Os dias 10 e 11 de dezembro foram quentes em Juazeiro, na Bahia mas os quase 40 graus não foram suficientes para desanimar os 150 atingidos da região que participavam do Encontro Regional do Movimento dos Atingidos por Barragens do Vale do São Francisco. O Encontro reuniu os atingidos pela Barragem de Sobradinho, por Itaparica e os ameaçados pelas Barragens de Riacho Seco e Pedra Branca, de seis municípios. Foram dois dias de avaliação, estudos, planejamento e confraternização, realizados na Univasf. Entidades parceiras estiveram presentes durante toda a realização do Encontro, como o DCE das Univasf, o MPA, o SINDAE, a MMM, o Levante Popular da Juventude, o MST, o IRPAA, e outros.
Direitos humanos dos atingidos
Na mesa sobre os Direitos dos Atingidos, durante a tarde de sábado, Dona Magnólia, moradora do município de Sobradinho relembrou as tristezas e violações que viveram e vivem até hoje os atingidos por Sobradinho. “Barragem é uma farsa, acaba com a vida dos pais de família que já não tem nada para melhorar a vida dos poderosos. Ali não tem só água, tem sague, carne e osso enterrado embaixo daqueles escombros”, lamenta.
Já a experiência de Itaparica traz os a importância dos aprendizados tirados após o sofrimento em Sobradinho. Ali os atingidos conseguiram fazer a luta. Aurelio Charle, atingido por Itaparica, conta que a resistência dos atingidos no período da implantação da barragem garantiu alguns direitos, como o reassentamento em projetos de irrigação. Ele explica que depois do que a Chesf fez com os atingidos por Sobradinho, Itaparica aprendeu alguns pontos importantes para fazer a luta. “Fulgêncio era uma liderança na região. Ele ia pra fora conhecer as experiências de resistência em outros estados do Brasil, voltava e passava tudo pra nós, fazíamos reuniões e estávamos organizados. Com isso obtivemos várias conquistas, como os reassentamentos”, relata o atingido.
Outra região do vale em que o MAB está organizado é no estado de Pernambuco, com a ameaça das Barragens de Rio Seco e Pedra Branca. Caso implantadas, elas irão impactar mais de 10 territórios quilombolas e pelo menos 5 municípios. Os municípios de Santa Maria da Boa Vista, Orocó e Curaça estão organizados no MAB pela resistência às barragens. Fernanda Rodrigues, moradora da comunidade quilombola de Cupira, conta que a intensa formação necessárias para os atingidos conhecerem a aprenderem a fazer a luta foi fundamental para entender outros direitos, como acesso à saúde, energia e água. “Estudando na luta com o MAB aprendemos sobre nossos direitos, e assim conseguimos lutar por ainda mais coisa. As nossas comunidades melhoraram muito após esse salto de consciência que demos, hoje sabemos exigir direitos de atingidos e quilombolas”, declara.
A mesa de Direitos Humanos foi um ótimo complemento da mesa de conjuntura, feita por Moisés Borges, da Coordenação Nacional do MAB, e Emile Sampaio, da Consulta Popular. “O golpe é contra nós, não só contra Dilma ou o PT. Quando vemos essas violações isso fica ainda mais claro”, pontua Moisés.
Cultural é política
Momento cultural foi ponto alto do dia. O atingidos se animaram com apresentação de danças, Samba de Véio de Sento-Sé, e Dança Afro de Ororcó, além de shows musicais. A banda Xerim e Xiqueiro levantou poeira com forró, e atingidos de todos os municípios de reuniam em torno dos instrumentos e davam o exemplo de como é possível a improvisação dar certo.
Ciranda é a energia do movimento
Embaixo de altas árvores estavam 23 crianças atingidinhas do Vale. Enquanto suas mães e pais estavam na plenária estudando, elas também ali buscavam entender a realidade de atingidos da qual fazem parte, debatiam o que falta na comunidade e o que querem para o futuro. Com técnicas pedagógicas, as cirandeiras e cirandeiros ajudavam as crianças nessa tarefa, que resultou em uma apresentação com palavras de ordem, música e desenhos de direitos pelos quais lutas os atingidinhos.
Atingidos rumo ao 8º Encontro Nacional
O domingo foi de preparação. Os municípios de reuniram para pensar nas necessidades da região para a participação dos atingidos do Vale no Encontro Nacional, que será realizado em outubro de 2017 no Rio de Janeiro.
Os maiores desafios encontrados foram transporte e alimentação, mas isso não assustou os presentes. Ficou definida a realização de muitas atividades ao longo do ano para arrecadação de fundos para o Encontro Nacional. Serão bingos de bode, sorteios diversos, apresentações artísticas, vendas de produtos, e até festas. Além disso, os atingidos se comprometeram a fazer o convite e levar a animação conquistada no Encontro Regional para as comunidades.
“Já conheço o MAB há uns dois anos, mas agora que estou participando das atividades. Estou gostando cada vez mais, e agora já me sinto parte. Quero ir e ajudar no Encontro Nacional, e também quero estar com o MAB o ano todo”, anima-se a atingida Renata Nizia.
Fonte: MAB.