Xuxa e o Presidente, por Michel Croz

Foto: Instagram/Xuxa e YouTube/Paparazzo Rubro-Negro / Pipoca Moderna

Por Michel Croz, para Desacato.Info. 

Hoje ela é uma mulher, uma mãe, que deixou a televisão e os programas infantis. Hoje ela ganhou o grito, a dor de gritar por justiça, contra a barbárie instalada no Brasil, na cadeira presidencial, na sociedade que faz ouvidos de mercador, olhos cegos, mãos que empunham armas em vez de pincéis ou livros.

Ontem menina abusada, dos 4 aos 13 anos, por velhos pedófilos.
Fiquei emocionado até às lágrimas com o seu testemunho honesto e corajoso. Com sua posição política clara e enérgica, em um vídeo publicado há algumas horas em redes sociais.

Hoje ela triste, irada, furiosa, enojada, com este “cavalheiro” de 67 anos excitado por crianças “bonitinhas”, “arrumadinhas” e que falou em sincera confissão (com a sinceridade do patriarca, do chefe, do absoluto teocrático, mito para muitos, um miserável projeto de ser humano, embora saiba que ocupa o lugar destinado a um “escolhido de Deus”, um narcisista que cultiva a monstruosidade de viver além do bem e do mal).
A confissão foi que: “pintou um clima”.
Para o famigerado pedófilo, diz Xuxa, nem um único voto! E eu acrescento, prisão para o delinquente.

E para aqueles que não querem ver o crime e o desculpam, toda nossa rejeição ética, moral, estética, política e social.
Será um trabalho duro levantar as pálpebras dos olhos cegos que não querem ver(se)! Mas será, é necessário, até o dia 30, e até que o sangue e a respiração corram através de nosso corpo.

Fazemos parte de uma sociedade hipócrita que faz vista grossa a tal absurdo. Não devemos nos sentir indiferentes, não somos. Temos que nos sentir solidários com a dor do outro. Com suas feridas, com seus ossos quebrados, com suas almas quebradas.

A indignação de Xuxa deve ser nossa indignação, sob pena de que nosso amado Brasil, terra de gente, a grande maioria, que soube gostar de mim, acreditar em mim, e com quem aprendo todos os dias e todas as noites. Pessoas maravilhosas, como minha amada Vero, lutadora, bondosa e feliz.

Xuxa Meneghel grita e nos ensurdece. Ela nos inquieta, nos deixa desconfortáveis, nos levanta de nossas poltronas em frente à televisão, em frente ao Jornal Nacional, e nos questiona.

Ela nos pergunta, apontando seu dedo para nós, o que fizemos por elas? Para as xuxas abusadas de ontem, para as meninas venezuelanas de hoje, para que elas e estas não revivam o inferno fascista, onde o macho invencível pode fazer qualquer coisa, até mesmo ser presidente (e também deus).

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