Vídeo | Entrevista com Linn da Quebrada: “A música salvou a minha vida”

Em entrevista ao Brasil de Fato, cantora destacou papel da cultura e da coletividade para enfrentar cenário autoritário

Por Pedro Stropasolas

“É um momento de perigo, sim. Mas é um momento de oportunidade, onde as coisas podem ir para novos afluentes”, avalia a cantora – Pedro Stropasolas

A arte resiste e ecoa as vozes das populações marginalizadas. Esse foi o recado passado por Linn da Quebrada em seu último pocket show, no Teatro Oficina, centro de São Paulo, como encerramento das atividades da Semana da Visibilidade Trans.

A cantora, atriz e roteirista, que faz da corporalidade uma potência narrativa para a transformação social, destaca a coletividade trans como arma de enfrentamento ao cenário autoritário e brutal enfrentado pela cultura LGBT no governo de Jair Bolsonaro (sem partido).

“O encontro com essas pessoas salvou a minha. E eu espero que haja cada vez mais mais vida, haja mais dúvida, e seja cada vez mais expressa a dívida colonial perante os nossos corpos. E a que a nossa vida preta, e travesti, e diversa, e múltipla, e plural, possa ser uma dádiva para todos nós”, comenta Linn após a apresentação que lotou o Teatro Oficina de pessoas trans e LGBT.

Segundo o último dossiê da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), o Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais em todo o mundo. Foram 124 pessoas trans assassinadas em 2019, 80% dos casos envolveram crueldade.

A cantora, que não se reconhece como  “ícone” da cultura trans, acredita que a quebra de paradigmas sexistas e conservadores podem surgir por meio da difusão de sua arte, mesmo em tempos de crise.

“Não gosto nem pensar que eu sou ícone. Ícones são imagens chapadas, imagens bidimensionais, estáticas. Eu estou viva, estou em movimento. Eu acho importante que nós tenhamos novas referências, novas imagens. O que eu estou fazendo é disputa. É disputa de poder, disputa de linguagem. É principalmente a disputa dentro de um imaginário social, uma disputa para que haja novos imaginários”, afirma.

“Eu acho importante que a gente desacredite justamente para que a gente invente novas formas, novas fórmulas. Tudo que está acontecendo atualmente é fundamental. A gente tem que agarrar essa crise e fazer dela nosso campo de batalha”, afirma a cantora”, finaliza.

Carreira

Após o disco “Pajubá”, lançado em 2017, Linn da Quebrada se prepara para o lançamento de um novo álbum, em 2020, a partir de uma mistura experimental de pop, funk e global gueto.

No cinema, em 2018, na cidade de Berlim, Linn conquistou o Teddy Awards de “Melhor Documentário Estrangeiro”, com a produção “Bixa Travesty, de Kiko Goifman e Claudia Priscilla”.

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