Ex-Pantera Negra, Jalil Muntaqim será solto após 49 anos de prisão nos EUA

Ativista foi preso em 1971, aos 19 anos, acusado de matar policiais; diversas evidências apontam sua inocência

Reprodução/Jericho Movement

Opera Mundi.- O ex-membro dos Panteras Negras Jalil Muntaqim, que está preso há 49 anos nos Estados Unidos, será solto até o dia 20 de outubro.

Foi o que determinou o Conselho de Condicionais do Estado de Nova York na última quarta-feira (23/09) após uma das muitas audiências que o ativista tem comparecido desde 1998, ano em que pôde começar a pedir liberdade condicional.

Segundo o jornal The Guardian, a justificativa dada pelas autoridades foi a de que Muntaqim expressou “remorso” pelo crimes cometidos e de que seu sentimento “era genuíno”.

O ex-Pantera Negra, hoje com 68 anos de idade, foi preso em 1971, aos 19 anos, acusado de matar dois policiais durante um tiroteio no bairro do Harlem, em Nova York.

Apesar de diversas evidências surgidas ao longo dos anos apontarem sua inocência, Mustaqin ficou preso quase meio século e vinha tendo, até essa semana, todos os seus pedidos de liberdade condicional negados.

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À época da condenação, a principal testemunha, um outro membro dos Pantera Negras chamado Ruben Scott, chegou a reconhecer que incriminou Mustaqin e outros envolvidos na morte dos policiais após sessões de tortura, o que não impediu que seu depoimento fosse validado e o pedido de um novo julgamento pela defesa negado.

Além disso, um relatório balístico do FBI chegou a constatar que a arma em posse do ativista no momento de sua prisão não correspondia aos projéteis encontrados nos corpos dos policiais mortos. O parecer federal foi substituído pelo da polícia de Nova York, que oferecia uma conclusão oposta.

Albert “Nuh” Washington e Herman Bell foram outros dois militantes condenados no mesmo processo. Em 2000, Washington morreu de câncer na prisão. Bell, por sua vez, conseguiu sua liberdade condicional em 2018, aos 70 anos de idade

Revolucionário desde os 17

Nascido em Oakland, Califórnia, filho de negros admiradores do pacifismo de Martin Luther King, Mustaqin, que fora batizado como Anthony Bottom, mas adotou outro nome após conversão para o islamismo, decidiu ingressar no Partido dos Panteras Negras aos 17 anos.

A organização revolucionária socialista, fundada no final dos anos 1960, era então uma das principais referências da nova geração de lutadores pelos direitos da população negra e trabalhadora dos EUA.

“Perdi qualquer esperança que os negros pudessem lutar sem apelar à autodefesa, sem responder à violência policial e dos grupos racistas. Ainda não tinha 17 anos, mas decidi me inscrever nos Panteras Negras, para desgosto de minha mãe”, contou o ativista ao Opera Mundi no ano de 2016.

Após sua filiação, aceitou participar do braço armado dos Panteras, mais tarde chamado de Exército Negro de Libertação (BLA, na sigla em inglês).

Durante a prisão, o ativista se formou em Psicologia e Sociologia, além de ter escrito romances e poemas. Mesmo encarcerado, Mustaqin não deixou a luta social e se tornou uma das principais figuras pela libertação dos presos políticos nos EUA.

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