Venezuela: Violência política contra as mulheres

Por Araña Feminista, Marcha Mundial das Mulheres Venezuela.

No contexto da última semana de tensões pós-eleitorais, a Marcha Mundial das Mulheres, coordenação nacional da Venezuela se posiciona sobre os lamentáveis atos de violência que mais uma vez trazem luto à nação.

Lamentamos que, apesar de todas as tentativas do governo venezuelano de criar espaços para o diálogo e a construção coletiva do país soberano e pacífico que a maioria dos venezuelanos deseja, o fascismo tenha optado mais uma vez pelo caminho da desestabilização e da violência.

Como nas outras 30 eleições anteriores, a oposição se recusa a reconhecer a vitória do povo revolucionário, a legitimidade das instituições eleitorais, a estrutura legislativa atual e os mecanismos para resolver as divergências em relação aos resultados. Mais uma vez, eles pedem intervenção estrangeira e a incentivam fazendo alianças com interesses corporativistas internacionais, como o magnata Elon Musk, da X.

Dessa vez, eles deram um passo além e pagaram grupos para atacar e semear o caos em áreas populares, especialmente em áreas tradicionalmente chavistas, alegando assim que o governo venezuelano não tem pessoas para sustentar sua revolução. Dessa forma, ele pretende infligir não apenas danos materiais, mas também danos simbólicos e danos à subjetividade do povo.

Como ativistas da Marcha Mundial das Mulheres, refletimos muito sobre como as guerras beneficiam os poderes transnacionais e afetam as mulheres de forma diferente. Como mulheres venezuelanas, temos vestígios em nosso corpo-alma-mente de como tem sido resistir à guerra econômica, ao bloqueio e às sanções. É profundamente triste ter de denunciar mais uma vez a violência política à qual nossos companheiros estão submetidos, especialmente nas áreas populares. Duas militantes populares foram retiradas de suas casas e assassinadas nas ruas.

Ressaltamos que os chamados “comanditos”, pagos pela extrema-direita venezuelana, têm dado ênfase especial ao assédio às mulheres líderes comunitárias, tentando intimidar a base e as lideranças comunitárias que mantêm os programas sociais fornecedores de alimentos, serviços e políticas públicas, visando mitigar os efeitos das sanções sobre o bem-estar do povo.

Sabemos que a violência política contra as mulheres não visa apenas a eliminar a liderança individual, mas, sobretudo, a intimidar o restante do coletivo de mulheres.

Defendemos o direito político de manifestação, mas chamamos a atenção para o fato de que esse direito não justifica o assédio de mulheres com ideias diferentes em suas casas ou a queima da propriedade pública, o ataque a hospitais ou qualquer dano à propriedade pública, pessoal ou comunitária. Tampouco contempla ou legitima o assédio e o bullying, a incitação ao ódio ou ao racismo. Esses atos, longe de serem manifestações políticas válidas, são crimes.

Também destacamos que muitos dos jovens envolvidos nos eventos violentos da semana passada foram incitados e manipulados pelas mídias sociais e se envolveram sem considerar muito as consequências de suas ações. Hoje nos solidarizamos com essas famílias, mulheres e comunidades que, a partir de agora, terão de enfrentar as consequências dessa falta de consideração.

Na Venezuela, houve muito progresso no que a feminista Argelia Laya chamou de “a maior alienação das mulheres”. Em nossas comunidades, o apolitismo que durante anos foi imposto às mulheres está sendo combatido e derrotado diariamente. As mulheres venezuelanas estão avançando na constituição de um sujeito político feminino com consciência de suas opressões e também com o conhecimento de seu poder e papel na transformação dessas opressões. Nessas mudanças de consciência, a extrema direita e o imperialismo veem um perigo óbvio e, por isso, tornam as mulheres e suas organizações alvos de violência.

Nesse contexto, exigimos justiça para as vítimas do fascismo, que voltou a mostrar seus dentes. E especial diligência na determinação de responsabilidades, rapidez nos processos de administração da justiça e aplicação de penalidades de acordo com os crimes cometidos.

Continuamos debatendo e criando espaços para reconstruir o tecido social que vem sendo rompido há algum tempo por meio das redes sociais e da mídia hegemônica que se diz imparcial e objetiva, mas cujas contribuições para a violência e o ódio entre os venezuelanos são evidentes.

Tradução: TFG, para Desacato.info.

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