Violência contra a mulher: De que lado você samba?

Foto: Black Women of Brazil

Por Manoela de Borba, para Desacato.info.

Ainda não foi divulgado o número de mulheres violentadas neste carnaval. Apesar das campanhas de conscientização e contra assédio ganharem as ruas, o Brasil assiste de camarote a violência contra mulheres. Em 2017, segundo dados da Secretaria de Políticas para as Mulheres do Governo Federal, o número de denúncias de crimes contra mulheres subiu 90% nos quatro dias de folia. Naquele mesmo ano, a cada quatro minutos, uma mulher foi agredida no Rio de Janeiro. Em sua maioria, as denúncias envolvem casos de violência psicológica, violência sexual, violência moral, cárcere privado e de tráfico de pessoas.

Para alguns machos, aglomerações funcionam como uma espécie de licença para a selvageria e para o crime de assédio. Lembro da metade da década de 90 em Blumenau, quando a Oktoberfest em nada representava uma “festa para a família”, como depois trataram de comercializar, e mais parecia um encontro de selvagens que bebem cerveja e tentam encurralar suas presas em um corredor polonês. Éramos comumente hostilizadas e assediadas e, não poucas vezes, assistimos meninas ser agredidas e despidas à força quando negavam qualquer aproximação com aqueles sujeitos delinquentes. Eles eram os sujeitos da ação.

O corpo feminino é tratado como público, um objeto a ser desvendado e massacrado, e essa é uma prática atualizada cotidianamente e não depende apenas de um aglomerado de machos para sua permanência. A chamada grande mídia é um influente ator na manutenção dessa estrutura de poder e na sustentação do patriarcado. A exposição do corpo feminino como objeto e território do outro e o estigma da mulher no papel de sujeição ao homem e à família são práticas cotidianas de uma grande mídia que naturaliza a submissão de um sexo a outro e trata a mulher como submissa, mercadoria, hipersexualizada e, por vezes, vaidosa em nível tóxico.

Recentemente, a apresentadora global Fátima Bernardes, estampava assim a capa de uma revista: “Trigêmeos aprovam namorado de Fátima Bernardes”. Enquanto isso, no portal de notícias da Globo, William Bonner vai ao teatro com a namorada e se emociona na estreia da peça. E viria uma sequência de propagandas noticiosas com esse mesmo fim. A questão central, a meu juízo, é que os filhos de Bonner não precisam aprovar nem desaprovar a namorada do pai. Na manchete de Bonner, os trigêmeos de Fátima não são notícia. Ele é o sujeito da ação.

Essa mesma mídia empresarial que subestima a mulher e a sujeita ao homem, também a estigmatiza e hipersexualiza para a manutenção dessa estrutura sexista de poder. A Globeleza, criada pela Rede Globo, é um exemplo da personificação da hipersexualização da mulher negra ao longo da história. Por anos, a mulher negra foi objetificada e reduzida a um corpo que invadia os lares brasileiros a qualquer hora do dia.

Em um país que a cada 11 minutos uma mulher é violentada, uma estrutura de mídia hegemônica e elitista sem qualquer compromisso que não seus interesses econômicos e políticos deve também responder pela coautoria dos fatos e ser criminalizada.

 

Manoela de Borba é jornalista e mestranda em jornalismo pela Universidad Nacional de La Plata (UNLP), Argentina.

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