A arte escondida no Presídio Central: detentos expõem obras feitas no cárcere

20131206dsc03600-11Por Débora Fogliatto.

Pinturas de paisagens, casas e árvores, desenhos talhados em madeira, miniaturas de barcos e pequenas esculturas em pedra-sabão são alguns dos itens que compõem a exposição Arte Escondida, na Casa de Cultura Mario Quintana. Inaugurada nesta quinta-feira (5), a mostra é composta por trinta peças realizadas por detentos do Presídio Central de Porto Alegre. As obras estão à venda, com preços entre R$ 10 e R$ 100, no próprio local, e todo o dinheiro será repassado para os artistas.

A exposição, que integra as reflexões pelo Dia Internacional dos Direitos Humanos, comemorado em 10 de dezembro, é uma parceria da Casa de Cultura com as secretarias de Estado de Cultura e da Segurança, da Superintendência Para Assuntos Presidiários e do Presídio Central de Porto Alegre.

É o segundo ano em que a parceria permite que os apenados exponham suas obras no centro da cidade. Na primeira edição, ano passado, a coordenadora do núcleo de Artes Visuais da Casa de Cultura Mario Quintana, Gabriela Corrêa da Silva, foi até a cadeia conhecer os artistas selecionar as obras. “Um dia vamos lá, olhamos o que o está sendo feito no ateliê, escolhemos e eles produzem mais ou empacotam aquilo que está lá e mandam”, conta.

Gabriela explica que a iniciativa foi dos funcionários da Brigada Militar que trabalham no presídio, especialmente do tenente Álvaro Aguirre Ventura. Aos 53 anos, ele será aposentado de forma compulsória no próximo ano, quando completará 54. Apesar de não querer deixar a função, as regras da corporação exigem que ele se aposente.

A relação de proximidade do tenente Ventura com os detentos, no entanto, dificilmente será substituída quando ele se aposentar. “Eu nunca pergunto que delitos eles cometeram. Para mim, são todos seres humanos, hoje eu estou aqui e eles lá, mas amanhã a situação pode ser outra”, acredita ele. O soldado Cauê Sprenger da Silva, que trabalha com Ventura, explica que os brigadianos encarregados não têm nenhuma especialidade em arte, mas se revezam em um grupo de quatro para “manter tudo funcionando”.

20131206arte-escondida-21“A gente procura explorar as características e os interesses de cada um. Tentamos conseguir doações para eles e reutilizamos muita coisa que sobra da marcenaria”, explica Cauê. A cada três dias trabalhados, os detentos recebem um dia de remissão (um dia a menos na pena). Além do ateliê, o Setor de Atividades de Valorização Humana (AVH) também é composto por uma marcenaria, uma sapataria e uma alfaiataria.O ateliê funciona como qualquer outro trabalho dentro do presídio. Os apenados podem vender as obras para outros detentos, guardas e funcionários em geral, e mantêm 40% dos lucros. Os outros 60% vão para o próprio ateliê, para a compra de novos materiais e manutenção. Não existem oficinas nem aulas de arte no presídio, mas os próprios apenados que se interessam pela atividade desenvolvem suas habilidades.

Atualmente, são seis detentos que confeccionam obras em materiais como madeira, telas, pedra-sabão e dobraduras com jornal. “Alguns já têm experiência artística da rua ou de outra casa prisional, enquanto outros têm interesse e vão aprimorando aqui”, relata Cauê.

Apesar de retratarem paisagens externas e manifestarem desejo à liberdade nas suas obras, a conquista de ter seus trabalhos expostos não será completa para os detentos: impedidos de sair do presídio, eles conhecerão a exposição apenas através de fotos.

Fonte: Sul 21.

Foto: Divulgação/ CCMQ

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