Por Julia Saggioratto.
Eu vejo uma borboleta
Lutando ao vento para voar
Ela bate as asas com força
Mas algo a impede de avançar
Ela força o pequeno corpo a frente
Não cede um centímetro, não avança
Retrocede em certa medida ganhando impulso
Mas não enxergo o que a prende,
O que controla essa dança
Sinto a angústia dessa luta incessante
“É avançar ou morrer”, ela grita
A sensação é de que há, sobre ela, um véu, uma névoa pesada
Porém, permaneço inquieta, não consigo enxergar nada
Seria um véu invisível?
Parecem grandes braços de uma estrutura poderosa
Eu vejo através dela um sonho lindo
Mas a estrutura segue a violentando
Ela luta, as asas indo e vindo
Como algo que não se vê pode machucar tanto?
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A violência psicológica agora é crime, mas em nossas vidas ela é de tal forma sutil, que nem mesmo quem vive, quem é afetada diariamente por ela, consegue perceber. Como provar essa violência? Que tipo de provas podemos apresentar se nem mesmo entendemos a violência até que se torne física.
Muitas vezes não temos condições de perceber nem de denunciar. Quem amamos e quem está a nossa volta também, nem sempre, consegue observar essa violência que é tão silenciosa.
A estrutura capitalista tem tantas artimanhas pesadas e tão sutis para dividir e destruir a classe trabalhadora, nos deixando em pedacinhos.
E nós, as proletárias do proletário, como disse Flora Tristan, vamos sentindo cada fragmento da nossa alma sendo sugada e apossada pela estrutura. Os homens da classe trabalhadora, infelizmente, ainda reproduzem a violência.
Que possamos estar em alerta, sempre, não nos deixemos ser esmagadas pela estrutura e capturadas pelas mãos do machismo, do patriarcado. Que possamos nos fortalecer coletivamente, junto aos nossos companheiros, para poder denunciar e criar outras relações, em uma outra sociedade.