Ventania

Foto: Pexels

Sopra com força, revira e arranca, pouco sobre além de corpos sofridos, plantas retorcidas, varais inundados, lodo, lama, frio, medo.

Escombros, cacos de telhas, paredes arrancadas, barracos esfarrapados, olhares atônitos, desesperados, desassistidos, desesperançados.

Estão lá, todas e todos, na solidão do desconforto, em desalentos expressos nos gestos incertos, nas mãos trêmulas, nas lágrimas e vozes angustiadas.

Desprotegidos, agora apelam por solidariedade, mas de quem se o próximo, aquele ao lado, grita por socorro e não há para onde ir.

As ruas, calçadas, marquises, viadutos encontram-se ocupados com os outros, as outras, que antes deles, ficaram no desabrigo, sem um teto, sem cobertor, sem capa, sem pão.

Depois da ventania não há bonança, há depressão, porque se sabe, que do outro lado do rio, depois das pontes, nos palácios iluminados estão os inalcançáveis, usurpadores dos bens e dos poderes públicos, que não expressam sentimentos ou caridade pelos desabrigados.

Por Roberto Liebgott, para Desacato.info.

Roberto Antônio Liebgott é Missionário do Conselho Indigenista Missionário/CIMI. Formado em Filosofia e Direito.

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