Veterinários alertam sobre falta de ivermectina para animais devido a uso humano contra covid

Campanha do FDA nas redes sociais: “Você não é um cavalo. Você não é uma vaca. Sério. Pare.”

Por Suzana Camargo, Conexão Planeta.

Assim como no Brasil, a desinformação e as fake news também estão provocando problemas nos Estados Unidos durante o enfrentamento da pandemia da covid-19. Nos dois países, que têm o maior número de mortes provocados pela doença no mundo – juntos somam 1,3 milhão de vítimas -, apesar dos alertas das autoridades e profissionais de saúde ainda há pessoas que insistem em não seguir as recomendações da ciência e tomar remédios sem nenhuma eficácia comprovada para combater o novo coronavírus. É o caso, por exemplo, da ivermectina.

O medicamento é prescrito para o tratamento de uma ampla variedade de parasitas internos e externos. Algumas formas tópicas (para uso na pele) de ivermectina são aprovadas para tratar parasitas como piolhos e para doenças de pele como a rosácea, por exemplo. Além do uso em seres humanos, há também o veterinário, feito por fazendeiros, criadores e profissionais da área para a erradicação de vermes em animais, como cavalos, porcos, galinhas, dentre outros.

E infelizmente, nos Estados Unidos, veterinários soaram o alerta que o medicamento está em falta e os poucos encontrados em estoque estão com preços altíssimos, colocando em risco a vida desses animais.

Recentemente, a U.S. Food and Drug Administration (FDA), órgão que regula medicamentos e alimentos nos Estados Unidos, assim como a Anvisa, no Brasil, lançou uma campanha para ressaltar junto à população estadunidense que a ivermectina não tem uso aprovado para tratatamento contra a covid. Em julho de 2020, a agência já tinha advertido sobre o uso da hidroxicloroquina e da cloroquina fora do ambiente hospitalar devido ao risco de problemas cardíacos e um mês antes, revogou a aprovação do uso emergencial dos dois medicamentos para o tratamento do doença (leia mais aqui).

O FDA ressalta que os dados científicos atuais disponíveis não mostram que o medicamento seja eficaz contra o novo coronavírus e que a ingestão em grandes doses é perigosa.

“Mesmo os níveis de ivermectina para uso em humanos aprovados podem interagir com outros medicamentos, como anticoagulantes. Você também pode ter uma overdose de ivermectina, que pode causar náuseas, vômitos, diarreia, hipotensão (baixa pressão arterial), reações alérgicas (coceira e urticária), tontura, ataxia (problemas de equilíbrio), convulsões, coma e até mesmo a morte”, afirmam especialistas.

Outra questão, para aqueles que se arriscam em tomar os medicamentos de uso veterinário – sim, infelizmente isso ocorre e há diversos grupos em redes sociais “prescrevendo” maneiras de como fazê-lo, um verdadeiro crime! -, o órgão americano de saúde lembra que “drogas animais são muitas vezes altamente concentradas porque são usadas para animais de grande porte como cavalos e vacas, que pesam muito mais do que nós – uma tonelada ou mais. Doses tão altas podem ser altamente tóxicas em humanos. Além disso, a FDA revisa as drogas não apenas pela segurança e eficácia dos ingredientes ativos, mas também pelos ingredientes inativos. Muitos ingredientes inativos encontrados em produtos para animais não são avaliados para uso em humanos. Ou estão incluídos em quantidade muito maior do que aqueles utilizados em humanos. Em alguns casos, não sabemos como esses ingredientes inativos poderão afetar a forma como a ivermectina é absorvida no corpo humano”.

Campanha do FDA nas redes sociais: “Você não é um cavalo. Você não é uma vaca. Sério. Pare.”

No começo do ano, o próprio fabricante do medicamento, o laboratório Merck Sharp and Dohme divulgou uma nota esclarecendo que que não há base científica que indique os efeitos terapêuticos contra a covid-19 nos estudo pré-clínicos já publicados.

“Nós não acreditamos que os dados disponíveis apontem segurança e eficácia da ivermectina além das doses e populações indicadas na agência regulatória e aprovadas para prescrição”, diz a nota da empresa.

A Boehringer Ingelheim Saúde Animal, que comercializa produtos veterinários que contêm a ivermectina em sua composição, como o Ivomec e Eqvalan, também emitiu comunicado que os mesmos não devem ser utilizados para nenhum tratamento em seres humanos.

No Brasil, em março deste ano, a Associação Médica Brasileira recomendou que o uso dos medicamentos do chamado ‘kit-Covid’ fosse banido. Dois meses antes, a Anvisa e diversas entidades médicas do país já tinham reforçado que NÃO há tratamento preventivo contra a Covid.

Foto: reprodução campanha FDA

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