Venezuela – Alcides Castillo: “Lutaremos até vencer.”

Entrevista com o Jornalista Venezuela Alcides Castillo, coordenador general da Plataforma de Jornalistas e Comunicadores da Venezuela

Por Raul Fitipaldi, de Florianópolis, e a colaboração de Tali Feld Gleiser, de Santo Domingo, para Desacato.info 

Desacato – Que simboliza para o jornalismo libertário o assassinato do colega Ricardo Durán?

Alcides Castillo – Sem dúvida que é uma perda importante, mas, na Venezuela depois do triunfo do Comandante Hugo Chávez não se produziu agressão nem assassinato contra jornalista algum, independentemente de sua posição político-ideológica. Durante a chamada Quarta República houve agressões físicas contra jornalistas, demissões e julgamentos militares contra colegas. O que aconteceu com Ricardo Durán é um assassinato a mando de alguém, uma ação de sicários. Por isso nós solicitamos das autoridades esclarecer este caso, pois não se trata de um roubo ou assalto.

D – Em que situação se encontra o jornalismo bolivariano para dar resposta à nova onda de direita que atinge à Venezuela através do Parlamento Nacional e na Argentina a partir do Executivo presidido por Mauricio Macri?

AC – Nossos meios atuam cada um de forma independente. Não tem articulação entre eles. Cada diretor ou chefe de meios é autônomo e o Ministério de Comunicação e Informação até hoje nada tem feito para solucionar a situação. Como Plataforma de Jornalistas elaboramos uma Política Comunicacional que levanta todas as falhas e problemas que tem nosso sistema de meios públicos.

Trata-se de comunicar a política do nosso Governo e deixar aquela prática burguesa de que o “tempo em televisão e rádio é ouro”, com o qual não deixam que um entrevistado explique a fundo os problemas que vive o país e suas soluções. Somos autocríticos e críticos, as máximas revolucionárias para poder avançar, do contrário, ficaremos estagnados. Depois da derrota eleitoral de 6 de dezembro passado se realizaram várias assembleias de jornalistas e comunicadores para fazer propostas sobre a Política Comunicacional, mas hoje o Ministro Luis José Marcano (Ministério de Comunicação e Informação) fala de novos encontros. É um caso de nunca acabar.

D – Você diria que a mão da SIP – Sociedade Interamericana de Imprensa – é aríete deste crescimento da direita neoconservadora e pró norte-americana?

AC – A SIP é parte do problema, não todo o problema. Além deste organismo empresarial retrógrado e reacionário, está a mão do imperialismo ianque através da chamada “guerra psicológica” que utiliza seus meios como “Exército de Conquista” para alienar a sociedade, para manipular e esconder a verdade. Macri e o presidente da Assembleia Nacional venezuelana, Henry Ramos Allup, ou a chamada MUD, Mesa de Unidade Democrática na Venezuela, não são mais do que seus peões para derrocar governos progressistas.

D – São suficientes TeleSUR, Venezuelana de Televisão, YVKE Mundial e a Rede de Rádios, Canais e Imprensa Gráfica Comunitária para enfrentar os monopólios de Cisneros e seus associados repetidores?

AC – Acredito que sim são necessários. O que falta é conteúdo revolucionário e sua articulação para que o povo tome consciência do seu papel histórico. Faz falta conteúdo, jornalismo de investigação e sua divulgação não só para o nosso país, senão para todo o mundo através das nossas embaixadas.

D – Quais são os pontos estratégicos mais importantes que traça a Plataforma de Jornalistas Independentes da Venezuela na atual conjuntura?

AC – A educação e organização dos jornalistas, tanto profissionais como comunitários e populares, para avançar na organização do nosso povo. Na Venezuela tanto os jornalistas como suas organizações são respeitadas pela maioria. Por isso nosso empenho em resgatar as organizações gremiais e sindicais das mãos da direita. O Colégio Nacional de Jornalistas e o Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Imprensa são organizações chaves para a organização dos jornalistas e demais trabalhadores. Temos avançado bastante neste caminho do resgate de ambos os grêmios.

D – Qual é a possibilidade real de que a direita opositora e amplamente majoritária no Parlamento Nacional derrube com instrumentos constitucionais o governo do Presidente Nicolás Maduro?

AC – As possibilidades são certas, pois o referendum é constitucional e legal, só que a direita não tem o povo, nem exército nem a polícia, mas, sim o apoio do imperialismo e a direita internacional. As manifestações de repúdio ao presidente fascista da Assembleia Nacional (Congresso) são uma demonstração de força do povo revolucionário organizado. Cada vez que tem sessão no parlamento os protestos crescem fora do recinto dos deputados. O roteiro da direita segue o seu curso, mas enfrentarão um povo que não quer marcha atrás.

D – As medidas econômicas tomadas dias atrás pelo Presidente terão eco positivo na sociedade venezuelana mais empobrecida?

AC Enquanto os anúncios não se concretizam nada será positivo. Com anúncios você não vai ao mercado, diz nosso povo. Sabemos que a “guerra econômica” tem feito um dano enorme ao processo, mas é preciso deixar os anúncios e passar à ação.

D – Sente você como jornalista comprometido a ausência física do Comandante Hugo Chávez Frías?

AC – Com certeza, Chávez era um político e comunicador nato, mas, mais do que a constatação da sua ausência física, trata-se de continuar a luta por seu legado, seus ideais. Lênin faleceu 7 anos depois de dirigir e assumir através dos “sovietes”, e a revolução continuou até que chegou uma direção reformista ou, como se dizia na época, “revisionista”.

D – Colega Alcides Castillo, deixe-nos suas considerações finais, por favor.

AC – O importante é desmontar a agressão do imperialismo ianque e a direita internacional, ou seja, o fascismo contra os povos do mundo que lutam pela sua liberdade. A Venezuela é uma nação que ama a liberdade, a independência e a soberania, e assim lutaremos até vencer. Somos herdeiros da resistência indígena, de homens como Simón Bolívar, Antonio José de Sucre, do Che e de nossos e nossas guerrilheiras que nos anos 60 pegaram o fuzil para libertar nossa pátria. Assim seguimos uma grande porção de venezuelanas e venezuelanos, prontos para seguir o caminho que traçaram nossos antepassados.

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