Em busca de um novo ritmo

palomaTexto e foto de Rosangela Bion de Assis.

“O INSS não oferece qualidade de vida. Preciso sentir calor humano, não quero ser só mais uma peça”.

Aos 21 anos, Paloma Becker já acumulava seis anos de experiência trabalhando num escritório de assessoria previdenciária, coordenado por Sílvio Fabris. Depois dos pais, Sílvio foi um exemplo de postura ética e sempre lhe ensinou a seguir o que determinavam a lei e as portarias do INSS. Aos 14 anos, tudo começou como uma ajuda, alguns dias na semana, mas o interesse pelo trabalho fez com que ela ficasse. Foram tantos processos, que os servidores da Agência de Rio do Sul já eram seus conhecidos. Por isso, Paloma caminhou tranqüila para o primeiro dia de trabalho.

– No INSS, eu tentei ao máximo corresponder às expectativas das pessoas que atendia e da instituição, mas não te dão condições para realizar o seu trabalho com eficiência. Você é cobrada o tempo inteiro, 70% do seu salário está em jogo, vivemos para cumprir metas que não param de piorar. O primeiro conselho que me deram foi: ‘sai daqui o quanto antes’.

Com apenas um ano de trabalho na Previdência, Paloma teve crise de labirintite e depressão devido a grande pressão sofrida pelas metas a serem cumpridas e pelo próprio sistema operacional de trabalho.

Música e linha de produção

Paloma e a irmã Patrícia cresceram em Rio do Sul entre instrumentos musicais e atividades esportivas estimuladas pelo pai, Henrique Cesar, e pela mãe, Teresinha Luzia. Henrique só tinha conseguido se aproximar adulto do violão e foi, ao lado do filho caçula Tiago, então com 12 anos, que ele finalmente conseguiu se entender com acordes e tons. Com Paloma a primeira tentativa foi frustrada mas, aos 16 anos, no grupo jovem da Igreja, passou a tocar violão e guitarra. Já tocava trombone e passou a cantar. A irmã Patrícia, hoje com 27 anos, toca sax, teclado e flauta doce.

Enquanto esperava ser chamada para trabalhar no INSS, em 2008, Paloma saiu do escritório previdenciário e foi trabalhar na linha de produção da Neilar Alimentos. Antes da 5horas, ela saia de casa de bicicleta rumo à fábrica, e ao lado de outras mulheres produzia sucos, gelatinas, pudins e condimentos.

– Ali conheci pessoas que buscam o seu sustento, mulheres que tinham que se virar com os filhos, enfim, conheci o mundo real dos trabalhadores.

Ma nem isso lhe preparou para trabalhar no lado de dentro do balcão do INSS.

– Eu tentava não me envolver com as pessoas, mas às vezes é muito difícil, num processo de aposentadoria a pessoa traz a expectativa de uma vida. O novo sistema ficou ainda pior, só para atualizar um cadastro eu perco 15 minutos, antes demorava 2 minutos, isso extressa muito. Contam que antigamente o INSS era um local bom para se trabalhar, mas quando eu entrei o Sisref estava implantado, a jornada não era mais de 6 horas e já éramos avaliados. Depois veio a jornada estendida que significou outra forma de cobrança.

Em 2012, Paloma sofreu o grande golpe do sistema. Ao atender um intermediário, ela explicou que devido a mudança na legislação de reconhecimento de tempo rural precisaria rever a documentação do processo. Na hora foi ameaçada com um processo por danos morais. Depois veio a intimação e o processo por ter seguido o que determinava a legislação e as normas da instituição. Para quem sempre deu o máximo de si para encaminhar os atendimentos, o processo foi um golpe pesado demais e ela adoeceu novamente.

Conhecendo a luta de classes

Em maio de 2012, Paloma participou do segundo módulo do Curso de Formação do Sindprevs, em Florianópolis e ficou surpresa.

– Foi maravilhoso, todo mundo deveria ter acesso àquela visão de mundo porque o sindicato está lá. Quando entrei na Previdência, eu já entrei no Sindicato, mas foi nas assembleias e nas atividades que fui sentindo a importância de fazer parte de um grupo. Hoje todo mundo só quer pensar no individual, é preciso quebrar esse paradigma.

Hoje Paloma sente-se muito bem e faz planos de começar a cantar profissionalmente.

– Eu não fiz colegas na Previdência, fiz grandes amigos. É minha segunda família. Estou na metade do curso de Direito e estou estudando para sair do INSS, como os outros funcionários novos. Quero trabalhar num ambiente saudável, que me ofereça alguma oportunidade de crescimento pessoal e profissional. O INSS não oferece qualidade de vida. Preciso sentir calor humano, não quero ser só mais uma peça, preciso sentir que estou realizando algo bem feito.

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