Uruguai: Agente dos EUA no Mercosul?

 Por Juan Luis Berterretche.

(Português/Español).

A DEA já dirige a pretensa guerra contra a droga no Uruguai? 

A pergunta do título tem como objetivo esclarecer o grau de penetração das nefastas “Agências” estadunidenses no país. Porque se a DEA já não dirige a falsa guerra contra a droga no Uruguai está no caminho certo de fazê-lo.

Outra pergunta que deveríamos fazer-nos é, onde e como se aprovou o reingresso da DEA no país? Tenho a suspeita de que cena – afins de agosto 2012- na residência da embaixadora dos Estados Unidos, Julissa Reynoso onde aconteceram o presidente José Mujica, o ex-presidente Tabaré “FMI-Bush” Vázquez, o ministro do Educação, Ricardo Ehrlich e o reitor da Universidade da República, Rodrigo Arocena / 1. – quem (quem te viu e quem te vê!) – deve ter tratado outros assuntos ademais do pedido do presidente para que mais estudantes universitários se capacitem nos Estados Unidos, em particular em temas vinculados à biologia aplicada às ciências agrícolas. Excelente lugar, no reino de Monsanto para capacitação em estudos agrícolas. Em que mundo vivem estes personagens? 

No concreto é que temos no país a Agência encarregada de “desenvolver a guerra contra a droga” como se fosse da família. E dizemos desenvolver por que o objetivo das agências estadunidenses que se apresentam como “inimigas do narcotráfico na realidade tem como objetivo principal criar as condições de desenvolvimento da violência armada nos países onde intervém”. A experiência no México, Colômbia, Guatemala e outros países, o comprova com clareza. Não tenho a estender-me aqui em demonstrar esta afirmação porque já tem detalhado em outra nota /2. 

Mas, é interessante mencionar que não se trata de uma política dedicada unicamente às colônias ou semicolônias. Nos EUA “a guerra contra a droga” é uma eficiente campanha racista do “sistema judicial que penaliza os homens jovens negros”. / 3. Em 2010 Michele Alexander publicou um livro dedicado ao novo racismo e encarceramento massivo dos jovens afro-americanos. Nele demonstra que a discriminação racial sistemática nos EUA tem recomeçado trás as conquistas do movimento de direitos civis. O recomeço se “justifica” na guerra contra as drogas e outras políticas governamentais e está tendo devastadoras consequências sociais / 4. Uma década antes que M. Alexander, Loïc Wacquant / 5 –fundador do grupo de ativistas acadêmicos franceses “Raisons d’agir” – escreveu Les prisons de la Misère onde relaciona a “guerra contra a droga” e a perversa “tolerância zero” de William Bratton / 6 com um plano de repressão institucional violenta contra a miséria que a própria crise estrutural crônica do Capital, provoca.

O resto todo demonstra, por se for preciso, que “a guerra contra a droga” não tem como objetivo combater o delito senão fazer uma guerra constante contra os pobres, os desempregados, os marginados, os excluídos da ordem econômica neoliberal.

Ao que se acrescenta a oportunidade de uma promoção global da venda e do tráfico de armas. Não esqueçamos que 95% das armas com que se maneja o cartel dos narcos no México provém dos EUA e mais diretamente da operação “Rápido e Furioso” da sua Agência de Controle de Armas e Tabaco (ATF, pela sua sigla em inglês). O tráfico no México representa 10% do negócio mundial de armas ilícitas, segundo as Nações Unidas.

O mesmo papel de desenvolvimento do complexo industrial-militar que cumprem as intervenções militares de EUA-OTAN em vários continentes, na América Latina, os desempenha a suposta “guerra contra a droga.

É importante salientar que Uruguai não tem a importância da Colômbia ou do México em relação à “guerra contra a droga”. A Colômbia é o principal produtor de coca no continente. E as sete bases militares dos EUA nesse país, garantem –entre outras coisas- que os mais de 7 milhões de adictos à cocaína em seu território, recebam sua dose. O México é o corredor da droga colombiana (e peruana) até EUA e esses países são as principais colônias continentais exploradas pelas transnacionais estadunidenses.

Mas, Uruguai, apesar de sua menor importância econômica, pela sua inserção no Mercosul, sua localização geográfica e a manifesta tendência do governo da Frente Ampla a se subordinar ao imperialismo tem como perspectiva transformar-se na principal base de operações das Agências estadunidenses no Cone Sul.

Vários fatos políticos nos últimos anos indicam que o governo uruguaio tem enfileirado por esse caminho:

*A meados de março de 2010 o ex-ministro uruguaio de defesa nacional, Luis Rosadilla, viajou ao EUA para participar em um congresso anual sobre antiterrorismo organizado pela OEA. Habitualmente à reunião de técnicos assistem vice-ministros ou funcionários de alto nível, mas, o Governo uruguaio decidiu a viagem de Rosadilla para “devolver o gesto” da Administração do presidente Barack Obama ao enviar sua secretária de Estado, Hillary Clinton, à cerimônia de investidura de Mujica como presidente.

* Em 16 de março de 2011 o ex-ministro de defesa Luis Rosadilla e o subsecretário adjunto de defesa estadunidense para o Hemisfério Ocidental, Frank Mora, assinaram um acordo de cooperação bilateral estratégico para os dois países.

* Do 15 de maio a 15 de junho de 2012 uma equipe de treinamento móvel dos SEALs estreou o Corpo de Fuzileiros Navais (FUSNA) em intervenção de navios no mar. O FUSNA é uma instituição de funesta memória por ter sido um dos principais centros de tortura da Ditadura (1973-1985). Os SEALs é um comando de assassinos profissionais dedicados exclusivamente às supostas ações “antiterroristas”. Em 2 de maio de 2011, estes comandos junto com agentes da CIA, realizaram a execução extra-judicial de Osama Bin Laden no Paquistão.

* Na reunião efetuada no México da Aliança do Pacífico, em agosto de 2012 se aceitou a incorporação do Uruguai como país observador, já que tinha feito o pedido de ingresso nessa qualidade, em julho do mesmo ano. Trata-se de um bloco comercial integrado pelo México, Colômbia, Peru e o Chile que se formou como alternativa pró EUA à ALBA e ao Mercosul.

* Em meados de novembro de 2012 o Executivo enviou ao Parlamento o projeto de Lei pertinente ao “Acordo para a aquisição de suprimentos e a prestação recíproca de serviços entre o Ministério de Defesa Nacional e o Departamento de Defesa dos Estados Unidos”. Segundo o expressado sua finalidade é facilitar o apoio logístico que se utilizará durante os exercícios combinados, adestramentos, deslocamentos, escalas, operações ou em circunstâncias imprevistas.

* O discurso do presidente Mujica na sede da central de trabalhadores (PIT-CNT) na segunda-feira, 3 de dezembro passado, na defesa do capitalismo, chamando os trabalhadores a não superar os limites do dito sistema, vai além de qualquer antecedente político retrógrado da Frente Ampla. Mais ainda quando nenhum dirigente do PIT-CNT manifestou objeções a essa orientação reacionária. Sem lugar a dúvidas era uma mensagem oblíqua aos EUA. A intervenção do presidente luziu seu clássico estilo paroquiano /7 com vários giros linguísticos populares ao modo dos caudilhos brancos do interior da república, fazendo lembrar o inefável Nano Pérez de Cerro Largo.

* A fins de dezembro de 2012, quando se votou no Parlamento uruguaio a continuidade da participação de tropas na força de ocupação da Minustah no Haiti, um deputado denunciou que aos militares do Uruguai se lhe adjudicou a patrulha da costa para interceptar o narcotráfico, tarefa que nada tem que a ver com necessidades do povo haitiano senão com interesses estadunidenses. Na realidade, nem a suposta patrulha se realiza: os militares desmantelam a metralhadora da lancha e vão de turismo aos bordéis de República Dominicana.

* No discurso inaugural da VII Reunião Ministerial da Zona da Paz e Cooperação do Atlântico Sul (ZOPACAS) em 15 de janeiro de 2013 em Montevidéu, o ministro de relações exteriores do Uruguai, Luis Almagro expôs: “Gostaria destacar neste sentido, que nosso país tem formado parte de contingentes multilaterais esparramados em Moçambique, Angola e, atualmente, no Congo. Com o anseio de contribuir com um esforço coletivo por consolidar a paz e recriar condições de desenvolvimento nos países que o estão necessitando. Uruguai continuará participando nas operações de manutenção da paz dentro do marco multilateral das Nações Unidas; e este é precisamente um dos elementos que temos colocado de relevo para aspirar a ocupar um lugar como membro não permanente do Conselho de Segurança nos anos 2016 e 2017.” Com a promessa de um lugar –permanente- no Conselho de Segurança, ao Lula, EUA o enrolou durante seus dois mandatos. Mas, nossos governantes, umbilicais contumazes são incapazes de aprender da política internacional.

* Maria Otero, subsecretária de Segurança Cidadã, Democracia e Direitos Humanos da administração Obama de visita ao Uruguai em 17 de janeiro de 2013 afirmou: “Para o governo norte-americano, Uruguai, na região, é o líder em democracia e direitos humanos, ademais de ser um importante referente mundial”. Nesse sentido, e através dela, o governo norte-americano ofereceu assistir Uruguai fornecendo fundos para um programa de avaliação do setor carcerário. Tema onde eles são “expertos”: com o 5% da população mundial possuem o 25% de todos os presos do Planeta (2,3 milhões); a taxa maior de encarceramentos per cápita do mundo e as mais cruéis condições carcerárias. Quiçá os “desinteressados” estadunidenses, estejam fazendo mérito para a licitação da cárcere público/privada que planeja o governo.

* É possível que tenham fugido de mim outras genuflexões, mas, acredito que como esta lista está de bom tamanho.

Blitz da política com “agentes” não identificados da embaixada estadunidense 

Todos estes fatos políticos que enumeramos são sintomas muito preocupantes das intenções de submissão do governo da Frente Ampla aos EUA. Mas, a semana passada a situação sobrepassou todas as presunções. Na noite da quarta-feira 16 de janeiro policiais uruguaios em veículos da embaixada dos EUA com o acompanhamento de “agentes” estrangeiros, interceptaram um jovem para pedir-lhe documentos. O fato aconteceu na rua Bolonia no bairro de Carrasco e o interceptado resultou ser o representante da juventude da diretoria do Partido Nacional, Gonzalo Baroni. Segundo Baroni os estrangeiros “tinham pinta de marines” e estavam uniformados. Policiais e “agentes” estadunidenses. 

Depois de varias contradições iniciais dos hierarcas policiais, a versão oficial se emitiria na sexta-feira 18 de janeiro: a embaixadora dos Estados Unidos, Julissa Reynoso, e o ministro interino do Interior, Jorge Vázquez, confirmaram a presença de policiais uruguaios no serviço de segurança das embaixadas e aceitaram que os agentes circulem em veículos destinados para uso diplomático.

O incidente não tem a ver com o serviço de segurança que a polícia presta às embaixadas ou aos diplomatas. Trata-se de uma blitz pedindo documentos aos pedestres pela rua onde participam policiais uruguaios e “agentes” estrangeiros não identificados do “corpo diplomático” estadunidense. A embaixatriz Reynoso aceitou que lhe prestam os veículos aos policiais uruguaios e negou que houvesse funcionários estadunidenses no operativo. Que outra desculpa poderia se esperar?

Pode se deduzir que depois que a foto emitida pela imprensa, de agentes da DEA e policiais uruguaios na rua na produziu nenhuma reação da cidadania, os estadunidenses concluíram: “nesta republiqueta fazemos o que nos dá na telha”. Devemos ser conscientes de que se tratou de uma passada de mão pública e aberta na soberania. E um incidente deste tipo deveria ter como resultado imediato a remoção do ministro do interior e seu interino. Mas, não nos iludamos. O principal é o ensinamento que deixam estes acontecimentos: o governo tem intenções de entregar a pretendida “guerra contra a droga” às Agências estadunidenses e está flertando com o império para atuar como agente dos EUA no Cone Sul.

Há que reconhecer que Dan Anthony Mitrione era muito mais prudente e discreto que os novos “agentes” da embaixada: desenvolvia sua cátedra de tortura num porão com bom isolamento de som em uma casa de um bairro de Malvín. Mas… lamentavelmente essas virtudes não lhe serviram para grande coisa.

20 01 2013

Notas

1/ Dirigente da FEUU nas lutas democráticas estudantis em 1968, quando a federação de estudantes universitários ainda mantinha uma postura anti-imperialista

2/ Ver A Guerra é o principal objetivo da guerra Desacato.info 14 12 2012, Posta Porteña 15 12 2012, Rebelión.org 17 12 2012, LaHaine.org 15 12 2012

3/ Avi Chomsky, entrevista de Raúl Zibechi para semanário Brecha 09 09 2012. 

4/ Michelle Alexander, The New Jim Crow: Mass Incarceration in the Age of Colorblindness (El encarcelamiento masivo en la era del daltonismo). The New Press, 2010, EUA.

5/ Loïc Wacquant Les prisons de la misére Éditions Raisons D’Agir, novembro de 1999. Em português: Os cárceres da miséria. Em espanhol: Las cárceles de la miseria. Ediciones Manantial SRL. 2000.Wacquant é pesquisador do Centre de Sociologie Européenne do Collège de France, professor associado na Universidade de California-Berkeley e professor convidado em outras várias cidades do mundo.

6/ William Bratton, ex-chefe da policía de Nova Iorque e progenitor da “Tolerância Zero” afirma: “o dsemprego não está relacionado com o delito”…“a causa do  delito é o mau comportamento dos indivíduos e não a consequência de condições sociais” Este gênio da sensibilidade social foi convidado pelo ministro dointerior Bonomi para que o assessore em “tolerância zero”.

7/ Atrevo-me a usar este adjetivo apesar do ultrapassado que possa parecer, porque a última vez que passei por Montevidéu comprovei que existia um programa na TV aberta dedicado à cinematografia de Cantinflas – ator popular mexicano. Suas desopilantes conversas absurdas têm grande semelhança com as oratórias e os ditados do presidente. Para mim, a imbatível é sua versão trunca da dialética de Hegel: “como te falo uma coisa, te falo a outra”.

Versão em português: América Latina Palavra Viva.

 

¿La DEA ya dirige la pretendida guerra contra la droga en Uruguay?

Por Juan Luis Berterretche.

La pregunta del título tiene como objetivo clarificar el grado de penetración de las nefastas “Agencias” estadounidenses en el país. Porque si la DEA ya no dirige la falsa guerra contra la droga en Uruguay está en camino cierto de hacerlo.

Otra pregunta que deberíamos hacernos es ¿dónde y cómo se aprobó el reingreso de la DEA en el país? Tengo la sospecha que la cena -a fines de agosto 2012- en la residencia de la embajadora de Estados Unidos, Julissa Reynoso donde concurrieron el presidente José Mujica, el ex presidente Tabaré “FMI-Bush” Vázquez, el ministro de Educación, Ricardo Ehrlich y el rector de la Universidad de la República, Rodrigo Arocena /1 – (¡quién te ha visto y quién te ve!)- debe haber tratado otros asuntos además del pedido del presidente para que más estudiantes universitarios se capaciten en Estados Unidos, en particular en temas vinculados a la biología aplicada a las ciencias agrícolas. Excelente lugar, en el reino de Monsanto para capacitación en estudios agrícolas. ¿En qué mundo viven estos personajes?

Lo concreto es que tenemos en el país a la Agencia encargada de “desarrollar la guerra contra la droga” como Perico por su casa. Y decimos desarrollar por qué el objetivo de las agencias estadounidenses que se presentan como “enemigas” del narco-tráfico en realidad tienen como objetivo principal crear las condiciones de despliegue de la violencia armada en los países donde intervienen. La experiencia en México, Colombia, Guatemala y otros países, lo comprueba fehacientemente. No voy a extenderme aquí en demostrar esta afirmación porque ya lo he detallado en otra nota /2.

Pero es interesante mencionar que no se trata de una política dedicada únicamente a las colonias o semi-colonias. En EEUU “la guerra contra la droga” es una eficiente campaña racista del “sistema judicial que penaliza a los varones jóvenes negros” /3. En 2010 Michelle Alexander publicó un libro dedicado al nuevo racismo y al encarcelamiento en masa de los jóvenes afro-americanos. En él demuestra que la discriminación racial sistemática en EEUU se ha reanudado tras las conquistas del movimiento de derechos civiles. La reanudación se “justifica” en la guerra contra las drogas y otras políticas gubernamentales y está teniendo devastadoras consecuencias sociales /4. Una década antes que M. Alexander, Loïc Wacquant /5 -fundador del grupo de activistas académicos franceses “Raisons d’agir”- escribió Les prisons de la Misère donde relaciona la “guerra contra la droga” y la perversa “tolerancia cero” de William Bratton /6 con un plan de represión institucional violenta contra la miseria que la propia crisis estructural crónica del Capital, provoca.

Todo esto demuestra, por si aún fuera necesario, que “la guerra contra la droga” no tiene como objetivo combatir el delito sino librar una guerra sin cuartel contra los pobres, los desocupados, los marginados, los excluidos del orden económico neoliberal.

A lo que se agrega la oportunidad de una promoción global de la venta y del tráfico de armas. No olvidemos que el 95% de las armas con que se maneja el cartel de los narcos en México proviene de EEUU y más directamente de la operación “Rápido y Furioso” de su Agencia de Control de Armas y Tabaco (ATF, por su sigla en inglés). El tráfico en México representa 10% del negocio mundial de armas ilícitas, según Naciones Unidas.

El mismo rol de desenvolvimiento del complejo industrial-militar que cumplen las intervenciones militares de EEUU-OTAN en varios continentes, en Latino América, los desempeña la supuesta “guerra contra la droga.”

Uruguay: ¿agente de EEUU en el Mercosur?

Es importante recalcar que Uruguay no tiene la importancia de Colombia o México en relación a “la guerra contra la droga”. Colombia es el principal productor de coca en el continente. Y las siete bases militares de EEUU en dicho país, garantizan -entre otras cosas- que los más de 7 millones de adictos a la cocaína en su territorio, reciban sus dosis. México es el corredor de la droga colombiana (y peruana) hacia EEUU y dichos países son las principales colonias continentales explotadas por las transnacionales estadounidenses.

Pero Uruguay, a pesar de su menor importancia económica, por su inserción en el Mercosur, su ubicación geográfica y la abierta tendencia del gobierno frenteamplista a subordinarse al imperialismo tiene como perspectiva transformarse en la principal base de operaciones de las Agencias estadounidenses en el Cono Sur.

Varios hechos políticos en los últimos años indican que el gobierno uruguayo ha enfilado por ese camino:

* A mediados de marzo de 2010 el ex-ministro uruguayo de defensa nacional, Luis Rosadilla, viajó a Estados Unidos para participar en un congreso anual sobre antiterrorismo organizado por la OEA. Habitualmente a la reunión de técnicos concurren viceministros o funcionarios de alto nivel, pero el Gobierno uruguayo decidió el viaje de Rosadilla para “devolver el gesto” de la Administración del presidente Barack Obama al enviar a su secretaria de Estado, Hillary Clinton, a la ceremonia de investidura de Mujica como presidente.

* El 16 de marzo de 2011 el ex-ministro de defensa Luis Rosadilla y el subsecretario adjunto de defensa estadounidense para el Hemisferio Occidental, Frank Mora, firmaron un acuerdo de cooperación bilateral estratégico para los dos países.

* Del 15 de mayo al 15 de junio de 2012 un equipo de entrenamiento móvil de los SEALs entrenó al Cuerpo de Fusileros Navales (FUSNA) en intervención de navíos en el mar. El FUSNA es una institución de funesta memoria por haber sido uno de los principales centros de tortura de la Dictadura (1973-1985). Los SEALs es un comando de asesinos profesionales dedicados exclusivamente a las supuestas acciones “anti-terroristas”. El 02 de mayo de 2011, estos comandos junto a agentes de la CIA, realizaron la ejecución extra-judicial de Osama Bin Laden en Pakistán.

* En la reunión efectuada en México de la Alianza del Pacífico, en agosto de 2012 se aceptó la incorporación de Uruguay como país observador, ya que había hecho el pedido de ingreso en esa calidad, en julio del mismo año. Se trata de un bloque comercial integrado por México, Colombia, Perú y Chile que se formó como alternativa pro-EEUU al ALBA y al Mercosur.

* A mediados de noviembre de 2012 el Ejecutivo envío al Parlamento el proyecto de Ley pertinente al “Acuerdo para la adquisición de suministros y la prestación recíproca de servicios entre el Ministerio de Defensa Nacional y el Departamento de Defensa de Estados Unidos”. Según lo expresado su finalidad es facilitar el apoyo logístico que se utilizará durante los ejercicios combinados, adiestramientos, desplazamientos, escalas, operaciones o en circunstancias imprevistas.

 * El discurso del presidente Mujica en la sede de la central de trabajadores (PIT-CNT) el lunes 03 de diciembre pasado, en defensa del capitalismo, llamando a los trabajadores a no superar los límites de dicho sistema, va más allá de cualquier antecedente político retrógrado del Frente Amplio. Más aún cuando ningún dirigente del PIT-CNT manifestó objeciones a esa orientación reaccionaria. Sin lugar a dudas era un mensaje oblicuo hacia EEUU. La intervención del presidente lució su clásico estilo “cantinflesco” /7 con varios giros idiomáticos populacheros a la manera de los caudillos blancos del interior de la república, haciendo recordar al inefable Nano Pérez de Cerro Largo.

* A fines de diciembre de 2012 cuando se votó en el Parlamento uruguayo la continuidad de la participación de tropas en la fuerza de ocupación de la Minustah en Haití, un diputado denunció que a los militares de Uruguay se les adjudicó el patrullaje de la costa para interceptar al narcotráfico, tarea que nada tiene que ver con necesidades del pueblo haitiano sino con intereses estadounidenses. En realidad, ni el supuesto patrullaje se realiza: los militares desmantelan la ametralladora de la lancha y se van de turismo a los burdeles de República Dominicana.

* En el discurso inaugural de la VII Reunión Ministerial de la Zona de Paz y Cooperación del Atlántico Sur (ZOPACAS) el 15 01 2013 en Montevideo, el ministro de relaciones exteriores de Uruguay, Luis Almagro expuso: “Quisiera destacar en este sentido, que nuestro país ha formado parte de contingentes multilaterales desplegados en Mozambique, Angola y, actualmente, en el Congo. Con el anhelo de contribuir a un esfuerzo colectivo por consolidar la paz y recrear condiciones de desarrollo en los países que lo están necesitando. Uruguay seguirá participando en las operaciones de mantenimiento de la paz dentro del marco multilateral de las Naciones Unidas; y este es precisamente uno de los elementos que hemos puesto de relieve para aspirar a ocupar un puesto como miembro no permanente del Consejo de Seguridad para los años 2016-2017.” Con la promesa de un puesto -permanente- en el Consejo de Seguridad, a Lula, EEUU, lo tuvo a cuento durante sus dos ejercicios. Pero nuestros gobernantes, ombliguistas contumaces son incapaces de aprender de la política internacional.

* María Otero, subsecretaria de Seguridad Ciudadana, Democracia y Derechos Humanos de la administración Obama en visita a Uruguay el 17 01 2013 afirmó: “Para el gobierno norteamericano, Uruguay, en la región, es líder en democracia y derechos humanos, además de ser un importante referente mundial”  En ese sentido, y a través de ella, el gobierno norteamericano ofreció asistir a Uruguay suministrando fondos para un programa de evaluación del sector carcelario. Tema donde ellos son “expertos”: con el 5% de la población mundial poseen el 25% de todos los presos del Planeta (2,3 millones); la tasa más alta de encarcelamientos per cápita del mundo y las más crueles condiciones carcelarias. Quizá los “desinteresados” estadounidenses estén haciendo mérito para la licitación de la cárcel pública/privada que planea el gobierno.

* Es posible que se me hayan escapado algunas otras genuflexiones, pero creo que con esta lista alcanza.

Redada de la policía con “agentes” no identificados de la embajada estadounidense 

Todos esos hechos políticos que enumeramos son síntomas muy preocupantes de las intenciones de sumisión del gobierno frenteamplista a EEUU. Pero la semana pasada la situación sobrepasó todas las suspicacias. En la noche del miércoles 16 de enero policías uruguayos en vehículos de la embajada de EEUU con el acompañamiento de “agentes” extranjeros, interceptaron un joven para pedirle documentos. El hecho ocurrió en la calle Bolonia en el barrio Carrasco y el interceptado resultó ser el representante de la juventud en el directorio del Partido Nacional, Gonzalo Baroni. Según Baroni los extranjeros “tenían pinta de marines” y estaban uniformados. Policías y “agentes” estadounidenses se trasladaban en camionetas negras 4×4 Dodge con vidrios polarizados. Al joven pedirles que se identificaran, quién lo había interceptado explicó que “somos policías, estamos trabajando para la embajada de Estados Unidos y estamos haciendo una asistencia a los patrulleros y la seccional de la zona” Y lo previno: ”A partir de ahora nos vas a empezar a ver más seguido acá en la vuelta”, mientras devolvía la cédula al sorprendido Baroni. Afirmación que indica que era la primera o una de las primeras operaciones conjuntas de policía y “agentes” estadounidenses.

Luego de varias contradicciones iniciales de los jerarcas policiales, la versión oficial se emitiría el viernes 18 de enero: la embajadora de Estados Unidos, Julissa Reynoso, y el ministro interino del Interior, Jorge Vázquez, confirmaron la presencia de policías uruguayos en el servicio de seguridad de las embajadas y aceptaron que los agentes se mueven en vehículos destinados al uso diplomático.

El incidente no tiene que ver con el servicio de seguridad que la policía presta a las embajadas o a los diplomáticos. Se trata de un operativo de redada pidiendo documentos a los peatones por la calle donde participan policías uruguayos y “agentes” extranjeros no identificados del “cuerpo diplomático” estadounidense. La embajadora Reynoso aceptó que le prestan los vehículos a los policías uruguayos y negó que hubiera funcionarios estadounidenses en el operativo. ¿Qué otra disculpa podía esperarse?

Se puede deducir que luego que la foto emitida por la prensa, de agentes de la DEA y policías uruguayos en la calle no produjo ninguna reacción de la ciudadanía, los estadounidenses concluyeron: “en esta republiqueta hacemos lo que se nos canta”  Debemos ser conscientes que se trató de un manosea público y abierto de la soberanía. Y un incidente de este tipo debería tener como resultado inmediato la remoción del ministro del interior y su interino. Pero no nos hagamos ilusiones. Lo principal es la enseñanza que dejan estos acontecimientos: el gobierno tiene intenciones de entregar la pretendida “guerra contra la droga” a las Agencias estadounidenses y está coqueteando con el imperio para actuar como agente de EEUU en el Cono Sur.

Hay que reconocer que Dan Anthony Mitrione era mucho más prudente y discreto que los nuevos “agentes” de la embajada: desarrollaba su cátedra de tortura en un sótano con un buen aislamiento de sonido en una casa del barrio Malvín. Pero…lamentablemente esas virtudes no le sirvieron de gran cosa.

20 01 2013

Notas

1/ Dirigente de la FEUU en las luchas democráticas estudiantiles en 1968, cuando la federación de estudiantes universitarios aún mantenía una postura anti-imperialista.

2/ Ver La guerra es el principal objetivo de la guerra Desacato.info 14 12 2012, Posta Porteña 15 12 2012, Rebelión.org 17 12 2012, LaHaine.org 15 12 2012

3/ Avi Chomsky, entrevista de Raúl Zibechi para semanario Brecha 09 09 2012. 

4/ Michelle Alexander, The New Jim Crow: Mass Incarceration in the Age of Colorblindness (El encarcelamiento masivo en la era del daltonismo). The New Press, 2010, EEUU.

5/ Loïc Wacquant Les prisons de la misére Éditions Raisons D’Agir, noviembre de 1999. En español: Las cárceles de la miseria. Ediciones Manantial SRL. 2000.Wacquant es investigador del Centre de Sociologie Européenne del Collège de France, profesor asociado en la Universidad de California-Berkeley y profesor invitado en otras varias ciudades del mundo.

6/ William Bratton, ex jefe de la policía de Nueva York y progenitor de la “Tolerancia Cero” afirma: “la desocupación no está relacionada con el delito”…“la causa del delito es el mal comportamiento de los individuos y no la consecuencia de condiciones sociales” Este genio de la sensibilidad social ha sido invitado por el ministro del interior Bonomi para que lo asesore en “tolerancia cero”.

7/ Me animo a usar este adjetivo a pesar de lo demodé que pueda parecer, porque la última vez que pasé por Montevideo comprobé que existía un programa en TV abierta dedicado a la cinematografía de Cantinflas. Sus desopilantes peroratas absurdas tienen gran semejanza con las oratorias y los dichos del presidente. Para mí la imbatible es su versión trunca de la dialéctica de Hegel: “como te digo una cosa, te digo la otra”. 

 

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