A Justiça é cúmplice da violência praticada pela PM, afirma Sérgio Silva

Por Vanessa Ramos.

“Em agosto de 2016, mais um crime ficará marcado pela impunidade praticada pela Justiça”, lamenta Sérgio Silva, o fotógrafo que foi atingido no rosto por uma bala de borracha disparada pela Polícia Militar de São Paulo (PMSP) e perdeu o olho esquerdo enquanto trabalhava na cobertura dos protestos de 13 de junho de 2013. O fato aconteceu na esquina da Rua da Consolação com a Rua Maria Antônia, no centro da capital paulista.

Passados três anos e dois meses do episódio violento, só ele e seus familiares sabem o que significa a decisão do juiz Olavo Zampol Junior, da 10ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo, que negou seu pedido de indenização e não considerou o Estado paulista culpado de sua mutilação.

Ao contrário: o magistrado culpou, na última quarta-feira (17/08), o próprio fotógrafo por estar no lugar errado, na hora errada. No final da decisão judicial, ele ressalva que “não se está insensível ao drama do autor”.

Em entrevista exclusiva, Silva avalia que, ao transformar a vítima em culpado, a Justiça de São Paulo passa a ser cúmplice da violência praticada pela PMSP. “Este é um dos tantos adjetivos possíveis. Pode-se considerar que a Justiça serve única e exclusivamente para fazer a defesa do seu patrão-estado”, afirma.

Para o fotógrafo, esta sentença também traz consequências sobre outros profissionais da comunicação que cobrem atos e protestos. “A decisão do juiz não vai apenas influenciar quem denuncia a violência policial. Ela abre precedente para qualquer situação semelhante cometida pelo Estado, seja contra a imprensa ou o cidadão civil”, pontua. 

Resistência

Silva afirma que suas denúncias sobre a postura do Estado terão continuidade, e que ele pretende entrar com recurso da decisão e aguardar pelo novo julgamento.

Ele também elaborou um abaixo-assinado que será entregue ao Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Lançado nesta última quinta-feira (18/08), no site Change.org, ele já conta com mais de 2.257 assinaturas em solidariedade.

Lá, ele também explica o que a mutilação lhe causou. “Sou uma vítima, não sou jamais um culpado, e repudio essa decisão judicial com todas as forças da resiliência e da solidariedade que vêm permitindo que eu me recupere de tamanha violência. Antes de ser ‘o fotógrafo que perdeu o olho’, sou um ser humano mutilado pela Polícia Militar. O órgão que perdi não era essencial apenas para minha profissão: era essencial para minha vida”, lamenta.

Edição: Camila Rodrigues da Silva

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