Demanda por intérpretes de língua de sinais é maior do que o número de profissionais formados

Por Miriam Amorim.

Há quatorze anos a legislação brasileira prevê a garantia do atendimento e tratamento adequado as pessoas surdas(Lei nº 10.436/02). Isto implica que os estabelecimentos públicos possuam pelo menos um intérprete de língua de sinais. Porém, o número de profissionais ainda é menor do que a demanda pelos serviços. Dados do IBGE de 2010 indicam que 305.833 catarinenses possuem algum grau de deficiência auditiva. Em Florianópolis, há 10 anos o curso de Letras Libras —inicialmente por meio do Ensino a Distância e tendo sido o primeiro da América Latina— tem capacitado profissionais de todo o país. Desde 2006, formaram-se 767 professores de Libras e 312 tradutores e intérpretes no EaD. No curso presencial, criado na UFSC em 2009, formaram-se em duas turmas 12 intérpretes e 31 professores.

Silvana Aguiar dos Santos, professora do curso presencial de Letras-Libras relata a ampliação do número de profissionais em novos espaços, para além da área educacional. Por exemplo: em 2004, a Assembleia Legislativa não possuía o serviço de interpretação de Libras-Português. Hoje, no entanto, trabalham profissionais na Alesc e nos mais diversos contextos, dentre eles a jurídica. Outros setores que passaram a ter um maior exercício de intérpretes são: conferências, congressos, tradução de editais e materiais audiovisuais, também na produção de materiais bilíngues e glossários terminológicos. Além disso, muitos intérpretes atuam na área da saúde, em empresas, na área cultural e etc.

Bárbara Peres é intérprete há dois anos. Seu trabalho final na graduação, realizada na UFSC em Letras Libras presencial, foi sobre a tradução de Libras em Astronomia. Hoje, além de ter uma agência de intérpretes em Florianópolis, trabalha como professora de Educação Especial na Udesc e faz interpretações em espaços culturais como teatros, cinemas e eventos. “Todos os setores públicos, culturais e educacionais precisam ter um intérprete de acordo com a lei, mas a demanda ainda é maior do que o número de profissionais formados”. Bárbara indica que é necessário ao profissional uma formação contínua para atuação em diferentes contextos, como em hospitais e conferências, por exemplo.

De acordo com a tabela de referência salarial da Federação Brasileira das Associações dos Profissionais Tradutores e Intérpretes e Guia-Intérpretes de Língua de Sinais (Febrapils), um intérprete pode receber de R$100 a R$160 por hora ou plenária (no caso de conferências). A Federação também indica que de acordo com o contexto é necessário mais de um intérprete para realizar a tradução do conteúdo exposto. Silvana Aguiar dos Santos, explica que em muitas situações é necessária uma equipe de intérpretes, seja numa peça teatral ou em algum processo do judiciário onde há diferentes partes envolvidas e prestando depoimentos. Na área jurídica é necessário possibilitar também, o trabalho de intérpretes surdos. Estes auxiliarão na realização da interpretação, especialmente, em casos dos quais acusados ou reús utilizarem sinais caseiros, diferentes daqueles convencionados pela Libras “acadêmica”.

Daniela Bieleski, tradutora-intérprete na UFSC e presidente da Associação Catarinense de Tradutores e Intérpretes de Língua de Sinais (Acatils), indica que uma das grandes dificuldades no mercado de trabalho da área é a própria padronização do cargo que hoje pode ser de: Tradutor intérprete de Libras, Tradutor e Intérprete de Linguagem* de Sinais, Intérprete ou Guia Intérprete. Para cada modalidade há um valor salarial diferente. Em muitos concursos públicos, como o último da UFSC (EDITAL Nº 015/DDP/PRODEGESP/2016), foram oferecidas cinco vagas para intérpretes, sendo três para nível superior no cargo de Tradutor Intérprete de LIBRAS e duas para nível técnico, no cargo Tradutor e Intérprete de Linguagem* de Sinais. A diferença salarial entre os dois níveis é de aproximadamente R$1500 reais, “sendo que o trabalho realizado é praticamente o mesmo”, indica Bieleski. A distinção, no entanto, reflete a insuficiência de profissionais com Ensino Superior.

Mesmo com o baixo número de intérpretes, o acesso de pessoas surdas aos espaços públicos, privados, culturais e educacionais depende da presença destes profissionais. Além de leis que promovam o acesso de surdos, outros desafios precisam ser superados. Silvana Aguiar dos Santos destaca a necessidade da implementação de mais espaços acessíveis para surdos, a formação por áreas do conhecimento dos tradutores e intérpretes de Libras-Português, e também a compreensão da sociedade sobre a importância e o reconhecimento deste profissional.

*Atenção: o termo correto é Língua de Sinais e não Linguagem.

Relembre a reportagem sobre Cultura surda e poesias em Libras, produzida pela equipe do Cotidiano UFSC.

Fonte: Cotidiano UFSC.

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