Ministros do STF avaliam envolvimento de Bolsonaro em atos golpistas

Se houve participação do presidente ou de seu círculo familiar na organização dos atos, dificilmente a Polícia Federal não conseguirá desvendá-la

Bolsonaro compareceu a atos que defendiam a volta do AI-5 e faziam ataques às instituições (Foto: Captura de tela)

Ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) acreditam que a investigação sobre protestos antidemocráticos pode chegar a Jair Bolsonaro ou a pessoas de seu círculo íntimo, ainda que o procurador-geral da República, Augusto Aras, não tenha pedido inquérito contra ele. Conforme magistrados ouvidos pela Folha de S.Paulo, se houve participação do presidente ou de seu círculo familiar na organização dos atos, dificilmente a Polícia Federal não conseguirá desvendá-la.

Colunista do jornal paulista, Igor Gielow afirma que “a diferença desse para outros episódios é a reação”, expressa no inquérito aberto no STF. “Incitação a crime não se confunde com liberdade de expressão, ao menos ainda”, ironiza o jornalista. “Se o nome de Bolsonaro não está citado, é óbvio que a gravidade a ser determinada da manifestação poderá se tornar um instrumento jurídico e político contra o presidente. Para animar mais os teóricos da conspiração do bolsonarismo, Alexandre de Moraes foi sorteado para cuidar do caso”.

Outro ponto fora da curva, nessa cartada, é a própria iniciativa de Augusto Aras. Segundo Gielow, o procurador-geral da República “vinha sendo visto como um escudeiro fiel de Bolsonaro no Ministério Público. Agora, disparou uma sucessão de eventos imprevisíveis com seu pedido de apuração do ato. Ainda que não traga inicialmente o nome do mandatário máximo, o procedimento acabar se esvaindo ou acabar por ferir de morte uma Presidência combalida mais à frente”.

Vera Magalhães, no Estadão, também diz que o inquérito no STF aponta uma reação mais firme à impostura de Bolsonaro. “É nesse inquérito que está o fio da meada que pode levar a que o novo já comece adiantado. Procuradores e ministros têm informações de que empresários que financiaram os ataques de 2019 às instituições também estão à frente das manifestações realizadas domingo e incentivadas por Bolsonaro”, escreve a jornalista.

Segundo Vera, “ninguém arrisca dizer se o presidente será levado ao epicentro da investigação, mas deputados de sua base deixaram digitais nas convocações dos protestos, e, pelo fato de a investigação ser conduzida pelo STF, podem, sim, ser indiciados. Eles vão tentar evocar, é claro, a imunidade parlamentar que lhes resguarda o direito a opinião, mas juristas lembram que atentar contra a democracia e a independência dos Poderes, resguardada pela Constituição, é crime tipificado e não conduta coberta pela imunidade”.

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