Por Douglas F. Kovaleski para Desacato. info.
Santa Catarina superou na segunda-feira 07/12/2020 as 4.000 (quatro mil) mortes devido à covid-19. Leitos de UTI lotados em quase todas as regiões do estado, transmissão crescente, medidas de distanciamento, desinfecção de mãos e uso de máscara sendo desrespeitadas o tempo todo e o governo de Santa Catarina decreta uma restrição das 12:00h às 05:00 da manhã enquanto o governo federal segue firme no negacionismo da pandemia. Vale lembrar que SC, diferente de outros estados brasileiros, não tem nenhum plano de imunização ou tratativa de compra de vacinas.
É nessa hora que os governantes, em especial o Sr Carlos Moisés, precisam ser questionados. Será essa pequena restrição de circulação suficiente para conter a pandemia? Certamente não, principalmente para os trabalhadores e trabalhadoras que mantem os setores da sociedade vivos e atuantes. Veja, agora é o momento de serem decretadas medidas drásticas de contenção da circulação, proibição de eventos e aglomerações em geral, pois não há nenhuma perspectiva de melhora no quadro epidemiológico no curto prazo, sendo assim teremos um final de ano com muitos dos nossos entes queridos na UTI e muitas mortes acontecendo.
Vale lembrar que a vacina ainda não é uma realidade para o Brasil e mesmo que fosse, leva tempo até vacinar todos e a imunização de fato das pessoas vacinadas leva tempo. Vale lembrar também que não há remédio eficaz contra a covid-19. Por isso volto a apelar para que todas e todos mantenham uma higienização rígida das mãos, mantenham o distanciamento social, cuidem com a sola do sapato para entrar em casa e evitem ao máximo circular de maneira desnecessária.
Reino Unido, Estado Unidos e outros países já estão fazendo vacinação em massa nessa semana (14-20/12/20), o problema é que a vacina no Brasil deve demorar muito mais do que em outros países para ser aplicada. Mas por quê? Afinal, temos recursos e conhecimento de sobra para proteger o povo dessa pandemia, além de experiência e uma rede de atenção primária, por meio dos postos de saúde por todo o território do Brasil. O atraso da vacinação decorre do negacionismo que é cortina de fumaça para a incapacidade técnica, para a ignorância e para a histórica desvalorização das vidas dos trabalhadores(as) pobres que as elites brasileiras reproduzem.
Na quinta-feira dia 10 de dezembro o governo brasileiro mandou o plano de imunização para o STF, a pedido deste, onde arrolou 13 vacinas para fazer a imunização, dentre elas a Coronavac, feita em parceria com laboratório chinês. Segundo o envio do governo federal, já estariam garantidas 300 milhões de doses para imunizar a população brasileira, no entanto faz uma ressalva de que parte desse montante ainda está em negociações.
Com um governo que sequer fornece as informações sistematizadas do número de casos e mortes pela covid-19, onde o próprio presidente nega a necessidade da vacinação para todos e é obrigado pelo judiciário a fazer um plano de vacinação para seu povo, não podemos esperar nenhum lampejo de humanidade ou civilidade. Precisamos ficar atentos e mobilizados em defesa da vida.
Estamos muito atrasados na vacinação, seremos um vexame internacional se a gestão da pandemia não melhorar, se não acabarmos com o negacionismo e principalmente se a vida não for valorizada, pois esse desprezo com a vida das pessoas pode custar milhares de vidas e uma piora ainda maior das condições de vida dos sobreviventes.
Douglas Francisco Kovaleski é professor da Universidade Federal de Santa Catarina na área de Saúde Coletiva e militante dos movimentos sociais.
A opinião do/a autor/a não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.
