Primeira epidemia da doença fora de África, Ásia e ilhas do Pacífico começou no Brasil em maio de 2015; vírus é provável causa de microcefalia em bebês
A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou nesta segunda-feira (25/01) que o vírus zika, cujo vetor é o mosquito Aedes aegypt, deve se espalhar por todos os países do continente americano, exceto o Canadá e o Chile, que não têm o mosquito.
Segundo a OMS, os 21 países americanos onde já foram registrados casos da doença têm focos do mosquito Aedes aegypt. A organização atribui a rápida disseminação do zika ao fato de a população das Américas não ter sido exposta anteriormente a ele, não tendo, portanto, imunidade ao vírus.
“O papel do mosquito Aedes aegypt na transmissão do vírus zika está documentado e é bem compreendido, enquanto há evidências limitadas sobre outras possibilidades de transmissão. O zika já foi isolado no sêmen humano e um caso de uma possível transmissão sexual do vírus foi descrito. Entretanto, é necessária mais evidências para determinar se o contato sexual é um meio de transmissão do zika”, declarou a agência em comunicado.
A primeira epidemia da doença fora da África, da Ásia e das ilhas do Pacífico começou no Brasil em maio do ano passado. Os sintomas da infecção pelo zika são febre, conjuntivite e dores de cabeças, mas cerca de 80% das pessoas infectadas pelo vírus não apresentam sintomas.
Anteriormente, acreditava-se que o zika tinha poucos efeitos para além da doença nas pessoas infectadas, mas em novembro o Ministério da Saúde brasileiro declarou que o vírus está ligado à ocorrência de microcefalia, uma má-formação fetal em que o bebê nasce com o cérebro menor do que o tamanho considerado normal.
Somente no Brasil, houve 4.000 casos registrados de microcefalia no último ano, número 30 vezes maior do que o registrado anualmente no país desde 2010.
A diretora geral da OMS, Margaret Chan, destacou que não está comprovado que o vírus zika é a causa do surto de microcefalia registrado no Brasil, mas “as evidências circunstanciais são sugestivas e extremamente preocupantes”, afirmou.
Laura Rodrigues, professora da London School of Hygiene & Tropical Medicine, disse ao jornal britânico The Guardian que há “fortes evidências” de ligação causal entre o vírus e a microcefalia. Uma delas é a associação temporal entre surtos de zika e de microcefalia tanto no Brasil como na Polinésia Francesa. “O vírus é neurotrópico. Ele cresce no cérebro do feto e destrói estruturas cerebrais, causando assim a má-formação do cérebro que é a causa da microcefalia”, afirmou Rodrigues.
Segundo a professora, há poucas pesquisas sobre o zika porque ele não era considerado importante para a saúde pública, mas isso mudou com a suspeita de que o vírus seja causador da microcefalia e de infecções congênitas.
A OMS recomenda que as pessoas se protejam do mosquito, que também é o transmissor do vírus da dengue e da chikungunya, utilizando repelentes e roupas que cubram o corpo. A organização também pede que a população e governos trabalhem para acabar com os focos de reprodução do mosquito, cuidando para que não haja água parada, tanto dentro de casa como em lugares públicos.
Fonte: Opera Mundi
Foto: Rafael Neddermeyer/ Fotos Públicas