MBL ataca a arte contemporânea usando do senso comum e imaginário do medo

A arte, a educação e a política estão sendo tratados com um discurso conservador por setores da direita, como o Movimento Brasil Livre. Após conseguir cancelar uma exposição de obras de arte no QueerMuseu, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, o MBL agora atira na performance do artista fluminense Wagner Schwartz, que participava da mostra 35º Panorama da Arte Brasileira, no Museu de Arte Moderna, em São Paulo, na última terça-feira, 26. 
Em coluna no Mídia Ninja, Ivana Bentes, que foi secretária de Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura e é professora, curadora e pesquisadora acadêmica  na área de comunicação e cultura da Escola de Comunicação da UFRJ, escreve sobre o assunto.

O homem do Pau Brasil

O MBL está se especializando em produzir escândalos em cima do senso comum e de um imaginário do medo. Medo de estupro, medo de pedofilia, medo da nudez, medo do corpo de um homem nu! E encontrou um filão: a arte contemporânea, em que as obras que tratam ou expõe nudez, problematizam a vergonha e a negação do corpo, rompem com o senso comum e fazem avançar nossa percepção. Um campo incrível que tem obras disruptivas e tem toda uma história.

Basta TIRAR DO CONTEXTO que a imagem de uma criança agachada tocando a canela de um homem nu deitado, estático, em estado de paumolescência, sem nenhum tipo de conotação sexual, é considerado um ato de violação dos direitos das crianças e adolescentes e um incentivo a pedofilia.

A mãe, que estava presente na performance, e incentivou a criança de 5 anos a tocar a canela do performer é considerada irresponsável, deveria “perder a guarda” da criança e a obra, apresentada no MAM (Museu de Arte de São Paulo) punida, censurada, impedida de ser realizada.

Os Museus, os Centros Culturais, os espaços de exposição são frequentados por pessoas que estão dispostas a se expor as provocações e problematizações de obras e autores. Não são IGREJAS, não são lugares ‘privados”, são espaços públicos que tem uma FUNÇÃO e um propósito.

Obviamente que mesmo a arte e os museus e espaços culturais tem que estar atentos aos totens e tabus dos grupos sociais. Indicar, como fazem, a presença de nudez ou de cenas que podem constranger as pessoas sensíveis e a família brasileira (que Nelson Rodrigues tão bem descreveu, na sua loucura hipócrita)

Mas a cruzada patética do MBL CONTRA a arte contemporânea é uma guerrilha de marketing que na história da arte e do mundo já foi derrotada e faz tempo. Voltar a censura, alimentar tabus, é uma campanha obscurantista que não dá para em hipótese nenhuma relativizar.

E mães contemporâneas não têm medo de naturalizar a nudez masculina diante das crianças. Os estupros e violações começam DENTRO DE CASA, geralmente nas casas das famílias que bradam a favor da moral e dos bons costumes, que reprimem e censuram a nudez e a sexualidade. Mães e pais que tomam banho com seus filhos, que se expõem e expõem os corpos nus das crianças com naturalidade e que naturalizam a sexualidade não criam estupradores e obcecados com sexo.

É comum ver homens e mulheres parcialmente ou totalmente nus, tomando sol nos jardins, parques europeus. Ninguém se incomoda com os corpos nus expostos. No Brasil seria atentado ao pudor?

Em nota divulgada, o MAM destaca que a criança estava acompanhada da mãe e que a sala onde ocorria a performance estava “sinalizada sobre o teor da apresentação, incluindo a nudez artística”. O museu também sublinha que o trabalho, entitulado “La Bête”, não tem qualquer conteúdo erótico.

Criança não pode tocar o corpo de um homem nu? Criança não pode pegar no peitão da mãe? O corpo DESSEXUALIZADO existe!

Fonte: Midianinja

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