No último sábado, 30, a 46ª Casa de Criadores receberá o desfile-performance de Vicenta Perrotta e sua marca VP Upcycling.
Em sua terceira participação no evento de moda da capital paulistana a estilista propôs transformar a marca em uma plataforma para novos estilistas trans, foram 12 participações especiais.
Com o conceito de “Brasil: o país campeão mundial de travestis” o desfile se inspirou numa edição do Jornal do Lampião, famosa publicação alternativa que durante a ditadura expunha a vida transviada brasileira.
Naquela edição, o jornal abordava como o Brasil exportava travestis para a Europa, principalmente durante os anos 1970, migração que mudou a cara de cidades como Paris e Milão.
Agora em 2019 a marca busca tensionar o espaço político da travesti no Brasil da extrema-direita, expondo novas narrativas. Segundo a diretora criativa do desfile, Maria Letícia,
“o país campeão pra mim não é esse ocupado por quem humilha e envergonha a nação, que está colocando a nação na mira de um genocídio há tanto tempo. Quem nos torna campeãs é quem traz vida, e nesse lugar eu me vejo, Travesti”.
Os desfiles de Vicenta Perrotta na Casa de Criadores já ficaram conhecidos por seu tamanho, são verdadeiros espetáculos. E esse não poderia ser diferente, além do apoio às novas estilistas, serão 40 homens cis e trans e 50 mulheres trans e cis na passarela.
Para a realização desse desfile a VP Upcycling propôs um financimento coletivo com a meta de 25 mil reais. Entre as recompensas estão itens de moda, sessões fotográficas e a primeira edição do jornal Travesti VIVA!, publicação com textos das principais personalidades trans da cena paulistana.
Embora não tenha atingido a meta, o desfile aconteceu. Para Vicenta Perrotta, o esforço para esse desfile acontecer é individual e coletivo “é um investimento de todes em suas carreiras pessoais e no coletivo, pensando as questões políticas do corpo dito como ‘abjeto’.
Ainda segundo a estilista “nós sentimos necessidade de fazer um financiamento coletivo dessa vez, pois nós precisamos comer, se movimentar e viver”. Dessa forma “deslocamos o corpo da travesti da vulnerabilidade e a colocamos como investidoras”.
“Nós ainda esperamos conseguir a meta toda, pois depois do desfile ainda existirão mais alguns dias de campanha.”
Ter novas estilistas trans e travestis na marca contribui para a expansão desse movimento, a partir do questionamento sobre onde estão as travestis na moda. “São estilistas trans, vestindo corpas trans, e agora temos estilistas de mais estados, é um movimento de arte que é cada vez mais importante para o Brasil inteiro”, finaliza.