Por Vanessa Silva e Leonardo Wexell Severo.
A Venezuela retratada na imprensa brasileira á uma ficção, sendo difícil reconhecê-la quando se está no próprio país, que vive um período de pujante crescimento econômico, superior aos demais da região, com menor índice de desemprego e salários mais valorizados. Encampando o discurso da direita personificada na figura de Henrique Capriles, a mídia prega o ódio e, sobretudo, o medo. Mas não faz o menor esforço para entender esse país andino-amazônico-caribenho e a luta de classes que, a partir da participação popular e do empoderamento coletivo, caminha – a passos largos – para a implantação do socialismo.
Apesar da tranquilidade no país, teme-se pelo caldo de cultura criado pela direita e sua mídia, que pode ser a antessala para algum novo tipo de golpe orquestrado pela oposição a Chávez. Em mais de uma ocasião, Capriles disse não reconhecer o resultado apresentado pelo CNE (Conselho Nacional Eleitoral). Esse é um aspecto que também vem sendo explorado pela imprensa brasileira, deixando no ar a possibilidade de que o resultado eleitoral possa ser questionado. “A aliança de partidos que apoia a candidatura de Capriles teme que os eleitores optem por Chávez para não sofrer represálias por parte do governo, diante da possibilidade de a urna eletrônica oferecer o recurso de identificação do eleitor”, escreveu o Estadão desta sexta-feira.
Muito diferente deste preconceito desinformativo, o ex-presidente estadunidense, Jimmy Carter, contesta os detratores e assegura que o sistema eleitoral venezuelano é “um dos mais seguros que já conheceu”.
Voto eletrônico e biométrico
O sistema eleitoral venezuelano é eletrônico, biométrico e um dos mais seguros do mundo, afirmou, em entrevista à Rede de Comunicação Colaborativa – ComunicaSul, a vice-presidenta do CNE, Sandra Oblitas. “Tivemos resultados diferentes [nas 13 votações realizadas nos últimos 13 anos] e os atores políticos aceitaram o resultado. O sistema eleitoral da Venezuela não dá margem a dúvidas. Não existem razões válidas para pôr em questionamento o resultado da votação”, disse categoricamente.
Como pudemos ver em visitas a centros de votação, onde participaram fiscais da situação e da oposição, a “denúncia” do Estadão parte da mais completa ignorância, pois não há qualquer possibilidade de fraude. O jornal da decadente oligarquia paulista ignora olimpicamente a realidade. O fato é que além do eleitor precisar se identificar com a digital, tendo a sua identidade obviamente preservada, ele posteriormente imprime o seu voto e coloca numa urna em separado, que será auditada posteriormente, evitando qualquer possibilidade de manipulação do resultado. Além disso, o sistema altera automaticamente a ordem dos votos recebidos, para que seja preservada a identidade do eleitor e garantida a inviolabilidade do voto. Antes de serem distribuídas as urnas, todo o processo foi checado nos mínimos detalhes por especialistas e técnicos das duas candidaturas. O cerco se fecha com a presença de fiscais de todos os partidos, que não apenas inibem como proíbem qualquer interferência.
Golpe?
O temor de um golpe vem do terreno movediço preparado pela direita venezuelana e encampado pela mídia brasileira. Rodrigo Cabezas, coordenador do Departamento Internacional do PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela) denunciou que “setores da extrema direita se negam e vão continuar se negando a reconhecer o resultado [das eleições de 7 de outubro]. Vão cantar fraude, dirão qualquer bobagem ou estupidez para deter a vitória do presidente [Chávez]”. E ressaltou que “nós, os socialistas, os bolivarianos, os nacionalistas, que apoiamos Chávez, ainda que no caso hipotético de [uma derrota], respeitaremos o resultado”.
O hipotético vem das pesquisas eleitorais que mostram a vitória do líder bolivariano no domingo. “As três principais pesquisas da Venezuela dão vitória a Chávez com margens que vão de 12% a 14%. Inclusive o Datanálises, que representa um grupo de oposição, em sua estatística de agosto mostrou uma margem de 11 pontos de vantagem”. Já o Ivad (Instituto Venezuelano de Análise de Dados), dá uma vantagem de 14 pontos”, relata Cabezas.
Ao contrário do que foi publicado pelo jornal Valor Econômico nesta sexta (5), segundo o qual “ninguém dá como certa a vitória de Chávez”, as gigantescas manifestações têm reiterado o forte sentimento popular em apoio ao processo iniciado em 1998. De acordo com o jornal, a “Venezuela vai às urnas sob temor de resultado apertado”. Para o dirigente do PSUV, “essas pesquisas que dizem que estamos perdendo, ou pelo menos que tem empate técnico, perderão muito, pelo menos em credibilidade, porque não trabalharam com objetividade”.
Campanha Carabobo
O nome da campanha de Chávez é Comando Campanha Carabobo – referência à batalha final na luta pela independência venezuelana, que pôs fim ao domínio espanhol. Apesar disso, não há clima de guerra no país. O que existe é uma polarização clara em um país onde a luta de classes fica evidente, até pela reafirmação do caráter socialista da revolução bolivariana.
Pelo que pudemos ver, o mar de gente que tem acompanhado Chávez em todo o país não deixa margem sobre qual seria o destino se a oposição reiterasse no erro – como já fez em outras oportunidades – e ir além nas maquinações de cenários desestabilizadores. “Esperamos que a oligarquia extrema possa entender que não tem força para desestabilizar a Venezuela, porque veria a aliança cívico-militar que tem essa nação, com o povo na rua e a força nacional bolivariana fiel à Constituição”, sublinhou Cabezas.
Para o presidente Chávez, a hora é de somar todos os venezuelanos e isolar os apátridas, “os que querem retroceder o país aos tempos de colônia dos Estados Unidos, os que querem retroceder o país aos anos sombrios do neoliberalismo”. “A Venezuela avança rumo ao futuro, rumo ao socialismo. Vamos juntos, em defesa da Pátria e da Humanidade”, concluiu.