Vivemos a fase da Grande Cebola Digital: descascando, sobra só o vazio

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Por Leonardo Sakamoto 

Segui o histórico de compartilhamento de algumas postagens que divulgavam informações absurdas e eram replicadas loucamente em redes sociais.

E aonde foi que eu cheguei? Em lugar algum.

Nenhuma fonte que sustentasse a informação.

Ou, quando a fonte era citada, havia clara distorção na interpretação dos dados para fazer caber na fofoca em questão – principalmente quando se tratava de direitos humanos.

Ou era “telefone sem fio”, do tipo “quem conta um conto aumenta um ponto”.

Ou boatos decorrentes de problemas de interpretação de texto.

Ou oriunda de sites que criaram uma história porque lhes era conveniente.

Enfim, uma grande cebola: é grande, é dura, é vistosa. Mas se você for descascando descobre que, lá dentro, não tem nada.

Fico assustado com a quantidade de coisa mal checada e precipitada que circula pelas redes sociais, principalmente em momentos de grande comoção social.

Fofoca sempre existiu, mas agora é transmitida em massa e em tempo real.

As plataformas digitais em redes sociais ajudam a mudar o modo como nos comunicamos e fazem fluir informação pela sociedade, alterando – consequentemente – as estruturas tradicionais de poder. O que é fantástico.

Mas se elas ajudam a furar bloqueios e formar, também desinformam.

Tem sempre um pilantra distorcendo ou descontextualizando informação e divulgando-a, por ignorância, má fé ou visando a um objetivo pessoal ou de seu grupo.

Ou aqueles que misturam realidade e desejo, fato e ficção, consciente ou inconscientemente.

Uma informação inverídica, como o falecimento de alguém que ainda está vivo, replicada e reproduzida à exaustão, torna-se verdadeira porque é validada coletivamente. Mesmo que o coletivo não tenha sido capaz de parar, respirar, checar e analisar no sentido de validar qualquer coisa…

Algumas pessoas podem achar que o certo é divulgar praticamente tudo (o que concordo), porque os próprios leitores irão perceber o que é mentira (o que é falácia). Tipo: deixa que o mercado se regule sozinho que, automaticamente, o bem estar da população será atendido. Faz me rir.

Uma informação errada ao ser divulgada causa um impacto negativo contrário maior do que sua correção. Ou seja, muitas vezes, o desmentido (por ser mais sem graça) não chega tão longe quando a denúncia.

No ano passado, por exemplo, uma grande empresa varejista teve seu nome vinculado a uma condenação por crime contra os direitos humanos. O ponto é que, na prática, essa condenação não ocorreu. Mas a informação errônea circulou loucamente e nem quem multiplicava pelas redes, nem quem era pago para apurar, se dignou a verificar a história. Quando via a história, estranhei e fui apurar. Daí, escrevi uma matéria contando todo o caso, mas um post assim é muito mais “chato” que boato e não viraliza. Além do mais, mostra algo que as pessoas não gostam: que elas erram.

O ideal nunca será censurar previamente conteúdos, porque isso vai contra uma série de liberdades e, na prática, é inútil. Quando eles se configuram como crimes, devem ser passíveis de punição por quem se sentiu ofendido, mas a posteriori. Contudo, o que precisamos mesmo é de uma educação para a mídia. Ou seja, capacitar crianças e jovens para entender que as informações que consomem podem não ser baseadas em fatos reais. E mesmo o que chamamos de “fato real” pode ser apenas uma das muitas interpretações possíveis sobre um acontecimento. E que argumentos podem ser refutados e nada é absoluto. Isso sem falar de opinião que é como roupa íntima: cada um tem a sua.

Uma das primeiras coisas que digo aos meus alunos do primeiro ano de jornalismo é: vocês acreditam demais nas coisas que lhes contam.

Duvide, pesquise, cheque e tenha a coragem de entender que o “outro lado” também traz informações úteis para compreender o mundo.

Enfim, controlem a emoção.

Fonte: Blog do Sakamoto

Foto: Ilustração

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