Muito além do cidadão Collor

Por Carlos Henrique Pianta.

Vale a pena dar uma lida e refletir a respeito.

Todos sabem que em 1989 Roberto Marinho foi personagem principal dos rumos que aquelas eleições tomaram e consequentemente os rumos da política no país. No entanto, a edição do famoso debate do segundo turno não foi a principal intervenção de Marinho.

Naquele ano, o então governador de Alagoas, Fernando Collor de Melo, se reuniu com o presidente do Vox Populi, Marcos Coimbra, que o garantiu que se saísse a candidato á presidência iria ao segundo turno, a menos que o apresentador Silvio Santos concorresse, já que disputariam uma fatia importante do eleitorado. Collor então tomou a decisão de que não sairia candidato à presidência se Santos o fizesse.

Sílvio Santos era, além de apresentador, dono do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), por tanto, concorrente de Marinho. Não era interessante ao presidente da Globo que o presidente do Brasil não estivesse sob sua tutela, o que desde o surgimento da Rede Globo de televisão, nunca havia acontecido. Para aumentar a problemática, Sílvio estava muito bem nas pesquisas, empatado com Mário Covas do PSDB, em quarto, atrás apenas de Lula (PT), Collor (PRN) e Brizola (PDT). O apresentador era pré-candidato pelo PFL e concorria internamente com o então Ministro de Minas e Energia, Aureliano Chaves, co-fundador do partido e vice-presidente de Figueiredo. Começou aí a grande corrida de Roberto Marinho para impedir a candidatura de Santos.

Muito influente dentro do PFL, Marinho contava com o apoio de Antônio Carlos Magalhães, seu amigo, líder do PFL baiano e Ministro das Comunicações do governo Sarney. A dupla começou a perseguir a chapa encabeçada por Silvio Santos, que tinha como vice Marcondes Gadelha, líder do PFL no Senado e muito próximo ao presidente da República e era coordenada por Edison Lobão, senador do partido e Ministro de Minas e Energia do Governo Lula.

Roberto Marinho foi, então, ao encontro do presidente Sarney e o pressionou, pois muitas pessoas próximas ao presidente apoiavam Silvio Santos e a família de Sarney era proprietária da TV Mirante, retransmissora da Globo no Maranhão. É bom lembrar que Lobão era ligado à TV Difusora, parceira do SBT também no Maranhão.

Para a candidatura de Silvio sair, Aureliano precisava desistir, o Ministro ia muito mal nas pesquisas (terminou a eleição com 0,9% dos votos). Aureliano, sustentado por Marinho e Magalhães não desistiu, isso fechou as portas para Silvio e Gadelha no PFL. Com pouco tempo hábil para uma campanha a dupla correu atrás de novas siglas para a candidatura, mas marinho havia fechado muito bem as portas para eles. Faltando duas semanas para as eleições Silvio Santos conseguiu um partido, o PMB, com a desistência do evangélico Amaro Corrêa. Todavia, com a falta de tempo, o apresentador teve de gravar oito programas em duas horas, além de ter que ensinar os eleitores a votarem, já que não havia tempo de retirar o nome de Corrêa das cédulas. Dizia a propaganda que quem assinasse na cédula o nome de Corrêa estaria votando em Silvio Santos. Essa ousada tentativa foi por água a baixo, quando o Supremo Tribunal Eleitoral (STE) impugnou a candidatura de Santos, por não ter realizado o número mínimo de convenções para a escolha do candidato.

Aí termina a saga de Silvio Santos pela candidatura à presidência do Brasil. Mas eu pergunto, caso Silvio Santos sai para candidato pelo PFL? Teria condições de disputar a presidência, principalmente com a manutenção de Collor como governador e não candidato. E se Collor, que era ligado também a uma emissora filial à Globo e tinha um carisma muito forte na época, não sai candidato, teriam quatro fortes candidatos à presidência, Lula, Brizola, Covas e Silvio Santos, Qual seria o candidato da Globo? É bom lembrar que Covas tinha um programa mais condizente com o do PT, do que com o do PFL na época (e só na época), tanto que apoiou Lula no segundo turno. Quem Comporia com Lula o Segundo turno? Teríamos a possibilidade de BrizolaxLula no segundo turno, uma revolução eleitoral no Brasil. Já que Silvio Santos desistiu da vida eleitoral por essa tentativa fracassada, ele poderia ter seguido com essas pretensões mesmo não sendo eleito presidente, já que muito provavelmente faria excelente votação, figurando entre os quatro primeiros da corrida eleitoral. Poderia, por exemplo, pleitear o governo de São Paulo, o que faria a Globo, se Silvio Santos fosse governador do maior estado do Brasil? Teria o PSDB de covas montado nas costas do PFL e construído a maior aliança privatista do país? Teria o PT apodrecido ao ponto de hoje?

Além das milhões de incertezas uma certeza nós teríamos, muita coisa do futuro da política eleitoral e da política de comunicação no Brasil seria diferente.

O que acham que teria acontecido se Roberto Marinho não tivesse intervido dessa forma e aí sim, mudado todo o rumo daquelas eleições.

Foto: http://www.tribunahoje.com

 

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