Violentaram Politicamente a Vereadora Maria T. Capra e a Democracia. Por Luis Carlos Borsuk

Imagem: August Landmesser

Por Luis Carlos Borsuk.

Por dez votos, vereadores de São Miguel do Oeste, no extremo oeste de Santa Catarina, caçaram o mandato da vereadora Maria Tereza Capra, que é conhecida por ser uma grande lutadora do povo. Corajosa. Ela denunciou que um ato público em frente ao quartel do Exército local, onde manifestantes pediram golpe de Estado e cantaram o Hino Nacional em posição de saudação nazista. Ambos são crimes! Propor golpe de estado e saudação nazista. O normal seria esperar que o próprio Exército refutasse tal atitude.

Então dizem, alguns dos malvadores de São Miguel do Oeste, que é costume por lá rezar orações e preces e cantar o Hino Nacional em posição de saudação nazista (com o braço direito estendido pra frente vigorosamente. Que não sabem (ou não sabiam? ou discordam?) ser isso uma saudação nazista.

Nem me assusta que a maioria dos manifestantes nem tenha tido noção da barbaridade perpetrada. Afinal, o que vivemos de maus exemplos vindos de cima não é pouco! Até ano passado o então Presidente da República negava a validade de vacinas contra a Covid19, as mudanças climáticas, patrocinava o genocídio dos indígenas Ianomami, pra dizer poucos exemplos.

A maioria dos presentes no macabro ato podem não ter ideia da barbaridade que participaram. Mas não vale aos seus líderes, seus organizadores e puxadores de tal cântico. Eles sabem que, na forma que se deu em situações análogas, causou grandes tragédias como na Alemanha e Italia nos anos de 1925 a 1945. Muita coisa em comum, até rituais como beber leite em público (invocando a suposta supremacia branca), motociatas, clamar pelo extermínio dos oponentes, criar bodes expiatórios (comunistas, judeus e ciganos lá; sem terra, negros, nordestinos, homossexuais cá).

Os vereadores sabem muito bem “pra quem os sinos dobram”. Sim, eles tem que saber. Eles prestam juramento de respeito à Constituição Federal. Vereadores têm que saber que o nazismo começou assim. Negar a ciência, perseguir minorias, defenestrar opositores, etc.
No Brasil, multidões de fracassados são presas fáceis desse cântico das sereias. Desemprego? Culpa os imigrantes, os nordestinos. Violência contra mulheres? Culpabilização da minisaia! Tudo simples. Banheiro unissex nas escolas: isso é “uma vergonha!”, diz o moralista de plantão que não conhece a escola do bairro onde mora, nem mesmo se for a de seu filho ou sobrinho.

Querem dizer “tanto faz” ou que não importa como se faz? Pobre povo brasileiro, uma civilização promissora, tropical, multicultural, multi etnica e esperançosa. O “como faz”, os gestos, as intenções, entonação de voz, etc… tem muito a ver com o que se faz. Cantar o Hino Nacional em posição de saudação nazista deu no que deu na Alemanha. E não é a mesma coisa do que fazê-lo solenemente em posição de respeito ao símbolo nacional. Em 1936, na Alemanha, os patrões convocaram os empregados do Porto de Hamburgo a irem saudar Hitler. Uma multidão em delírio, todos com o braço direito estendido. Menos um. August Landmesser se recusou. Disse ele: isso não vai dar certo. Não deu. Ele era casado com uma mulher judia e vivia uma experiência comum até pouco tempo antes rica de duas culturas religiosas (cristã e judaica) que se encontraram e tiveram filhos. Ele foi executado por tamanha afronta de não se comportar como membro de um rebanho inconsciente.

Maria Capra é mulher. Seus algozes, homens brancos. O verniz do regimento interno pretende esconder que a teia da maldade deve ser muito maior. Isso seria pouco? Não. Isso diz muito. Ódio de classe, misoginia, autoritarismo, fracassos pessoais e outras coisas combinadas fazem os senhores perder a vergonha e fazer publicamente o que vinha sendo desejado há tempos. A fala da vereadora, foi a “gota d’água”. Justamente a fala, imperativo para o mandato parlamentar. Revela o buraco que estamos. Um déficit civilizatório estrondoso.

Mas o ato de cantar do Hino Nacional é pra ser realizado em posição dos sentidos. De respeito! E qual é o respeito se o intento é desrespeitar a democracia e o resultado das eleições, reivindicando um golpe de Estado?


E as rezas cristãs são realizadas com mãos encontradas! Mesmo quando súplicas ou preces são realizadas, elas são feitas com ambos os braços erguidos! Não são?
Dizem os maus tropeiros, aqueles que caem do cavalo, que “cada um apeia como quer”. Falam encabulados com a vergonha de terem ficado expostos diante dos pares e seus aparentes fracassos. Mas isso não afeta ninguém. Em seguida ao deboche, jogam baralho juntos. Sabem que existem cavalos mais dóceis e outros mais xucros.
No momento em que os julgadores não admitem que a saudação em frente ao quartel foi aos moldes nazistas, alegando desconhecimento ou inocência, revelam o fracasso institucional do que representam. Eles teriam que dar razão à fala da julgada. Os autos da história estão disponíveis. Falta altivez para reconhecer que é um erro. E eram julgadores, não julgados. Ou então, eles referendam atos de saudação nazista?
Não creio que seja só falta de escrúpulo ou escolarização inadequada pra esses tombos que nossa democracia vem sofrendo. Pois, como dito, a saudação nazista foi feita pedindo golpe de estado. Não foi pelo fim da estiagem! E não foi contra a miséria e as longas filas do SUS? Não foi.

A primavera chegará, apesar deles! Mas há que se lutar!

A cadela do fascismo está no cio, embora tenhamos colocado uma coleira nela.
O governo de Santa Catarina quer usar a máquina pública, os advogados pagos por nós, para defender os terroristas que depredaram a sede dos três poderes máximos da República Federativa do Brasil. Zero discordância da maioria dos deputados estaduais. Parece ser mais uma honrosa luta dos petistas. A ver, mais uma vez a maioria apoia a barbárie contra a civilização.

O mesmo estado de Santa Catarina é o que abdica de recolher mais de R$ 20 bilhões em renúncia fiscal por ano, não sinaliza caminho para acabar com as longas filas das cirurgias eletivas. Sobram casos de dez anos e muitos outros que o paciente morreu antes.

Azedo eu? Não. Acho que sou capaz de me indignar com a dor e sofrimentos causados aos meus semelhantes. Ainda bem!

Chapecó, SC, 05 de fevereiro de 2023.

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