Homenagem a Manoel Aleixo, desaparecido político, militante das Ligas camponesas e do PCR II

Edval Nunes (Cajá)

PAIXÃO E MORTE

O ano de 1973 foi de cerco aos comunistas revolucionários. Seqüestraram Manoel Aleixo e o assassinaram sob as mais selvagens torturas, a lancinante dor foi dilacerando seu corpo e sua alma até morrer, sem que uma só informação fosse dada a seus torturadores. Como provamos esta fé suprema no Partido? Havia um ponto marcado com o companheiro Valmir da direção do Partido no interior da igreja da cidade de Ribeirão(PE) no dia 06 de setembro, às 10hs; a direção do Partido decidiu que a cobertura do ponto fosse feita por mim, e, na hora exata, lá compareci e ele não estava, nem tão pouco a polícia, a repressão não conseguiu por as suas mãos sujas no Partido por seu intermédio.

O DOI-Codi do então IV Exército, o torturador Sérgio Paranhos Fleury, diretor do DOPS-SP, o torturador Moacir Sales de Araújo diretor do DOPS-PE, o delegado, José Oliveira Silvestre e o torturador Luís Miranda, agente da Polícia Civil foram os responsáveis diretos por todas as sevícias, assassinato e pela desavergonhada mentira veiculada nos grandes jornais da burguesia no dia 08 de setembro, de que Ventania teria morrido no dia 29 de agosto ao resistir a voz de prisão e travar um tiroteio com agentes da segurança na cidade de Ribeirão.

Desavergonhada mentira porque não houve qualquer tiroteio em Ribeirão no dia 29 de agosto, pois não há qualquer registro no livro de ocorrências da única delegacia da cidade. Mais: se a morte aconteceu no dia 29 de agosto porque o Diário de Pernambuco e o Jornal do Comércio divulgaram a notícia só no dia 08 de setembro, 09 dias depois? E porque seu corpo não foi entregue à sua família, a quem de direito cabe realizar o devido sepultamento?

Na verdade Manoel foi seqüestrado da sua própria casa em Joaquim Nabuco, na madrugada do dia 29 de agosto, fato testemunhado por Izabel Simplícia da Conceição, sua companheira e conduzido numa Veraneio de Exército até a sede do comando do IV exército no parque 13 de maio e assassinado provavelmente junto com Manoel Lisboa e Emannuel Bezerra e certamente temendo o impacto da divulgação do assassinato de três grandes revolucionários num só dia, 04 de setembro e também para dificultar o esclarecimento do seu hediondo crime, decidiram por divulgar em dois dias diferentes e locais falsos e circunstâncias totalmente mentirosas, apesar de bem urdidas.

TESTEMUNHOS E RECONHECIMENTO

Disse Suzana Keniger Lisboa, ao expressar seu parecer como relatora no processo de Manoel Aleixo perante a Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos do Ministério da Justiça: “Torna-se evidente que Manoel Aleixo da Silva foi preso pelos agentes dos órgãos de repressão política, torturado até a morte em alguma dependência pessoal ou assemelhada e levado para Ribeirão, onde foi montado mais um dos macabros teatrinhos de tiroteio, destinados a esconder os assassinatos sob tortura”.

Izabel Simplício, sua esposa, declarou, ainda, em documento entregue à referida Comissão que “apoiava a luta e que agora espera justiça para que nunca mais aconteça outro final de agosto tão triste como aquele de 1973”.

Finalmente, o Estado reconheceu seu crime praticado contra Manoel Aleixo (Ventania), mas falta reconhecer as circunstâncias, identificar e punir severamente os responsáveis por tão bárbaro crime.

NOS BRAÇOS DA HISTÓRIA

Agora, 34 anos depois, podemos afirmar com Castro Alves: “Quem cai na luta com glória, tomba nos braços da história e no coração do Brasil!”. Foi com base na sua profunda opção pelo PCR, como instrumento da libertação revolucionária dos explorados e oprimidos que Manoel Aleixo construiu a sua inquebrantável coerência.Por isso, ele encontrou força e tranqüilidade suficientes para praticar também no cárcere do inimigo, com istoicismo, a sua orientação: Não dar nenhuma informação sobre o Partido ao inimigo de classe e, de fato, para um revolucionário, a traição é pior do que a morte. Assim, antes de cerrar os seus olhos pela última vez, já nos seus últimos instantes, decidiu ele, de novo optar pela dignidade, pelo justo, por resguardar a vida do seu Partido e então, com profundo desprezo pelos verdugos, fechou os olhos para descansar coerentemente ao lado de Amaro, Manoel Lisboa, Emannuel Bezerra e Zumbi dos Palmares.

Coube ao Partido, depois de um rigoroso levantamento(cerca de um ano e três meses) de todas as informações, entre 40 companheiros nossos detidos naquelas dependência do exército) para oficialmente poder informar toda a verdade sobre o comportamento de cada companheiro.Sobre Ventania, assim se expressou a direção do PCR:

“Na sala de torturas, comportou-se como um autêntico herói nascido do povo; diante das torturas mais atrozes, cerrou os dentes, nada falou aos sádicos policiais. Morreu como herói do povo, um combatente do Partido, digno e firme como uma rocha”. (Editorial do Jornal A Luta, nº 18, dezembro de 1974).

Camarada Manoel Aleixo, você conquistou, com a sua elevada coerência e honra comunista, um justo lugar no Panteon dos heróis da história e da dignidade humana.

Nesta homenagem, os trabalhadores conscientes vimos reafirmar que a sua bandeira de luta pela reforma agrária e pela sociedade socialista seguirá até a vitória e que seus algozes não ficarão impunes jamais. É uma questão de tempo e os ventos da história sopram a nosso favor.

Centro Cultural Manoel Lisboa

Joaquim Nabuco-PE, 04 de novembro de 2012

Bibliografia:

1- O Movimento Camponês na Zona Canavieira de Pernambuco – Amaro Luis de Carvalho, Editorial a Luta nº 01, 1966

2 – As Guerras Camponesas na Alemanha – F. Engels – Editorial Presença, 1975

3 – Jornal A LUTA, – Órgão Central do PCR nº 18, dezembro de 1974

4 – Dos Filhos Deste Solo – Nilmario Miranda /Carlos Tiburcio – Ed. Boitempo, 1999

5 – Castro Alves – Obra Completa, Ed. Nova Aguilar, 1986

6 – A Vida e A Luta do Comunista Manoel Lisboa,Ed.Centro Cultural Manoel Lisboa, 2000

7 – Jornal A Verdade – Nº 1, 9, 55

*Este artigo foi escrito por Cajá e publicado, na sua essência, pelo jornal A Verdade na página dos heróis brasileiros,no número 87.Edival Nunes Cajá, foi preso político, é sociólogo, presidente do Centro Cultural Manoel Lisboa, é membro do Comitê Memória, Verdade e Justiça de Pernambuco, é integrante do Comitê Central do Partido Comunista Revolucionário (PCR).

Fonte: Geleia General 

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.