil imprimiu as inversões de sentidos em todos os campos que são contrários à arquitetura neoliberal. Em meio a tudo isso, o povo brasileiro que só se (des)informa pelos conglomerados comunicacionais a serviço do poderio capitalista dos EUA e de suas crias capitais na Europa Ocidental, Oceania e Ásia, em meio aos telejornais criadores das ficções dos fatos, se perde entre as semânticas fatuais e ficcionais da informação, não conseguindo discernir entre o fato  jornalístico e a estória jornalística.

Foi diante desse arcabouço de confusão que a mídia conservadora implantou e suplantou nos imaginários o ódio a Cuba, à Venezuela, à Bolívia e a qualquer representação contrária ao viés capital do universo político-econômico estadunidense ou eurocêntrico ocidental.

A desumanização de líderes latino-americanos revolucionários pela grande mídia tradicional se revela a partir, por exemplo, das cognições sociais afetadas pela lavagem discursiva desses conglomerados midiáticos apoiadores e fomentadores da dependência brasileira aos mandos e desmandos do norte que reproduzem o “Vai para Cuba” ou “O Brasil não é uma Venezuela” em todos os eventos gourmets tramontinizados das sacadas dos edifícios de Classe média e A dos bairros “quase-nobres” e nobres das principais cidades brasileiras.

Para descosturar os desejos dessa classe média reacionária, que vive entre o eterno medo de retorno à pobreza e o desejo incontrolável de ocupar a posição de poder das elites, também reacionárias, e quem lucra, de fato, com a dependência do Brasil em relação às potências neoliberais imperialistas, é preciso apresentar ao restante do país uma pensadora que nos ajuda a descontruir esses imaginários midiáticos deturpados acerca de Fidel – Sonia Matilde Ortiz Amaró. A referida autora não fala de mídia, mas nos apresenta o Fidel humanista que a maior parte do Brasil não conhece.

Talvez, a partir do pensamento dessa pesquisadora, muitos brasileiros conheçam o lado de Fidel que a mídia conservadora, de forma maldosa e cretina, nos esconde e, pior, reverte, negativa, a partir de conceitos deturpados acerca do que seria comunismo e guerrilha.

Para apresentar o humanismo do grande líder cubano, ela fundamentou a discussão em torno do humanismo de Fidel a partir de historicidades e correntes teóricas marxistas e leninistas, bem como de noções acerca de Martí.

No capítulo “Pensamento Humanista de Fidel Castro Ruz: um critério sobre sua periodização”, ela apresenta algo que é fundamental para que o leitor entenda quem foi e o que representa Fidel. Conforme a autora, a defesa do homem em Fidel Castro Ruz foi transitando de um humanismo filantrópico ante o panorama social e familiar que viveu em sua infância e juventude, a um humanismo prático direcionado à luta pela vida humana desde a validade irrefutável que para ele alcançam tanto o compromisso histórico ante as metas coletivas como o respeito à individualidade das pessoas. Daí que se fale nele a partir da ideia do homem como processo histórico que foi ascendendo, de maneira lógica, desde o sensorial perceptível até o racional.

Como fora externado, a pensadora, para nos apresentar esse humanismo de Fidel, traz à tona noções na perspectiva marxista, leninista e de Martí, pois sem tais elementos não é possível compreender o humanismo do revolucionário cubano. Acerca da importância de Martí para a humanização de Fidel, ela apresenta o seguinte: entre as bases fundamentais deste humanismo se localizam o ideário martiano e a teoria marxista e leninista. No caso de Martí, o método histórico-político de conhecimento social lhe permitiu construir uma concepção transcendente sobre o lugar e papel do homem como sujeito da história, do progresso sociocultural e das transformações revolucionárias. De seu legado, se alimentou Fidel Castro, quem, como outros cubanos do século XX, visualizaram a utilidade de seus postulados para a conquista da mudança social que requeria Cuba, nação latino-americana em condições do domínio imperialista.

Quando Sonia Matilde Ortiz Amaró recorre aos pensadores que alicerçaram o pensamento de Fidel em torno da concepção de homem, do humano, ela o faz para mostrar que o humanismo, por meio da visão marxista e leninista, constitui a antítese da alienação, pois pressupõe aquela reflexão, e a práxis que deriva dela, dirigida a engrandecer a atividade humana, a fazê-la cada vez mais qualitativamente superior enquanto contribui para que o homem domine, em melhor medida, suas condições de vida e se faça mais culto.

Para a referida autora, na concepção do marxismo e do leninismo, o humanismo constitui a base fundamental de sua concepção e projeção ética e política. Tudo quanto exige a transformação revolucionária supõe dar primazia ao bem-estar humano, à sua dignidade e ao reconhecimento de seus direitos. Esta teoria, a martiana, interpreta o relacionado com o homem desde uma perspectiva revolucionária, segundo a lógica de que humanismo é revolucionário quando em sua essência encerra a luta por um mundo de justiça e de equidade, quando suas pautas ideológicas são desalienadoras, emancipatórias e entregam a transformação necessária às potencialidades e criatividades humanas.

Com base no que a pesquisadora pontua acima, diante do fato de que em Fidel são encontradas todas essas características, pode-se afirmar que o humanismo revolucionário caracteriza esse líder cubano como um ser que, em essência, lutou e segue lutando pela vida humana, tanto no âmbito social como no individual, a partir de uma atitude de inconformidade diante das práticas que limitam a qualidade da vida e da existência da sociedade cubana.

Ainda segundo a pesquisadora, de Fidel Castro o humanismo cobrou particulares e elevadas dimensões teóricas e práticas. Foi um processo que transitou como produto ao acionar do objetivo, do filantrópico, baseado em sua particular sensibilidade e sua concepção do Outro – onde não há ainda uma concepção ética nem política sustentável – à condição de Enfoque de sua concepção humanista. Nesta subida do sensorial perceptível à elaboração teórica, a inquietude em torno ao humano tornou móvel o seu espírito de rebeldia e, com ele, o trânsito em busca das respostas mais elaboradas para sua concepção e práticas éticas e políticas, bem como jurídica.

Como considerações finais, com vistas a consubstanciar ainda mais a discussão, em torno do humanismo de Fidel, apoiar-me-ei no que o jornal Carta Maior afirmou acerca de Fidel a partir do jornalista e cientista político espanhol Ignacio Ramonet ‘Fidel é um homem martiano’ “Sempre atento, austero, com uma rica vida política. Ele se comporta como imagina que deveria ter feito José Martí (líder independentista cubano)”.

Enfim, por tudo o que fora mencionado, desejo que nós brasileiros acordemos para as armadilhas de sentidos nas quais a grande mídia tradicional quer nos colocar, sempre desconstruindo aqueles que podem fazer a revolução e melhorar o mundo, como Fidel, e construindo a semântica do herói no opressor estadunidense, um país que todos sabem, em sua fé bélica distante do Cristo bíblico, é uma nação beligerante e dizimadora de povos, sempre justificando as intervenções como um chamado ao combate ao terrorismo fundamentalista, mas que, na verdade, é desculpa para o saque das riquezas de países ao redor do mundo inteiro. Por tudo isso, caros/as leitores/as, convido-os a que reflitamos, por fim, no que afirma Sonia Matilde acerca do humanismo de Fidel: o sentido humanista dele se caracteriza pela permanente convocação à reflexão profunda e à transformação revolucionária dos fatores subjetivos e objetivos para conquistar o aperfeiçoamento humano. Daí que o humanismo revolucionário que o caracteriza existe e funciona como espécie de núcleo reitor ao redor e em torno ao qual interagem os princípios fundamentais da ideologia da Revolução Cubana, assim como os valores universais entre os que alcançam uma dimensão global da justiça social. Esta, por seu turno, mobiliza a condição patriótica e, com ela, no caso de Cuba e de Fidel, ao anticolonialismo, ao antineocolonialismo, ao antianexionismo, ao antirracismo e, com acentuação, ao anti-imperialismo. Fidel Castro se transformou em referência global do humanismo revolucionário por sua visão estratégica e, também, pela forma com que projetou atenção aos problemas da prática e da consciência cotidianas, em consonância com o sentido da vida e da vida espiritual do homem, pelo valor referente às individualidades no marco de uma ordem social global alienadora e elitista.

Referências utilizadas para a construção do texto:

http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/Ramonet-Fidel-e-um-homem-martiano-/6/35411

O capítulo “Pensamiento Humanista de Fidel Castro Ruz: un criterio sobre su periodización”, de Sonia Matilde Ortiz Amaró, do livro “El pensamiento crítico de nuestra América y los desafíos del siglo XXI. Tomo I, de Camilo Valqui Cachi et al. (orgs).

Imagem: TeleSUR.

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