Velha câmara de vereadores, espaço nosso!

Por Elaine Tavares.

Florianópolis é uma cidade na qual a cultura popular vive mesmo é escondida pelas ruelas, becos e cantões. Andando pelo centro quase nada se vê. Pouca coisa diz do nosso jeito de ser. O que pontifica é a Casa do Artista Popular, na Alfândega, que é coisa bem legal, mas apenas espaço de vendas. Não é lugar de encontros.
Até alguns anos atrás, a Praça XV era um pouco esse lugar. Ali estavam os artesãos com suas belezas feitas à mão, suas flautas, suas melodias. Sob a figueira centenária a gente passeava, sentava, conversava, ficava à toa, só fruindo. Mas, a então prefeita Ângela Amin resolveu “limpar” o centro e expulsou – com a força bruta – os artesãos. Muitos foram embora e os que ficaram foram confinados às barraquinhas de lona, em outros espaços. A praça ficou vazia de vida, perdeu seu encanto e até a figueira chorou. O colorido da vida deu lugar a aridez.
As ruas do centro não oferecem lugares de encontro para quem não queira consumir. São feitas para carros. E os calçadões são apenas corredores de compras. É incrível observar que numa cidade dita turística, a histórica rua Felipe Schmidt não tenha um único lugar onde as pessoas possam ficar à larga, quietas, observando as gentes a passar. O que havia antes era o Senadinho, com suas mesas vermelhas, nas quais a gente se deixava ficar olhando os passantes, jogando conversa fora, mofando a pomba na balaia, quando muito tomando uma cerveja ao fim da tarde. Mas, agora, as mesas foram proibidas, assim como os bancos (de sentar, explique-se). Não se pode parar nas ruas de comércio. É só o andar frenético das compras. Salvam-se algumas mesinhas de dominó, expressão ainda viva da cultura do Desterro.
Cidades como Montevidéu, Buenos Aires, Madrid, Bilbao, Paris, Rio de Janeiro, Lisboa, enfim, qualquer dessas que se prestam ao passeio e ao turismo, tem como política justamente esse deixar-se ficar às ruas, com seus bocados típicos, sua música, sua beleza, suas gentes, sua cultura. Mas Florianópolis não. Não há um banco sequer ao longo dos calçadões e, aos pobres, o melhor é que fiquem lá no terminal de ônibus.
Outro dia andava eu, distraída, e vi o grande prédio da antiga Câmara de Vereadores. Ali está, bem em frente à Praça, escondido atrás de tapumes, há anos, se desfazendo. Um lugar belíssimo para uma casa de cultura, que abrigasse a arte, o teatro, o cinema, um café com mesinhas na rua, nas quais as pessoas pudessem ficar sem a pressão do consumo. Pois ali está, um espaço público entregue às moscas enquanto a gente vive tão carente de ambientes de encontro. A cidade precisava fazer essa luta pela vivencialidade. Os espaços que têm são privados e caros. E a gente merece um lugar bonito, cheio de coisas belas, gratuitas ou quase, para a pura fruição.
Assim que reivindico o casarão cor-de-rosa para nossa vida comum. E conclamo a todos os artistas, músicos, artesãos, gente da cultura a encampar essa luta. Assim como interpelo o Dário: Diz aí prefeito, pode ser ou tá difícil? Que o poder público restaure a Câmara e permita que a gente possa sentar em prosaicos banquinhos no calçadão, fruindo a cidade. Afinal, a cidade é nossa, ou não?

Imagem tomada de: abobado.wordpress.com

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