Há 10 dias o refugiado sírio temia pela vida. Foi cercado por quatro homens e plena luz do dia, na Avenida Copacabana. Com paus e um grau de violência desproporcional, atacaram o estrangeiro e o ameaçaram de agressão caso não deixassem o país. Mohamed Ali, 33 anos, era mais um dos refugiados sírios que deixaram aquele país para escapar de uma guerra. Eis que, passado o susto, o carioca mostrou aos agressores e xenofóbicos que o Rio é cidade acolhedora onde sempre caberá mais um no coração da cidade maravilhosa. Centenas de pessoas cumpriram o prometido e foram à sua carrocinha de doces e salgados na mesma Copacabana. Ele vendeu como nunca e tirou selfies como jamais imaginara. A partir de agora é celebridade no bairro e já avisou que irá prestar solidariedade aos patrícios que moram em São Paulo e também tem sido vítimas de preconceito.
A imensa fila se fez em frente da barraca de Mohamed, que teve que contar com a ajuda de quatro compatriotas, para poder atender a tanta gente. Mohamed ficou o tempo todo ocupado, ora atendendo os pedidos, ora no caixa. Ele só parava por poucos segundos para atender a pedidos de fotos dos clientes.
Um dos clientes, o policial militar Roberto de Souza saiu de sua casa em Bangu, na zona oeste da cidade, até Copacabana, só para prestigiar o imigrante sírio. “Eu assisti o vídeo com a situação constrangedora que o Mohamed passou e vim prestar meu apoio”, disse o policial, que voltou para casa com uma bolsa abarrotada de esfirras e quibes.
Vendeu esfiha como nunca a R$ 2,50 |
Guilherme Benedictis, um dos idealizadores da mobilização em defesa de Mohamed, promove feiras de comida de rua, os chamados “food trucks”. “Eu conheci Mohamed há uma semana, depois que vi o vídeo. Me apaixonei por ele e sua família. São pessoas ótimas. Tivemos a ideia de fazer esse ‘esfirraço’ e eu fiquei sabendo que o sonho dele era ter um food truck”, disse.
Segundo Benedictis, já foi iniciada uma campanha de arrecadação de fundos para que Mohamed tenha seu próprio food truck e possa participar dos eventos promovidos por ele. “A meta é chegar a R$ 20 mil e já conseguimos 20% disso, desde o dia 9. Acho que em menos de um mês, conseguiremos juntar todo o dinheiro”, ressaltou.
Guilherme Curi, pesquisador em imigração sírio-libanesa da Universidade Federal do Rio de Janeiro, explica que parte da população brasileira é descendente de sírios e libaneses, mas desde o ataque às torres gêmeas em 11 de setembro de 2001, os árabes têm sido vistos como “terroristas”.
“Os árabes sempre conseguiram se socializar e pertencer à sociedade brasileira. A sociedade brasileira é mais árabe do que se imagina. A partir do 11 de setembro, ele passa de um ser exótico a ser visto como um terrorista potencial”, disse.
Segundo ele, em momentos de crise econômica e incertezas, é comum o estrangeiro ser visto como um inimigo. “Esse discurso de estereotipar o estrangeiro é um discurso produzido e reproduzido por um discurso que só leva à violência e à não-integração”.
O vídeo da agressão:
Na Câmara, foi homenageado